quinta-feira, 23 de junho de 2011

RATOS

Hoje eu tive um sonho interessante. Eu estava numa sala e alguém estava sentado na janela desta sala; a claridade que entrava pela janela, apenas me permitia ver a silhueta desta pessoa, que embora estivesse com um "rabo de cavalo", eu não saberia lhes dizer se era homem ou mulher. Ela [a pessoa] me disse: "muitos tem mania de não se dizerem bons e comumente repetem 'não, eu não sou bom'". Depois falou: "há um rato e há um queijo, o rato pode negar ser rato e não comer o queijo, mas sempre haverá um gato". Eu entendi que não devemos negar a nossa natureza de seres bons, porque nos tornamos frágeis e vulneráveis aos "inimigos". Muitas vezes tomamos sobre nós características irreais e desprezamos a nossa essência, isso nos torna frágeis, porque assumimos as características ocas e deixamos em estado latente as nossas reais possibilidades.
Se sofremos por sermos bons e amáveis, isso não significa que devemos deixar de sermos assim para evitarmos sofrimento. Estaremos, como o rato, assumindo uma postura falsa sobre nós mesmos; deixaremos de comer o queijo, não seremos verdadeiros, mas os gatos não irão acatar que resolvemos não ser ratos. Os gatos não irão se afastar só porque não quisemos comer o queijo, fingindo não sermos mais ratos.

Só podemos lidar verdadeiramente com o que somos.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ORAL B

Jamais acreditei em príncipe encantado. E nada, até hoje, me provou que ele existe e isso não me deixa triste. Não sou uma princesa, minha voz não é meiga e não sei bordar; o que diacho faria com um príncipe ao meu lado? Também é verdade que em minha vida já apareceram alguns seres mágicos: de magia boa e de magia má. Teve gente que conseguiu transformar coisas lindas em um monte de farofa da praia do Porto da Barra, bem ali naquele lugar que parece um inferno e que um monte de homem melado de suor e barrigudo se junta para fazer churrasco de gato, ouvir arrocha, pagode e mexer com as mulheres que passam [vocês já entenderam a nojeira, mesmo sem precisar vir à Salvador]. E teve gente que foi a mão segura em momentos obscuros, foi o sorriso amigo em tempos de silêncio e vento frio.

Mesmo assim, príncipes encantados são seres especialíssimos e não podem dar sopa por aí. Eles moram no País Perfeição, no qual eu não passo nem do aeroporto se tentar entrar. Então não quero e não posso ir num lugar em que teria que endurecer a cara num sorriso pricesesco chato e venenoso. Gosto de gargalhar como uma borralheira, sambar com as criadas, comer como as camponesas e viver como aquela que não foi forjada para um princípe montado num cavalo branco alto e cheio de frescuras. Para falar bem a verdade, o máximo que já cheguei a ter de um príncipe foi quando apareceu só o cavalo. Vi o bicho sozinho pastando e pensei: "o principe tá vindo a pé, por isso o cavalo chegou antes", mas só ficou no cavalo mesmo, viu? Desisti de comprar os contos de fadas para os quais eu não fui feita, deixei o cavalo pastando com as potrancas e parti pra viver com gente. 

Baiana, cabelo crespo, unhas roídas e espinhas [tardo]adolescentes não são para príncipes, são para homens de verdade. Sim, os homens que não são dos contos, nem das fadas, são aqueles que gargalham com a borralheira e sambam um samba torto e comem como camponeses e fazem mulheres normais felizes. Eles as fazem felizes porque são como elas, mas também as deixam livres para não virarem a boneca se não quiserem. Quando elas acordam, eles dizem: "bom dia, minha linda" e elas sorriem com bafinho de tigre. Cinderela é que acorda com hálito de Oral B e as mulheres que não são de cera acordam com cabelo assanhado [no meu caso, Fiona, a esposa de Shrek].

Eu descobri que não precisava esperar por nenhum modelo - então Cauã, sem chances, meu rapaz! E nem precisei fazer promessa pra Santo Antonio, se querem saber. Prometi a mim mesma que não me faria jamais de princesa para atrair um príncipe inexistente e correr o risco de ficar sozinha por dentro e por fora. Hoje estou em paz e esse é o conto da que vos fala: sem cavalos, príncipe, princesa ou fadas. E pra não dizer que não há mágica, há sim: amor de vida real.

P.s.: eu escovo os dentes.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

[IM]PRECISO CAMINHAR

Pernas, para que as tenho? Pernas, por que não correr mundo? Pernas, e onde me andarás? Por que não pernejo o mundo e revejo o fundo das minhas vontades? Se é medo de não ter perna ou se é de descobrir que não há mundo bastante que gaste as canelas que tenho? Enquanto me calo, pergunto ou pelejo pra bater as pernas ao encontro do outro lado da ponte, planejo ou temo a altura da queda. Mas sei que minhas pernas não me levam para longe da razão, então, andar, por que não?

Pernas, eu queria dança-las. Queria, pernas, que a força que possuem, pudesse dar uma trivela neste mundo. Sustentam o peso de meu corpo e culpas; já nos metemos em tantas carreiras, tantas lutas, por que param agora assim? É medo do que possa vim de mim ou de encontrar o não de alguém? Se não correm, pelo menos, caminhem! Vão cantando pelo caminho, pernas minhas e de repente encontrarão outras pernas também.

Pernas, meio-fio é consequência da calçada e se estão na rua, melhor catar uma direção digna, mas se não encontrarem nada, subam no muro - humana é a indecisão. O medo da imprecisão é item que vem de fábrica. Não há destino certo; a vida, meninas, é um longo, acidentado campo aberto. A única coisa que vocês podem fazer é se dobrarem muitas, muitas, muitas vezes e até que chegue o tempo de ficarem esticadas, ainda há muito o que fazer. Preciso caminhar.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DAR DO QUE NÃO TEVE

Só porque você não recebeu, não significa que não saiba dar, amor é verbo que nasce com a gente. Aprendemos a ser diferentes até com o que nos pode faltar. Meu pai não teve pai, mas soube como paternar. Eu também sei ser mãe, porque dar o seio cheio de leite, afogar a criança em mimos e manter sua barriga redonda, não é ser mãe. Maternar é um verbo a ser conjugado numa vida toda, é responsabilidade de séculos, é construção milenar. Não tive um seio farto onde minha pequena pudesse matar a fome, mas nunca lhe faltará mamadeiras de proteína moral.

Eu sinto muita falta de um certo colo, mas meu colo está aqui disposto. Eu sinto muita falta de um certo sorriso, mas meu riso está aqui, sem rumo certo. Eu sinto muita falta da santa do andor, onde eu possa me esconder em suas saias, mas me esforço para bordar um xale onde possa aquecer muita gente.

Não quero julgar o que não tive, não quero mais brigar com quem não me deu, eu quero é pegar o que é meu e fazer disso pouso pra mais gente. Não quero voltar ao passado, não quero questionar o que está posto, não quero voltar a ser criança para ignorar o que não veio.

O que posso fazer com o que não foi feito? Fazer do meu jeito. Não vou esperar um tempo de glória jamais construída, alicerçada numa justiça faltosa nessa vida. Nessa vida. Enquanto isso esperam-me mais vidas em busca da minha e não posso esconder-me na desculpa do não tido. Porque o amor não sentido, não precisa se verter no amor magoado, no amor pervertido, porque nunca recebido, mas sempre esperado. Mas agora, sem cobranças, não espero mais nada - o que não quer dizer que não plante esperanças. Há muito tempo no mundo, há muito aprendizado e o que hoje foi começado, pode mesmo amanhã me abrigar. Vou espalhando meu jeito e só porque não recebi, não significa que não possa dar.