domingo, 12 de agosto de 2012

FILOSOFIA JOSÉ AUGUSTO


Cortei o cabelo essa semana. Passei semanas desejando isso, pesquisei, vi milhares de fotos, mil cortes diferentes, mas todos voltados para o que eu realmente queria fazer: cortar curto. Eu pegava a minha franja na frente do espelho e colocava de um jeito pra saber se ficaria legal. O resultado era sempre bom e eu já estava decidida que seria isso mesmo.
Geralmente, quando eu me decido por uma coisa - apesar da demora para isso – não volto mais atrás e no caso do cabelo é mesmo impossível voltar atrás depois da coisa estar feita. E da maneira que escolhi não teria outro jeito a não ser esperar crescer, rezar, fazer penitência e tal. Eu me apaixonei pelo corte curto e há muito anelava o sonho de fazer leveza na cabeça deixando para trás alguns gramas de pelo cheio de química.
Um namoro longo, repleto de olhares atenciosos, de detalhes minuciosos e eu prestei bastante atenção para não haver arrependimentos. Fui lá e fiz! Escolhi uma cabeleireira infértil que cobrou meus dois ovários e o útero pelo corte e me dei toda a sua tesoura. Ela veio rápida e sedenta, quase sem me dar chances para desistir. Pegou meus poucos fios e os desfez.
Saí do salão com aquela sensação de que tinha todo um bairro me olhando. De cabelos molhados fiz passos mais apressados, doida pra chegar em casa e dar meu jeito no cabelo. Louca pra escová-los e ajeitá-los ao meu modo. Já no meio do caminho eu comecei a entender Robert Pattinson perfeitamente. Nasceu em mim uma solidariedade sem tamanho a ponto de me irritar ao ver qualquer piadinha a respeito da traição sofrida por este ator.
Não falem de Robert! Só eu e ele sabemos o que é ser traído depois de um namoro longo: eu não queria ver nenhum vizinho. Entrei em casa com a sensação de estar me ocultando dos holofotes e flashs das câmeras perversas de Hollywood. Rezei nos últimos segundos antes de conseguir me arremessar pelo portão de casa à dentro, pedindo a Deus que sumissem todos os meus conhecidos e que nenhum olhar menos discreto pudesse fazer considerações sobre meu novo look. Deus me ouviu.
Consegui escová-los e só na base do chicote o leão que havia em mim [agora representado em forma de juba] foi domado. Eu tremia igual a vara verde, suava só imaginando como fazer para ir para o trabalho com aquela cara. Mas o pior ainda estava por vir. Meu noivo me mandava mensagens a todo momento dizendo que estava louco para me ver de cabelo cortado. Eu tive cólicas a tarde inteira imaginando esse encontro. Como dizer a ele que aquela mulher-leoa era mesmo sua noiva querida? Como dizer que não foram ladrões de cabelo que me roubaram a aparência e sim que eu paguei por aquilo ali? Foi a tarde mais longa de minha vida. Meus colegas de trabalho, gentis como sempre, me fizeram muitos elogios, mas isso só me acalmou a ponto de conseguir desempenhar minhas tarefas. Eu teria que sair dali às 19h e meu noivo viria me pegar no trabalho.
Quando deu 19 horas eu saí, peguei o elevador e desejei que ele tivesse freios para retardar o instante do encontro. Pensei por dois segundos em agarrar nos cabos de aço igual a um gato e não descer nunca mais – ou até que eu voltasse a parecer gente. E ele estava no saguão, sentado numa poltrona e olhando o celular; pensei “deve estar ligando pro SAMU”. Levantou a cabeça e quando me viu, sorriu dizendo: “amor, você está linda!”. A partir deste momento eu resolvi ser adepta da filosofia José Augusto: “mente pra mim, me ajuda a viver!”.