sábado, 13 de março de 2010

ESTRANHO, TANTOS ESTRANHOS.


Há tantos caminhos, tantas vidas, tantas pessoas... há um mundo, muitos países, muitas tribos... infinitudes diversas. Eu amo todas estas diversidades e estando na Universidade posso encontrar tudo isso a todo instante. Ainda assim, ainda me intriga como temos tanta dificuldade de compreender e aceitar as diferenças.

Estava eu pensando em como nos amarramos nas menores coisas do dia a dia. Possuímos mesquinharias e achamos que são valores que entesouramos para nossa própria felicidade; ledo engano, porém, porque nos tornamos infelizes com tanto nó e tanta linha. Atamos a nossa visão na lagoa dos iguais e fazemos prateleiras para etiquetar as coisas boas e más, o certo e o errado segundo a nossa cômoda visão. Então... se o outro é pobre não podemos andar muito tempo com ele; se o outro nos parece burro, também não lhe damos muito crédito; se é homossexual, não conversamos mais do que aquele tempo hábil que aparenta não sermos preconceituosos; se ele é assim ou assado, se não pertence ao nosso mundinho, então nem imaginamos que este outro possua valores e experiências tão ricas quanto as nossas. Mas os nossos iguais é que são legais.

Homem mais velho com mulher mais nova: ela é interesseira. Mulher mais velha com homem mais novo: ele é gigolô. Roupas devem estar na moda. Desconfie de quem não bebe, não fuma, não se droga. Os cortes de cabelos são de franjão e lisos. Unhas femininas devem estar sempre pintadas. Mulher só senta de pernas cruzadas. Homem que chora demais é gay. Na praia o biquine é de lacinho. Patricinha não namora um cara alternativo. Tudo isso é uma exercício de perder a liberdade e o que é pior: tirar a do outro também. Nosso olhar é viciado, nossa opinião é muito comprada, nos vendemos para a "máquina de automatismos" e ainda fazemos discursos liberais?

Quando é mesmo que respeitaremos o outro em sua escolha? Quando olharemos o outro com alteridade? Sabe... os homossexuais têm me ensinado uma coisa interessante; eu percebi que a relação deles não tem duas coisas engessadas: a altura e a idade. Nos heterossexuais é comum [e tido como melhor, normal] que a mulher seja mais nova e mais baixa e o homem seja mais velho e mais alto. Se forem de mesmo tamanho e idade, legal. Mas nos homossexuais tanto faz. Diferença de tamanho? E daí? De idade? Que é que tem?

Não vemos que por detrás de todo ser há uma alma que pulsa tanto quanto a nossa. Busca-se em todos os atos a própria felicidade e todos têm direito a ela. Não importa por onde andemos, em que país nascemos; não importa sermos negros, falarmos inglês, comermos nachos, cantarmos flamenco e sambarmos, todos nós amamos, sofremos, gostamos de carinho e respeito. Tanto faz se pago em real ou euro, mas todos queremos uma casa e uma família [de mãe solteira, de casal gay, de amigas velhinhas, de primos que vivem juntos]. Se eu fico triste e choro, eu quero um alguém com quem contar e um índio pode querer isso também. Se alguém conta algo engraçado, vou rir; lá no Alasca deve ser assim, também. Então... diversa é a forma com a qual nos expressamos no mundo, mas sentimentos são muito mais subterrâneos e se escondem em todas as almas, independente da língua que falem.

Mesmo o mundo sendo este infinito, há coisas que são iguais. São estas, enfim, que nos dizem sermos todos da família humana. Isso um dia bastará para que todos se reconheçam iguais em essência, mesmo que agora seja viva a diferença.