terça-feira, 7 de abril de 2009

MÃE

Uma relação que eu acho impressionante é a de mãe e filho. Instintiva, para muitos; parece que é unanimidade dizer que a mãe automaticamente ama seu filho. Isso pode ser verdade, mas ela pode não amar ser mãe de uma hora para outra. Acham estranha esta afirmação? Pois eu não. São duas coisas distintas: amor e papel de mãe, e não entender isso acarreta culpa na cabeça de muitos.

A tal culpa por não ser automática a compreensão e a inserção no papel de mãe me atormentou por um bom tempo. Eu sabia que amava aquela pessoa que a vida me deu, mas não tinha nem tido tempo para raciocinar sobre o que é ser mãe, uma vez que engravidei aos 17 anos. O único modelo de mãe que eu tinha era o da a minha e eu tinha críticas a este modelo. Eu precisava ser logo alguma coisa que se aproximasse do que a opinião geral tinha como "ser mãe", mas não conseguia. O encontro com este papel foi brutal demais para que eu me sentisse confortável executando-o e ainda tinha que me enquadrar... imaginem vocês o quanto me atormentei por isso!

Sem saber [ou sabendo e agindo por sadismo mesmo] as pessoas nos aumentam o buraco do peito. Por falta de sensibilidade pessoas nos ferem de forma intensa e nós, já enfiados na culpa, nos afundamos mais. Eu ouvia muito as pessoas me criticarem por não saber alguma coisa, por não ser a matrona, por não ser aquela que em primeiríssimo lugar colocava o filho e esquecia de si. Eu precisava tanta coisa que nem dava pra fazer lista de prioridade, minha gente! Eu precisava me formar [como ser], me compreender e saber o que eu queria. Eu não podia nem mais escolher se queria ser mãe ou não, porque eu já era e ponto final, pelo menos sob o ponto de vista biológico. Eu já tinha gerado aquela vida que estava a cada dia mais exigindo que eu lhe desse respostas; as primeiras que ela me pediu foram as que supriam suas necessidades vitais, mas logo viriam as que supriam suas necessidades intelectivas e psicológicas e eu não saberia o que fazer. Eu pirei. Sofri. Machuquei a mim mesma sentimentalmente num processo de auto-punição por ter feito algo que gerou-me esta situação e também era culpa minha o pai dela ter me deixado e eu era culpada por não ser apta para me relacionar nem com um homem, nem com minha filha - este foi meu calvário auto-imposto por muito tempo...

Decidi assumir tudo o que eu sentia, este foi meu primeiro passo. Descobri porque me doía, quase que fisicamente, lavar mamadeiras, roupinhas e fraldas. Descobri porque eu não amava fazer papinhas e sopinhas. Depois de assumir meus sentimentos para mim e jogá-lo no mundo, por amor [que sempre tive dentro deste processo todo, não se esqueçam que separei papel de mãe e amor desde o começo] por muito amor eu me voltei para ela, para minha filha. Não como pessoa, pois esta já existia para mim como a pessoa que eu mais amo no mundo, mas como FILHA. E neste processo eu me enxerguei como MÃE. A pessoa Sâmia estava aos poucos se vendo como uma mãe, vi que era possível gostar de "amar como mãe". Eu, até então, tinha pensado em amar como filha, amar como irmã, amar como mulher, mas passei a entender o que era amar como MÃE. Ainda estou neste processo contínuo. Não olho para o passado para me criticar, vejo que eu era um ser em construção, me entendo, me perdoo [novas regras gramaticais rs] e me aceito. E como escolhi ser mãe, estou adorando cada vez mais ouvir o doce chamado: "mamãe, eu te amo muito!". Esta frase ganha a cada dia mais sentido e eu estou me amando muito mais por ter descoberto a beleza infinita deste papel maravilhoso: Sâmia-Mãe!

[Este texto é para minha filha - em primeiríssimo lugar! - mas é para outras mães e para outras filhas para que entendam esse processo de ser o que estamos aprendendo ainda].

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