domingo, 20 de junho de 2010
BRASILÓIDES
sexta-feira, 18 de junho de 2010
NINGUÉM SENTE INVEJA
domingo, 13 de junho de 2010
ESTANQUE FLUIDEZ.
De pé a escultura precisou do barro duro e a água mole para se firmar.
O pó de argila que agora é lama se deixa moldar para nascer a forma.
A mulher que triste chora, deixa sua lágrima misturar com o pó da face maquiada.
Precisou não ser mais amada, para descobrir a forma que nasce da dor.
Duas listras na face multicolor.
O chão seco, com a garganta aberta e rachada, grita rouco para o céu – chora!
Os castelos de areia pedem ao mar – vai embora!
Dureza e moleza não dizem nada sem que estejam no lugar.
{Dedicado ao professor Roberto}
sábado, 12 de junho de 2010
PEGA, LADRÃO.
Se nasceu com o coração atrás de um tampo de vidro,
não adianta negar que ele te arde.
Embora seja duro esconder essa parte,
alguém vai partir este teu amigo.
Uma vez ele exposto desde o teu nascimento,
todos sabem o que vai nele, então.
Se não te arrancam todo o coração,
feri-lo é só questão de tempo.
Pode pular, se debater de medo agora;
antes mesmo que te arranquem a cabeça.
Não há fuga, nem nada que impeça,
quando, enfim, chegar a tua hora.
Vais querer impedir tamanho sofrimento,
fugir do que te faz amar.
Mas ele te vão roubar,
e tu vais assentir sem consentimento.
Estará ele não mais na vitrine,
mas nas barracas sujas de uma feira.
Verás a tua melhor parte inteira,
cortada e jogada num cesto de vime.
E lá todo partido o órgão,
sorrirá contente de volta.
Atravessaste de uma vez a porta
daqueles que amam sem noção.
Quebraram todo vidro e toda regra,
abriram ali um vão.
Levaram-te todo o coração,
estraçalharam o tampo à pedra!
quarta-feira, 9 de junho de 2010
O QUE FAÇO COM VOCÊ?
Brincando de saudades e inventando um querer bem que não tem, não dá para ligar de noite e te chamar de meu bem. Nem posso encaixar pronomes possessivos ao falar de ti no meio de minha fala. Eu sei que você existe, mas e daí? Nada mudou. Não há brilho a mais na manhã, horas a menos na noite, não rolo na cama, não suspiro quando viajo, nem minha voz embarga de emoção. Não mudo o caminho para te ver, não bate vontade de gastar créditos do celular; ganhei uma coisa e não te conto, para que você quer mesmo saber? Nem vai torcer. Então, o que faço com você?
Você está doente? Melhoras! Não faço chazinho, carinho, denguinho e outros inhos que a doença traz. Vai se mudar de cidade? Escolhe um bairro onde tudo é perto. Não faço cena, não me jogo no chão, nem dói o coração porque não vou te ver. Então, o que faço com você?
Não é que eu te quero mal, não é que eu não te queira, não é isso! É que você existe, eu sei, mas não soma nem subtrai, não multiplica nem divide, como vou contabilizar você em minha vida se a gente faz de conta que conta um com o outro? Você me liga ou eu te procuro e a gente se encontra no escuro, na esquina, nas quebradas e nada do que dizemos se põe num grande vão onde se deposita o futuro – é só ali, de passagem, sorrateiros, bifurcados, historinha que ninguém crê. Então, o que faço com você?
Bote fé, aliás, não bote não porque posso mudar de opinião e você esperar sem necessidade. De mim nada espere além do bem que faço a todos sem especialidade. Seu aniversário é uma data e não um acontecimento, mas deixa comigo que listarei este evento no Orkut e se der eu apareço. Jamais dividiremos uma pizza, nem lençóis, nem uma janela, nem um par de ingressos, nem a alegria de nenhum dos dois: o meu é meu, o seu é seu e o nós não conjuga o verbo ser. Se isso tudo é verdade, se não há dor, não tem saudade, me diga - por caridade - o que eu faço com você?
{Ficção}