terça-feira, 27 de dezembro de 2011

SE RESPEITE, MULHER!

Ei moça, essa é pra você.

Vamos nós duas pensarmos em nosso comportamento? Nós duas somos mulheres e independente da afinidade sexual com o sexo oposto, nós gostamos das mesmas coisas. Não somos iguais, que fique claro. Somos de tribos distintas, de países diferentes, moramos em ocas, palácios, apartamentos, viadutos... mas temos peito, podemos parir, somos mais redondinhas que os homens, nossa voz é [geralmente] menos grave e temos menos força física que os meninos.

Por alto: isso é mulher. Querida, todas temos uns medos em comum. Todas sabemos das dores que são só femininas. Sabemos como o nosso mundo é atacado por exigências de uma moda ou outra. A gente tem medo de estria e celulite; de peito caído, de bunda flácida, de bigode chinês, de queda de cabelo, de unha quebrada, de não caber no jeans... partilhamos um ou outro ou todos esses medos.

Desde a infância a gente tem que sentar de perna cruzada, não falar alto, não xingar, não ganhamos carrinhos, usamos rosa, não brincamos sozinhas até tarde, não jogamos futebol. Na adolescência passamos a ser histéricas, choronas, mocinhas, cabelos alisados, dentes em aparelhos, pernas depiladas, olhos de rímel, boca de gloss. Adultas, trabalhamos na rua, trabalhamos em casa, trabalhamos final de semana, cuidamos, cuidamos, cuidamos.

Por que, querida, nós - conscientes disso tudo - somos tão cruéis umas com as outras? Por que apontamos aquilo que desde sempre foi considerada uma falha em nós e que é somente o que nos difere umas das outras? Por que o olhar de desdém na praia? Por que o olhar de deboche no shopping? Por que a outra tem que colocar silicone para ter aquele peito universal? Por que o botox na testa até ela brilhar?

Aceitamos os nossos corpos serem vitrines de um mundo doido, mas mantemos isso com a crueldade de nossas críticas a nós mesmas. Somos maldosas com as bem-sucedidas e com as mal-sucedidas. Falamos mal da roupa, do batom, do salto, da bunda, do peito, do dente, da barriga. Patrulhamos todas as desiguais. Somos nossas inimigas. Mas por que, se somos mulheres?! Quem, melhor que nós, para entender a nossa própria "dor" de cólica, de parto, de salão de beleza, de cutícula de unha, de alergia a Omo, da coluna acabada de lavar calça jeans? Se nós passamos por quase as mesmas coisas, por que diabos competimos tanto entre nós?

Será que o "amor ao pinto" em nós mulheres se espalha por todos os lados e não tendo a energia de nossa competição concentrada no tamanho pintal, prestamos mais atenção no resto todo? Não sei meninas, mas o que sei é que precisamos ser menos carrascas de nós mesmas e iniciarmos uma nova revolução feminina - SE RESPEITE, MULHER! 

sábado, 24 de dezembro de 2011

AGORA JÁ FOI!


E mais um ano vai-se embora. Agora é hora de refletir: fitas azuis ou vermelhas para fazer o laço do presente? Ano novo chegando e nos primeiros dias de janeiro: “putz, dia primeiro cai logo num domingo?!”. Amiguinhos... sejamos sinceros, parir é muito dolorido! Parir é tão forte que nem dá pra conjugar o verbo no presente, na primeira pessoa do singular, do modo indicativo. Parir é para o futuro, é coisa para vim depois de todo um processo, toda uma construção, durante um tempo gestacional. E gestação é saber que aumentarão o seu peso e a medida das roupas, mas também a responsabilidade constante, presente e futura daquilo que se criou.

Assim como vemos pais negligentes, somos nós negligentes com o pre-natal [sacaram qual a analogia? Não? Tem mais texto, logo entenderão. Espero]. O pre-natal é o ano todo. É o tempo em que alimentamos a criança dentro de nós, alimentamos as esperanças, esforçamo-nos para que o fruto ganhe peso, forma, saúde, prosperidade. Tomamos os devidos cuidados, as vitaminas todas, comemos beterraba e aquelas coisas legais de fortificar crianças. Nesse tempo pensamos como será o nascituro; vai se parecer com quem, quantos dedos, o sorriso, cabeludo, cor dos olhos, personalidade... quando nasce, já não dá pra voltar atrás e modificar o que está estranho. Está ali o seu filho.

Quando chega o Natal, não dá pra voltar o ano todo e desejar um feliz Natal. Primeiro que fazer nascer Jesus em nós é um processo longo, tal como uma gestação de uma vida inteira – e muitas delas. Segundo que o parto será feliz na medida em que escolhemos como Jesus sairá de nós, não dá pra tirar Jesus a fórceps. Depois, precisamos entender que receber alguém é uma alegria, mas no improviso não se faz uma grande festa – seu coração está preparado para um feliz nascimento?

Sabem porque Jesus nasceu sem enxoval? O essencial já estava com ele. E nessa época de Natal nos comportamos, quase todos, como uma mãe maluca e imprevidente que sabia estar grávida, mas resolveu comprar tudo de última hora. É agora a hora de pensarmos em laços e fitas e bolas e luzes e perus... agora não é hora de refletir mais nada! Refletir é no dia a dia.

Por isso, desta vez, não lhes desejarei um “feliz Natal”. Vou desejar que o ano vindouro seja a oportunidade nova de fazermos todos o pre-natal correto: menos mentiras, menos hipocrisia, menos ódio, menos irresponsabilidade, menos alimentos ruins, menos brigas, menos tudo de ruim. Aí no dia do nascimento [que só Deus sabe quando será] todos nós teremos: Verdade, Sinceridade, Amor, Responsabilidade, Saúde, Paz e Tudo de Bom.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

SERÁ QUE ELE É?


Caio Castro revelou que preferia ser tachado de “pegador” a ser de gay. E eu concordo. Ninguém quer ser violentado, ninguém quer passar sua própria intimidade à revista social, ninguém quer ser colocado de lado desde a infância-adolescência por ser diferente, ninguém quer ter que andar com o amor da sua vida a dois metros de distância, sem poder pegar na mão. Ninguém merece isso! Mas é isso que ofertamos, como “classe superior da sexualidade humana” àqueles que se reconhecem como gays.
O que queríamos, que o ator fosse politicamente correto e afirmasse que “tanto faz ser chamado de uma coisa ou de outra, cada um é o que”? Ah sim... e receber pedradas? Antes de ajustarmos a mira de nossa máquina mortífera chamada língua e atirarmos dardos venenosos em Caio Castro, miremos na verdade: os gays são assassinados externa e internamente todos os dias e é preciso ter coragem para ser feliz ao assumir-se gay!
O que está errado é nossa sociedade atacar de tal modo os homossexuais que ninguém queira ser marcado com tal “pecha”. É preciso desvendar o discurso do “eu tenho vários amigos gays, mas não quero um filho gay”; e até mesmo estes pais que assim se expressam, carregam certa dor de saber, de ter certeza de que, se seu filho for gay, ele vai sofrer muito – por ver seu ente correndo riscos. Não é simples para ninguém ser alguma coisa desigual dos coleguinhas.
O que o ator fez foi, além de assumir-se heterossexual com aval social para ser galinha, desincumbir-se da árdua tarefa de procurar outro emprego, uma vez que a declaração de ser homossexual não é bem vista nem mesmo dentro do meio profissional em que ele se meteu – não se for galã. Até isso: se for bonito, nada de ser gay, hein!
Ah... quando tiver novela só de gay ou novela com tudo bem misturadinho e sem distinção do que é sexualmente bonitinho, a depender da audiência e lucros, vai ter muito heterossexual se dizendo gay. Eita mundo esquisito!

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

DO SHORT AO JALECO

Todo mundo sabe o que é uma piriguete, né? Sobretudo depois que Ivete Sangalo disseminou o adjetivo para todo o Brasil, até novela da Globo incluiu a alcunha nas falas ofensivas de seus personagens. E todo mundo sabe que a piriguete, para ser uma que valha merecer o título, deve fingir que está vestida. Piriguete que se dê o respeito [?] desconhece estações do ano - no verão usa short-tapa-sexo, blusa-tapa-bico-do-peito e sandália de salto altíssimo; no restante das estações, também. Tanto é, meus caros, que quando alguém está pouco vestido num frio de causar hipotermia, diz-se que a pessoa tem "couro de piriguete", uma vez que esta esnoba temperaturas abaixo de 0º C. 
Pode ter [e como tem!] piriguetes em qualquer classe social, mas percebemos que as classes menos abastadas foram berço deste ser de poucas vestes; não por falta do que se cobrir, pois se fosse o caso, eu não estaria escrevendo uma linha a respeito da "piri" [abreviação, tantas vezes carinhosa, de piriguete]. Entretanto, piriguete é também um estilo de vida, um jeito de ser, uma filosofia comportamental, um diabo desses! Onde menos esperamos, na Suíça, na Groenlândia, no Natal de NY... a piriguete crava sua presença e salto e diz ao que veio: dá mole para tudo - homem, mulher, poste, hidrante... qualquer coisa. O negócio é mostrar que vestindo quase nada, dá pra pegar quase tudo. A graça é se destacar pelo o que [pouco] veste.
Na contramão da piriguete, tenho percebido um outro tipo de ser, que ao contrário da piri, não vem de classes pobres, em sua maioria. Essa entidade urbana também chama atenção por suas vestes, ou melhor, pela única veste que lhe classifica: o jaleco. Com o aumento das faculdades de medicina, com o apreço endêmico pela área de saúde, o portador de jalecos está em toda parte: nas ruas, nos ônibus, nos shoppings... e creio que até na balada um dia haverá o jalecoso a pompar seu jaleco depois de um plantão - ou no meio dele. 
O problema maior é que o status contamina, do mesmo modo que os micro-organismos moradores do jaleco. A pessoa ganha um "dr" no nome e já passa a fardar a tal vestimenta com um carinho, um amor que nem pensa em tirá-la quando sai dos hospitais, clínicas e afins ou só colocá-la quando adentra nestes locais citados.
Amigos, tal qual a piriguete, o jalecoso desconhece estações do ano. Pode estar o calor luciferiano, olha a criatura de óculos escuros, chaves do carro, estetoscópio ornando o pescoço e o que mais? O jaleco! 30º C? Jaleco por cima. 38º C? Morto, mas garboso com o jaleco por cima de tudo, inclusive a saúde dos outros.
Ambos necessitam chamar a atenção - um pelo pouco e outro pelo excesso. E eu fico sonhando com a equação que equilibre e vista a piriguete com o pano que sobra dos jalecos dos doutores.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

"EU ABRO A PORTA PARA ESTRANHOS"*

Eu sou pisciana e nem me peçam para gostar dos certos. Eu quero os loucos, os varridos, os banidos. Amo os excêntricos, os anormais, os jogados fora, os doentes. Os sãos não são sós. Há montes deles por aí e eu quero catar os perdidos. Gosto dos abalizados, extraviados, lunáticos - pinçá-los no calabouço da normalidade. 

Sou das águas, sou bruxa e morro queimada, mas não deixo de seguir minha intuição. Sinto o cheiro dos feridos e me porto como abrigo pra curar a podridão. Não temo os leprosos, oro pelos criminosos e creio que todos tem perdão. A mesmice me incomoda e eu não quero morar com o espelho, pois é inequívoco erro achar que amparo é para os bons. Amparo é para os caídos, é pra quem se encontra sem abrigo, sem luz, sem chão! Por isso que busco os tortos - os quebrados pelo mundo - o remédio é para o imundo que no mundo perdeu-se em dor, no mar dos preconceitos e afogou-se como suspeito de ter sido pecador.

Se há algo que me chama a atenção é ver um cabelo colorido, e por trás de um corpo florido, tatuado e multicor, que gente é bicho esquisito e basta o outro mudar de apito que já é índio de outro andor. Cor, cocá, colar, toga, batina, saia, piercing, biquine, sarongue, tafetá é só um jeito de mudar a mesma apresentação.  

Sou pisciana e me meto no mundo, mas prefiro os que ficam de lado e deixo aos mortos o cuidado de enterrar seus mortos-sãos.

*[trecho da música "Tudo pela metade" de Marisa Monte]

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

CARTA PARA MINHA TIA

Oi Tia Sônia,

Como estão as coisas aí? Saudades imensas! Você e suas maneiras fazem falta, sabia? Sabia, né? Você deve ter visto o vídeo que Carine fez para você e que também fez todo mundo chorar. Coisas de Carine – ela junta os sentimentos e depois larga uma bomba. Depois desse vídeo eu resolvi te escrever uma carta. Sempre penso muito em você, sempre lembro o jeito que você me chama [Samoquita] e ainda sinto ciúmes porque você prefere Dai. Nem adianta negar, viu tia Sônia?! Todo mundo prefere Dai, mas eu sei que as pessoas me amam do jeito que sou e com você não é diferente: seu amor por mim e meus irmãos sempre foi inegável e sobreviveu a anos de distância física... continua sobrevivendo, eu sei.
Eu queria ter dito mais vezes que te amo. Até chego a lembrar dos murritos, besliquitos e mordidas com certo saudosismo. Isso me faz pensar que certas dores da vida são muito pequenas perto da dor de não poder abraçar a quem se ama. Mas o que estou dizendo? A gente se abraça muitas vezes!!!  Mesmo depois de sua viagem, eu sei que você volta e abraça a cada um de nós. Briga com uns, bate palmas para outros, puxa um pela orelha, dá conselhos a outros, segue cuidando dos que ama. E a gente vai se virando por aqui até chegar o Natal em que aquela sua “arvorona” será armada na sala de sua nova casa e estaremos todos lá.
Será que você ainda briga com Sheik e Ringo quando eles se pegam na briga? Vixe, tia Sônia, deve ter uma galera de cachorro pra você cuidar, né? Paloma, Dalila, Sheik, Ringo e outros que nem sei o nome. Tem Lolita e Dhust que também devem estar em sua casa. Eu falo como se a única coisa que você faz aí é cuidar de cachorro. Duvido. E as rosas brancas? E as outras flores? E os demais amores, né? Existe muita novidade que a gente aqui nem sonha. Ou sonha? Rs
Eu guardo os vestidos que você me deu, as blusas, as coisas todas como uma bobona agarrada a evidências materiais da sua lembrança. Sei que tudo isso é dispensável, mas você sabe que cada uma destas coisas é a materialidade de meu amor.
Eu não gostei que sua viagem foi perto de meu aniversário, mas acredito que a passagem estava marcada por gente bem maior que a gente e não é justo questionar; hoje eu sei que você é feliz e os hamsters nem devem mais existir, né? Essa é uma lembrança que me faz gargalhar sempre! E o bolo de algodão com álcool: “nãaaaaaaaaaoooo Sâmia!!! Isso tudo, minha filha?”. Sem contar que quando eu ia dormir nas “horas mortas” era motivo de falação eterna. Hoje vou dormir mais cedo para te encontrar.
Vou parar por aqui. Não sei como o Correio te entregará esta carta, mas tenho certeza de que ela lhe chegará nas mãos. Minha lembrança não é só alimentada de saudades – é lavada de certezas. Te amo e sempre te amarei e muito obrigada por ter sempre sido a tia-mãe de Priminho, Samoquita e [ôooo]Dai.


Sâmia.

P.s.: Eis o vídeo:

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

CHOVEU

Nem o céu, nem as estrelas - somente chuva e vento frio.
O mar cheio de nesgas - barcos ancorados no vazio.

Nem o sol, nem a lua - nuvens entapetando o céu.
Sem luz, visão turva - dia enlutado num véu.

Nem carta, nem avisos - pedestres escondidos em casa.
Sem óculos e livros - não se vê mais nada.

Nem fotos, nem fatos - o presente que vaga vão.
Encontro-me no ponto exato - d'onde miro a solidão.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

DIA DESSES, NO BAR...

_ Hey Tchonga, beleza parcêro?

_ Beleza, meu véi! Cês tão falando de que aê?

[Tchuplá - dá uma tapa na mesa de ferro do bar]

_ Oxen, miséra... paquê isso? Quer chamar atenção, pinta as cores do Vicetória nos peito e vai ver o jogo do Bahêa em Pituaçu, pai...
_ Foi mau...

_ Além da vida dos outros, a gente tá falando de como falar da vida dos outros! rsrsrsrsr

_ E quem num fala...? 

_ Rapazzzzz... taí, boa pergunta!

_ Diz aí, Traçado, se a gente tudo fosse jornalista, até ganhava pra falá da vida duzôto, né não pai?

_ Negoçu gostoso é a disgrama da fofoca: você começa a comentar, sem maldade niúma, niúma, niúma, quando vê, já tá lá dando os veredicto nas briga de casal; quem chifrou quem, quem virou pras outras banda de lá ele lá... é só começar até a língua entortar.

_ Eu é que não gosto dessascoisa! - abriu a boca, o tal de Nicuri - Pá mim, vida du zôto é vida du zôto e o nome já diz.

[Gar-ga-lha-da geral]

_U que, Nicuri?! Intão cê tá querendo dizer aqui, na cara da gente, que tu num gosta da vida duzôtro?

_ É sim... eu não gosto dessas coisa de ficar falando pelas costa, falando mal, comentando, num sei quê... 

_ Oxe, peraí que eu quero ouvir essa novidade! - Chegou Fedô de Sunga com a mão no queixo e o braço por cima do outro - então você virou crente, né? Mas foi de ontem pra hoje, num foi?

_ Eu quero é ver quem é esse homi todo aqui que vai me dizer, jurando por de cima da fita do Senhô do Bonfim, que nunca falou da vida de seu ninguém, viu?! De seu ninguém papá!  - Gritou no mêi do bar, Traçado.

_ Pois eu acho um absurdo esses negócios de disse-me-disse.

_ Acha nada! Se achasse mesmo não tava se juntando com Zói pra falar que Dona Pina gosta de roubar nos pastel, né não? Por acaso você tem prova, véi? Dona Pina é rica pra tá botanu 5 quilo de camarão dentu da miséra do pastel?!

_ Ah... mas eu falei dela porque ela gosta de tirar vantagem mermo. Ontem mermo eu soube que ela disse a seu Vivi que...

_ E quem te contou isso? Tu soube como? Tava falando com quem??? Tá venu, tá venu? Ninguém escapa não!

_ Mas ela falou de mim primeiro!

_ Conta ôta, pá cima de ôto, Nicuri! Falá mal dos outros, porque os outros falou mal da gente não é falar mal, né? 

_ Chega lá e abre! Joga a merda no ventilador, não é porque mudou a modalidade de falá mal, que num é falá mal. - gritou Tchonga.

_ Oxi..., Dona Pina disse que eu gosto de pegar as coisa fiado e num pagá. Onde é que ela viu isso?!

_ Deve ter lido no caderninho que ela tem anotado, né não? uhauhauhauha - Riu-se Fedô de Sunga.

_ E aquela malinducada, anafabéta, sabe escrever?

_ Hum... já saquei a coledemermo... tá murdido porque tá sem razão!

_ E o sinhô, acha o que Piloto? - perguntou Tchonga ao dono do bar.

Piloto, que até então estava calado, respondeu:

_ Eu não acho é nada! Nessas coisa é melhor nem começar. Vocês que são entendido, que se entenda!

_ Taí, um cara que sabe das coisa!


P.s.: Qualquer semelhança é mera coincidência?
P.s2: Imaginem as falas do jeito que a galera de "Ó pái, ó" faz.
P.s.3: Os erros gramaticais e afins são propositais. Se não for, no meio de tudo isso, vocês nem vão desconfiar.
P.s.4: Ah... ria, vá! Você também fala um pouquinho da vida dos outros!

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

PIADA SEM GRAÇA

Levei certo tempo para escrever a respeito desse assunto, não sei exatamente porque. Incomodou-me de imediato ler a frase do “humorista” Rafinha Bastos sobre Wanessa – a “cantora” [o que essas pessoas nos obrigam a colocar entre aspas, né?]. Incômodo como mulher, que ao ler o verbo “comer” associado a outra de maneira metafórica e violenta, sente nojo, ojeriza; ver o mesmo verbo associado a uma criança ainda no ventre da mãe, me parece ser algo que beira o sadismo, sadismo esse que é uma constante em determinadas piadas que estão na moda.

Desde muito tempo tenho uma crença: brincadeira é algo que as pessoas fazem entre si e se divertem, quando alguma delas vira o brinquedo, já não é mais brincadeira – pelo menos uma que se possa classificar de bom gosto. E é por esse motivo que acredito ter traços de sadismo toda brincadeira feita com alguém e esse alguém, ao invés de rir, chora ou ainda vê a própria imagem associada a algo constrangedor. Qualquer coisa que digamos a um semelhante que o diminua, ofenda ou constranja, pode ser chamado de um nome outro, menos brincadeira.

Algumas pessoas acreditam que o humor é um terreno neutro e amplamente livre, de maneira tal, que ele não deva sofrer censuras. Lembro-me de minha infância, quando a gente fazia "brincadeiras" entre si, quando estávamos entre nossos pares se divertindo e tal, mas quando alguém xingava a mãe... a coisa ficava feia. Se até criança sabe que existem certos limites não ultrapassáveis, se elas tem noção de algumas leis tácitas, por que determinados adultos perdem essa noção básica e acham que podem contar qualquer piada com a família alheia só porque sustentam o título de humorista? Para quem defende o “humorista” supracitado, eu pergunto: e se fosse sua mãe? E se fosse sua esposa?

Ainda me deixou perplexa, o argumento daqueles que fazem parte do levante prol-Rafinha; alguns tem a “leiguice” de contra-argumentar: “que país é esse onde os humoristas são levados a sério e os políticos são levados na brincadeira?”. A primeira coisa que me veio à mente quando li isso foi: “tão vendendo kit imbecilidade no Bompreço, é? E deve estar na promoção, porque uma galera comprou!”. O que é que tem a ver o “forebes” com as calças? Mas logo em seguida, apareceu-me no facebook uma resposta à altura: “não é porque existem políticos corruptos que você tem o direito de ser um idiota”. Isso, argumento correto. Não é porque existe gente que rouba muito, que deixar de devolver troco a mais passa a ser “brincadeirinha”. Além disso, a comparação é moralmente absurda, uma vez que a causalidade de ambos os fatos [corrupção de político e piada de péssimo gosto] moram em pontos distintos – muito embora reprocháveis. E se ambos são censuráveis não há nada em nenhum dos dois que os anule mutuamente. O que está errado, está errado e a amplitude da corrupção política [o que nos envolve] deve ser tão combatida quanto a amplitude de ofensas veladas.

Aristóteles, [sim, eu o citarei também] nos diz: "A comédia, como dissemos, é imitação de pessoas inferiores; não porém, com relação a todo vício, mas sim por ser cômico uma espécie do feio. A comicidade, com efeito, é um defeito e uma feiúra sem dor nem destruição; um exemplo óbvio é a máscara cômica, feia e contorcida, mas sem expressão de dor.". E eu me pergunto: qual o limite entre o cômico e o sádico? Espero que os humoristas de plantão já saibam a resposta.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

VOCÊ PRECISA

"Mas você precisa aprender a dirigir". Mas eu não quero. "Mas o mundo hoje exige que as pessoas saibam dirigir; todo o mundo tem carteira de motorista". E eu não sou todo o mundo e não quero dirigir. Não quero ter carro.

O automóvel potencializa a velocidade e a mobilidade de minhas pernas, mas turva meus olhos. Não posso lidar  com a distância que venço estando de carro. Em cada passo, vejo o caminho. As rodas vencem por mim os quilômetros, mas os metros que ando a pé são meus.

Orgulho vão? Não, é só vontade minha. Não quero ter carro e entupir mais o mundo de "capitanias solitárias" e quase nunca hereditárias, porque o automóvel se acaba logo e tem sede de outro e outro e outro ainda melhor; não dá pra deixar mais pro filho.

Não quero pagar imposto por ocupar espaço.

Também não digo que os automóveis devam ser todos queimados - nem ambulâncias, nem ônibus, nem nada coletivo. Só quero ver se vai sobrar espaço se todo mundo neste mundo resolver mesmo dirigir um carro.

Pois bem! Está decidido - não quero carro. Quero tato - pés descalços, devagar, sem status. Sem cobrança de pedágio - que deveria se chamar "carrágio".

As pessoas estão com pressa, mas não sabem para onde vão; e sem saber do que precisam, me dizem: "você precisa dirigir". Lá ele! Eu não - dirijo-me a pé.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

E SE FOSSE VOCÊ?

Se você fosse mãe, saiba que não conseguiria fazer seu filho feliz. Isso é escolha pessoal. Se você fosse mãe, procuraria, em vão, dar um mundo ao seu filho, mas o máximo que conseguiria deixar para ele [neste sentido] seriam seus bens. Ensinar o filho a construção de si mesmo é muito mais complicado que dar-lhe coisas.

Se você fosse mãe, iria querer guardar seu filho no útero, mas iria perceber que ele ficaria pesado demais e cairia. Melhor ensiná-lo a andar.

Se você fosse mãe, iria dar ao seu filho todas as lições de caráter que lhes são possíveis e mesmo assim iria perceber que o outro é sempre o outro, ainda que seja de sua própria carne - ou carne de sua alma.

Se você fosse mãe, sentiria que suas noites de sono não seriam mais as mesmas porque você iria ganhar a eterna mania de achar que pode proteger seu filho de tudo. Não pode. Você se tornou mãe, não Deus.

Se você fosse mãe, iria meter os pés pelas mãos na tentativa de fazer tudo certo pro seu filho e iria descobrir que isso é humano e não privilégio de mãe. Erramos, admita. Seu filho precisa de um ser humano, não de uma heroína.

Se você fosse a mãe do coleguinha de seu filho iria descobrir que as mães não são todas iguais, não moram todas no mesmo endereço e que se você quiser ser diferente e melhor, pode. "Mais do mesmo" não lhe fará cumprir bem seu papel. Seu filho precisa de você, não da mãe do coleguinha.

Se você fosse mãe, estaria com os mesmos medos que eu, mas não estaria jamais em meu lugar.

sábado, 24 de setembro de 2011

RECEBI ESTE E-MAIL HOJE


de deus@infinito.Eu
horário do remetenteEnviado às Eternidade (GMT-------). Horário atual no local de envio: Eternidade. 
paraSâmia Souza
data24 de setembro de 2011 00:00
assuntoFilha
enviado por
infinito.Eu
assinado por
infinito.Eu

Sâmia,

Tentei falar com você estes dias todos, filha. O que está acontecendo com você? Por acaso tem esquecido a sua fé? Mandei diversas mensagens através de irmãos seus e você fechou certas portas da intuição e não percebeu algumas coisas que foram ditas.
Em primeiro lugar: Eu nunca abandonei você e embora você saiba disso, nunca é demais repetir, né? Sempre tem um espírito de porco mal passado que gosta de soprar isso nos ouvidos de vocês e a carne é fraca - Eu sei disso porque fui Eu que fiz e de propósito para saberem o que vive e o que morre. Portanto: você não está sozinha!
Em segundo lugar: não compre certas idéias de tristeza, porque ela é má companheira, não paga a conta e nada resolve. Mantenha-se de cabeça erguida e faça o que é certo [você sabe porque eu enfiei isso na cabeça de todo mundo junto com o tal sopro que dei no ouvido de vocês]. Determinadas coisas vocês podem resolver sozinhos, outras deixem Comigo, ok?
Em terceiro lugar: já viu alguém nesta Terra que habita ser plenamente feliz? Imagine se eu faço a coisa toda certinha aí... aí que o bicho ia pegar mesmo e vocês não iam querer sair do lugar para nada nesta Vida! Embora você não acredite no cara que vou citar agora, saiba que "zona de conforto" é invenção do capeta. O Universo está todo em movimento e você quer ficar parada? Aí vai um conselho: se mova que tudo dói menos. Trabalhe, ore, confie e sorria. Tem um cara aí embaixo [não sei porque vocês acham que Deus sempre está em cima, que viagem!] que fez uma música assim: "pra todo mundo a minha cara de alegria, porque ninguém tem nada a ver com minha dor". De certa maneira é isso mesmo. Não quero dizer que vocês não devam se preocupar uns com os outros, mas a sua lição só quem faz é você. E também acho você mais bonita sorrindo.
Em quarto lugar: tudo passa. Tá bem... o conselho é batido, mas isso é Lei, querida, e não há nada o que mudar; mesmo porque se Eu ficasse igual a vocês criando leis que necessitassem de emendas, ementas, remendos e num sei lá mais o que, eu não seria perfeito, né?
Melhor parar de contar por aqui porque o e-mail vai ficar gigante e eu sou bom de matemática: vocês não sabem quanto é infinito mais infinito, mas Eu sei!

Luz, filha. Te amo.

Deus.


P.s.: Lembrei de outra música legal: "O mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo". ;)


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ALMA RASGADA

Minha alma derramada, sobre uma banqueta vermelha; tentando ser o resto do que sobrou pra contar, depois do atropelo. Levanta e pouco vê. Tropeça nos lençóis, se encolhe no cantinho e pede baixinho ajuda. Quem pode me ler? Alma minha, minha vida é a lida de você. Quem pode me entender? Só quem já viveu a traição do punhal, só quem de morte se feriu e não morreu: agoniza como eu! É afogamento, é fogo por debaixo da epiderme, álcool nas escaras – o que vejo, sinto e penso é ter um céu com escadas pra que possa me safar.

Não há muito jeito alma minha, junta os trapos, engole as lágrimas e mata a sede na própria tempestade de teu peito. Escora-se nos escombros do seu sofrimento e transforma seus lamentos na porta de saída da dor. Se olhar para trás, corre o risco de prender uma das pontas de sua saia no espinheiro da lamentação. Cala suas mágoas: não existem sandálias que não sejam feitas pra gastar! Atrita seu peito contra o mundo e depois vai ver que fora dos lençóis tudo é mais luminoso. Não adianta grossas cobertas de medo sobre suas vestes já tão duras, permite que a Alta-costura remodele a fraqueza da sua falsa forma. Assim, alma, quando liberta estiver, saberá que as agulhadas, os espinheiros eram o Divino Costureiro a te ensinar.

Eu sei que a dor é real, mas nunca foi privilégio seu por sobre os ombros o peso do mundo. Ergue apenas a viga que te sustenta e ainda que haja, sangue, dor, não lamenta e se há poeira sobre seus olhos, a luz que guia e te alimenta jamais te abandonou – você é que não pode enxergar. Quando o pó da estrada assentar, quando o que lhe esmaga perecer, você vai lembrar que por mais seja a dor gigante, nada e nenhum ser, e mesmo a morte nunca é maior que o Deus que há em você! 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SEM [PRE]TE[N]SÃO

Eu pensei que tanto tempo calada fosse me fazer voltar e dizer minhas overdoses de letras. Não tenho nada. Sou a comum de sempre, a mulher cheia de coisas, aquela que sempre repete roupas, penteados, calcinhas, palavras... a mesma de sempre. Volto calada, porém.
Não vou despejar poema, afogar com tributos linguísticos uma frase legal. Não quero surpreender, nem convencer, nem rimar. Como tudo o que faço, quando vejo já fiz. Talvez esse seja o meu problema: sem cálculos. Tudo no feeling, na cegueira, no tato, no mais velho radar de alma - intuição.
Não planejo, não apago, se rimo, me contento, se não rima, não ligo. E esse é mais um texto para falar de como está tudo igual. Por isso decidi mudar e esse talvez seja o aviso prévio, viu? 
Conheço-me o suficiente para saber que quando as coisas amornam ao meu redor é porque está na hora de fazer diferente. Todas as vezes que alguém me disse "duvido que faça" eu ia e fazia. "Duvido que diga", eu ia e dizia. "Duvido que vença", eu ia e vencia. Hoje podem duvidar que eu só faço quando eu quero. E por estes tempos estou querendo dizer de mim novas palavras.
Tanta coisa igual vai me dando nos nervos. Por isso eu sei que sou a mesma de sempre - e vou mudar, por isso continuo igual.

sábado, 10 de setembro de 2011

QUASE MORTE É QUASE VIDA

No dia em que eu quase morri não estava só. Estava com Joana e Davi. Eu tangenciei a morte, mas não senti.
Foi assim como quem não quer nada que a morte tentou nos dar um tapa, mas a gente... na verdade, a gente não fez nada! Não tem "mas", o que aconteceu é que o carro bateu depois de girar sobre um viaduto, no meio da chuva e [sim, agora a conjução está no lugar] não fizemos absolutamente nada.
Não teve estilhaços - a não ser do momento. Não teve grito - a não ser dos pneus. Não teve choro - a não ser de chuva.
Não tive tempo de escolher as companhias com as quais entraria no lado da Vida em que corpo é peso. Não que elas não fossem boas, mas tinha mais gente que eu levaria nessa viagem. Longe de mim, amigos, desejá-lhes a morte! Mas eu levaria uma galera nesse passeio e quando a morte viesse, nós todos não teríamos tempo para adeuses. Como eu não teria, nem Joana, nem Davi.
Sobrou uma sensação de que estar vivo é quase morrer. E que quase tudo em que nos apegamos é quase nada. Eu estava toda maquiada e arrumada para uma formatura, mas eu não me formaria no curso que faço. Iria ser pega sem salto alto, porém. Acho que a morte viu que não estávamos prontos.
Não senti medo naquele 12 de agosto. Não dá tempo para o alcance e a espera estarem muito longe. Rodou, bateu, parou. Desci descalça no meio da pista, peguei um para-choque, entrei no carro e paramos num posto. A vida seguia dizendo "ufa, foi por pouco", mas é assim todos os dias! Resta-nos viver, fazer muitos amigos, pois se a roleta nos sortear novamente, estaremos em boa companhia.
Para quem acha que dirige tudo: a vida é um carro em descontrole sobre um viaduto molhado. Para quem acha que não pode nela fazer nada: nós mantivemos a nossa própria calma. Para quem tem pressa: calma, ela te encontra. Para quem não a quer: ela é democrática. Para Deus: valeu, eu não queria abraçar a dita cuja.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

AS FLORES

Se tiver flores para as quais possa regar teu amor, não se pergunte por muito tempo se elas merecem para fazê-lo. Regue o que enflorece sua vida sem pensar no tempo diante de seus pedidos insistentes de amor. Apenas veja o quanto seria sem cor e sem vida a sua vida sem as flores que te cercam. Quem não tem algumas flores? Sem tanto esforço assim você vai perceber aquele vaso ao lado de sua cama, ao lado de suas dores, atrás de suas farsas - há sempre as flores que perfumam suas lembranças, sua toca, suas poças.

Ame-as, não as deixe murchar para dizer que as ama tanto, que gostava tanto quando elas balançavam sorridentes no vento das tempestades que te cercaram por dias tristes. Não as deixe sequer perceber que havia dias que você não as via, e ainda que elas bem saibam disso, não as deixe jamais ter certeza. Foram elas que te trouxeram as borboletas. Sem elas o caminho seria só pedra, só daninha erva.

Cada um tem sua flor, não irei aqui nominá-las. Que cada qual faça o esforço de reconhecê-las em seus vasos. Dê a cada uma delas o título mais adequado, o lugar mais arejado de sua alma. As minhas estão aqui comigo, no terreno mais grato e fértil de meu coração. [AACCDD]

segunda-feira, 25 de julho de 2011

PALAVRA - EM FALTA

Não tem palavra de tudo. Muita coisa fica engasgada no peito - sem palavra.

Não há palavra pra morte de filho, do cão melhor amigo, de mãe, de pai, de irmão, de gente. Não tem palavra pra fim de namoro inesperado, pra saudade de infância, saudades em geral. Não tem palavra pra solidão, vazio de alma. Não tem palavra pra medo de escuro na infância, na adolescência, na fase adulta, na velhice. Não tem palavra pra violência. Não tem palavra pra injustiça. Não tem para criança apanhando, mulher apanhando, covarde batendo. Não tem palavra que se encaixe na dor de dente, na dor de parir gente ou no medo de não parir uma monografia.

Não tem palavra pra insegurança. Sem palavras para o preconceito de cor, sexo, religião - entre os iguais que buscam todos ser felizes. Não tem palavra pra explicar a fome do mundo nem os salários dos desgraçados políticos aumentados em 74%. Não tem palavra para o trabalhador que sustenta a família com um salário mínimo. Não tem palavra pra criança sem brinquedo, olhando vitrine, catando lixo, explorada. Não tem palavra para a desigualdade dentro da riqueza.

Não tem palavra o transporte coletivo em Salvador custar R$ 2,50. Não tem palavra a gente votar em quem é bonito, da nossa religião, do nosso grupo, do nosso clã. Não tem palavra para tanto "meu", "eu", "pra mim", "pros meus" num mundo que é uma bolha solta num negro mar infinito.

Não tem mais o que dizer, escrever, grafar para tudo aquilo que existe e nos deixa mudos como num soco na boca do estômago - sem traduções, sem ar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

PROFECIAS

Desacato a desesperança e ouso acreditar que haverá mais tempo onde o Amor seja a planta que dará todos os frutos. Dele comerão todos os sábios seculares e descobrirão os cientistas o que falta na Ciência.
Eu sei que hoje é um tempo onde a aparência nos engana, mas é dela que vivem muitos. Ainda assim, creio no fato de que a felicidade é ímã forte, que logo põe no prumo os rumos incertos, e todas as forças se equilibrarão na Verdade - aquela que libertará.
O povo se afoga em hecatombes, doenças de todos os nomes, criancinhas morrem de fome; mesmo assim eu acredito que há um exército de bons seres humanos lutando no escuro do medo, contra toda a injustiça do desequilíbrio da riqueza e logo veremos as mesas transbordar de piedade e faremos da caridade o pão de nosso tempo. Não tardará a vitória dos que amam sem fronteiras, dos que têm como bandeira o Amor Universal.
Recuso-me a dar força a uma energia desagregária que põe no centro das importâncias o que perece num segundo: carro, luxo, poder, dinheiro - nenhuma energia do mundo alimenta mais que o Amor. Pode-se ter tudo e ter mais ainda e acredito que por isso falte a quem nada pode, nada tem.
Nossa acumulação desmedida produz obesos e guerras, queremos consumir tudo, engordar do excesso e acabar num câncer de egoísmo, onde não existem iguais, mas um tumor que mata o que lhe alimenta de sangue.
Não é possível que o mundo suporte mais desditas, que o ser humano não clame por ar puro, que o cansaço não vença o orgulho e que continuemos a por nosso tempo na marcha para a morte. E é por isso que acredito e nunca deixarei de dar crença que a razão de nossa existência é para aprendermos a amar - não tarda no horizonte o amanhecer desse tempo e eu já o vejo em meu coração. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

PÍLULAS

Não há pílulas de sumir. Beber num único gole um ponto final. Não há! Há pílulas para dor de cabeça, não fazer criança, não deixá-las nascer; há pílulas pra enjoo, para ressaca, para dores, inchaço, inflamação, mas não há - de uma vez por todas, não há - pílulas de não ser eu.
Uma vez termos [quase todos] entrado no mundo por não terem pílulas aos nossos pais, estamos aqui para tantas coisas mais, mas - insisto - jamais para sumir. Não dá para voltar a ser do tamanho de uma pílula, virar uma vírgula, dois gramas de pó, uma formiga, um cílio caído, um olho de mosca ou coisas assim. Depois de crescido, de tantas pílulas ter ingerido: olha nós aqui.
Com o corpo cheio de coisa - roupa, pelo, sebo e sangue - vamos dando um jeito na coceira das costas com a unha de alguém e ainda que tudo seja mangue, não tem por que virar caranguejo também. Isso é só uma rima, logo passa; logo passo desse ponto, logo pense nesse conto: lago é pássaro também. Vê-se na água refletido, voa longe no infinito e vira pílula no além.
Não era pra ser assim, mas há pílulas necessárias quando a dor é muito intensa. Da vida - sei um tanto - não nascem só feridas, há outras gotas coloridas vendidas em frascos, destribuídas por velhos, doadas por amigos. Estou falando de jujubas, confetes de chocolate, pastilhas de menta, balas soft. Há todas essas pílulas - alegre-se -, menos as de sumir!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

RATOS

Hoje eu tive um sonho interessante. Eu estava numa sala e alguém estava sentado na janela desta sala; a claridade que entrava pela janela, apenas me permitia ver a silhueta desta pessoa, que embora estivesse com um "rabo de cavalo", eu não saberia lhes dizer se era homem ou mulher. Ela [a pessoa] me disse: "muitos tem mania de não se dizerem bons e comumente repetem 'não, eu não sou bom'". Depois falou: "há um rato e há um queijo, o rato pode negar ser rato e não comer o queijo, mas sempre haverá um gato". Eu entendi que não devemos negar a nossa natureza de seres bons, porque nos tornamos frágeis e vulneráveis aos "inimigos". Muitas vezes tomamos sobre nós características irreais e desprezamos a nossa essência, isso nos torna frágeis, porque assumimos as características ocas e deixamos em estado latente as nossas reais possibilidades.
Se sofremos por sermos bons e amáveis, isso não significa que devemos deixar de sermos assim para evitarmos sofrimento. Estaremos, como o rato, assumindo uma postura falsa sobre nós mesmos; deixaremos de comer o queijo, não seremos verdadeiros, mas os gatos não irão acatar que resolvemos não ser ratos. Os gatos não irão se afastar só porque não quisemos comer o queijo, fingindo não sermos mais ratos.

Só podemos lidar verdadeiramente com o que somos.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ORAL B

Jamais acreditei em príncipe encantado. E nada, até hoje, me provou que ele existe e isso não me deixa triste. Não sou uma princesa, minha voz não é meiga e não sei bordar; o que diacho faria com um príncipe ao meu lado? Também é verdade que em minha vida já apareceram alguns seres mágicos: de magia boa e de magia má. Teve gente que conseguiu transformar coisas lindas em um monte de farofa da praia do Porto da Barra, bem ali naquele lugar que parece um inferno e que um monte de homem melado de suor e barrigudo se junta para fazer churrasco de gato, ouvir arrocha, pagode e mexer com as mulheres que passam [vocês já entenderam a nojeira, mesmo sem precisar vir à Salvador]. E teve gente que foi a mão segura em momentos obscuros, foi o sorriso amigo em tempos de silêncio e vento frio.

Mesmo assim, príncipes encantados são seres especialíssimos e não podem dar sopa por aí. Eles moram no País Perfeição, no qual eu não passo nem do aeroporto se tentar entrar. Então não quero e não posso ir num lugar em que teria que endurecer a cara num sorriso pricesesco chato e venenoso. Gosto de gargalhar como uma borralheira, sambar com as criadas, comer como as camponesas e viver como aquela que não foi forjada para um princípe montado num cavalo branco alto e cheio de frescuras. Para falar bem a verdade, o máximo que já cheguei a ter de um príncipe foi quando apareceu só o cavalo. Vi o bicho sozinho pastando e pensei: "o principe tá vindo a pé, por isso o cavalo chegou antes", mas só ficou no cavalo mesmo, viu? Desisti de comprar os contos de fadas para os quais eu não fui feita, deixei o cavalo pastando com as potrancas e parti pra viver com gente. 

Baiana, cabelo crespo, unhas roídas e espinhas [tardo]adolescentes não são para príncipes, são para homens de verdade. Sim, os homens que não são dos contos, nem das fadas, são aqueles que gargalham com a borralheira e sambam um samba torto e comem como camponeses e fazem mulheres normais felizes. Eles as fazem felizes porque são como elas, mas também as deixam livres para não virarem a boneca se não quiserem. Quando elas acordam, eles dizem: "bom dia, minha linda" e elas sorriem com bafinho de tigre. Cinderela é que acorda com hálito de Oral B e as mulheres que não são de cera acordam com cabelo assanhado [no meu caso, Fiona, a esposa de Shrek].

Eu descobri que não precisava esperar por nenhum modelo - então Cauã, sem chances, meu rapaz! E nem precisei fazer promessa pra Santo Antonio, se querem saber. Prometi a mim mesma que não me faria jamais de princesa para atrair um príncipe inexistente e correr o risco de ficar sozinha por dentro e por fora. Hoje estou em paz e esse é o conto da que vos fala: sem cavalos, príncipe, princesa ou fadas. E pra não dizer que não há mágica, há sim: amor de vida real.

P.s.: eu escovo os dentes.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

[IM]PRECISO CAMINHAR

Pernas, para que as tenho? Pernas, por que não correr mundo? Pernas, e onde me andarás? Por que não pernejo o mundo e revejo o fundo das minhas vontades? Se é medo de não ter perna ou se é de descobrir que não há mundo bastante que gaste as canelas que tenho? Enquanto me calo, pergunto ou pelejo pra bater as pernas ao encontro do outro lado da ponte, planejo ou temo a altura da queda. Mas sei que minhas pernas não me levam para longe da razão, então, andar, por que não?

Pernas, eu queria dança-las. Queria, pernas, que a força que possuem, pudesse dar uma trivela neste mundo. Sustentam o peso de meu corpo e culpas; já nos metemos em tantas carreiras, tantas lutas, por que param agora assim? É medo do que possa vim de mim ou de encontrar o não de alguém? Se não correm, pelo menos, caminhem! Vão cantando pelo caminho, pernas minhas e de repente encontrarão outras pernas também.

Pernas, meio-fio é consequência da calçada e se estão na rua, melhor catar uma direção digna, mas se não encontrarem nada, subam no muro - humana é a indecisão. O medo da imprecisão é item que vem de fábrica. Não há destino certo; a vida, meninas, é um longo, acidentado campo aberto. A única coisa que vocês podem fazer é se dobrarem muitas, muitas, muitas vezes e até que chegue o tempo de ficarem esticadas, ainda há muito o que fazer. Preciso caminhar.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

DAR DO QUE NÃO TEVE

Só porque você não recebeu, não significa que não saiba dar, amor é verbo que nasce com a gente. Aprendemos a ser diferentes até com o que nos pode faltar. Meu pai não teve pai, mas soube como paternar. Eu também sei ser mãe, porque dar o seio cheio de leite, afogar a criança em mimos e manter sua barriga redonda, não é ser mãe. Maternar é um verbo a ser conjugado numa vida toda, é responsabilidade de séculos, é construção milenar. Não tive um seio farto onde minha pequena pudesse matar a fome, mas nunca lhe faltará mamadeiras de proteína moral.

Eu sinto muita falta de um certo colo, mas meu colo está aqui disposto. Eu sinto muita falta de um certo sorriso, mas meu riso está aqui, sem rumo certo. Eu sinto muita falta da santa do andor, onde eu possa me esconder em suas saias, mas me esforço para bordar um xale onde possa aquecer muita gente.

Não quero julgar o que não tive, não quero mais brigar com quem não me deu, eu quero é pegar o que é meu e fazer disso pouso pra mais gente. Não quero voltar ao passado, não quero questionar o que está posto, não quero voltar a ser criança para ignorar o que não veio.

O que posso fazer com o que não foi feito? Fazer do meu jeito. Não vou esperar um tempo de glória jamais construída, alicerçada numa justiça faltosa nessa vida. Nessa vida. Enquanto isso esperam-me mais vidas em busca da minha e não posso esconder-me na desculpa do não tido. Porque o amor não sentido, não precisa se verter no amor magoado, no amor pervertido, porque nunca recebido, mas sempre esperado. Mas agora, sem cobranças, não espero mais nada - o que não quer dizer que não plante esperanças. Há muito tempo no mundo, há muito aprendizado e o que hoje foi começado, pode mesmo amanhã me abrigar. Vou espalhando meu jeito e só porque não recebi, não significa que não possa dar.