terça-feira, 7 de abril de 2009

A MENINA QUE COLECIONAVA PORTAS

Ela colecionava portas desde que abriu a de sua casinha de bonecas... talvez não a primeira vez, mas quando lembrou que podia colecionar coisas. Mas não eram coisas qualquer, eram as coisas que ela achava serem suas. Sempre achou lindas as portas amarelas. Então as portas amarelas eram suas não importava onde estivessem!

Primeiro da casa da boneca Susie, depois da casinha do cachorro, do quarto da melhor amiga, do quadro na parede da casa de sua avó que tinha uma casinha [a portinhazinha era amarela!]... Todas as portas que a menina via e que eram amarelas, tornavam-se suas!!!

Ela viveu assim a vida infantil, depois, quando a adolescência chegou, acreditavam que as portas amarelas sumiriam de sua mente, mas não... a do primeiro emprego, a porta do chefe era amarela! O prédio tombado do lado do terreno baldio tinha uma linda porta amarela e ela a colecionou. Colocou esta porta no melhor lugar de sua coleção - fez questão, sabe-se quanta história tinha aquela porta amarela?

A menina, parou e percebeu que não colecionava só as portas amarelas. Amarelo era desculpa, porta também... o que ela gostava mesmo era da passagem... do ritual singelo e propulsor de abrir portas! Delícia!!! Sabe o gosto de tocar na maçaneta de leve, girar devagarinho, ouvir o chiadinho rouco das dobradiças, ver a luz entrar ou sair do ambiente... as portas lhe davam este gosto incomum! E só ela colecionava isso - delirante! Ela valorizava a passagem das coisas, não era só abrir portas: propunhas-se a mudar de passos. Toda vez que abrisse uma porta ganharia a oportunidade que ela lhe oferecia de ver diferente.

Embora a menina lamentasse profundamente as pessoas que temiam as portas, embora sentisse muito por todos que abriam as portas e com medo do que tinha por trás delas, não avançasse; ainda que houvesse uma multidão com medo de portas, ela jamais deixaria de abri-las! Os covardes não têm capacidade de abrir portas, de reconhecer valor dos chiados de dobraduras??? Ela sentia, mas ia seguir assim mesmo, porque descobriu que o segredo da vida é colecionar portas! E que todas as portas que ela abriu durante sua vida, eram sua por direito, pois ela teve coragem de enfrentá-las...

E esse texto é para que saibam que abrirei para sempre todas as portas que vierem, pois elas são minhas e o girar da maçaneta é o momento mais sublime que há: é quando decido continuar a caminhar, apesar das portas.

Um comentário:

BiA disse...

Nossa amei esse texto, posso também abrir portas...eu posso! E eu vou abrir portas a partir de hoje elas são minhas.