segunda-feira, 27 de abril de 2009

INCERTO




Acordamos todos os dias e temos uma determinada rotina. É estranho pensar que nos movimentamos sempre dentro do incerto. Parace contraditório dizer isso, mas a única coisa que nos salva do incerto é esta pequena quadrilha que criamos e chamamos rotina. O resto é improviso!

O engraçado é notar que muitos pensam que sabem da própria vida, do que farão, o que comerão, o que gostam de vestir, o carro que vão comprar, o próximo namorado, a namorada que virá... de nada podemos falar sob um futuro do presente, um futuro do pretérido, talvez; mas se todo ato, toda cena da vida fosse somente dependente de nós e que fôssemos sempre o ator principal, o diretor, o roteirista, aí sim daria pra bater no peito e dizer: a vida é minha, eu faço o que quero dela! Amigos, como se dirige o que não está posto? Como se conduz a cena que não está pronta? A vida é sua, mas você não faz sempre o que quer dela. Por enquanto você só fará o que pode! Esta idéia de liberdade extrema é uma bela mentira contada e desfeita pelas instituições seculares, que quando caem, põem outras em seus lugares. A família está desmoronando? Não se preocupem, inventarão outras coisas para fazer você se sentir culpado e não tomar atitudes que adoraria tomar, mas no fundo sabe que não deve.

Não é tão ruim assim, é? Gostamos tanto de viver em sociedade, em família, entre pares que não abriríamos mão desta liberdade vigiada, moldada pela quina da liberdade alheia, feita sob medida para que não façamos muito além do combinado. É a troca da vida, esta solidariedade brutal que nos faz mudar de planos por um filho, por um irmão, por alguém que nos deixa amanhã, caso morra. Deus é mais, melhor nem falar isso; mas não falar, meus amigos, não muda nada! Isso não poderemos
[jamais] mudar.

Este conflito nonsense da vida é a própria vida, afinal! Quem pode me apontar um ser que se apartou deste todo e resolveu a equação incerta do amanhã? Nem Jesus! Enquanto esteve aqui tem, pelo menos, o relato de um fato em sua vida em que teve que fazer o que não queria porque sua mãe pediu, ele respondeu:
"mulher, ainda não é a minha hora", mas foi lá e fez água virar vinho!

Só podemos guiar uma passada por vez, sem garantir que haverá um próximo passo depois, ao menos nesta vida de carne e osso. Pelo menos é bom pensar que o amanhã é nosso, para fazermos dele um ontem que preste, certinho mesmo só o passado que já está definido, não pode ser refeito, sonhado, apagado, rabiscado, rascunhado. O carro que você vai comprar e o casamento marcado para o ano que vem; o curso da faculdade que você ainda vai terminar em quatro anos e tudo mais a longo prazo pode ficar só no projeto. Vale a pena projetar, pois quatro anos passam rápido e quando você chegar lá, pode ser que não tenha nada de tão bom a fazer, afinal há quatro anos atrás você estava com medo de morrer e não pensou em nada. Também se o amanhã não chegar como você imaginava, resolva este impasse se apegando às pequenas alegrias do minuto, às pequenas responsabilidades do segundo, as coisas que você pode com quase toda a certeza fazer daqui a 5 minutos, porque a vida é construída assim: gota a gota. Projete-se, mas não acredite por isso que é dono do tempo, do mundo, da vida toda, pois você não é, e é mais frágil do que costuma aparentar.

Valorize o amor sem máscaras, sem condições econômicas, sem as jóias caras, sem o jantar no restaurante bacana, é bem verdade que o amor prescinde de tudo isso. Se você esperar tudo isso para amar é porque você não sabe o que espera. Valorize a amizade sem trocas, seja você o doador universal de sorrisos e espere que têm 6 bilhões de chances de encontrar alguém que pense o mesmo que você. Valorize o cobertor quente da noite passada, pois teve gente que não acordou hoje porque morreu de frio enquanto você dormia e você fica aí chateado porque tomaram a última gota de café quente da cafeteira. Valorize seus pais, irmãos e filhos eles te amam
[e deveriam], mas não cobram nada por isso [isso é uma piada, mas com razão]. Valorize seu corpo, não porque tem gente que não o tem perfeito, estas pessoas também devem valorizar os seus corpos, tê-los defeituosos não é desculpa para jogá-los fora; o corpo é a oportunidade da vida e embora você não saiba o que está fazendo aqui neste exato momento, há sempre algo de bom que você pode fazer e que dê sentido a isso tudo. Valorize o agora, porque amanhã é presente que voce não sabe se vai ganhar!

{Sâmia}

terça-feira, 14 de abril de 2009

VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA - IMPUNIDADE





Falar de impunidade assim parece que mais uma vez alguém vai bradar contra algum escândalo público que ficou "na pizza". Quando ouvimos ou lemos esta palavra já a associamos à política no Brasil, ou à falta de Justiça em algum caso que se tornou público, mas não é o caso deste texto.

Estas palavras são de uma mãe, como tantas outras mães, que sentem muito quando seus filhos são destratados. No meu caso foi na escola de minha filha. No meu caso a sutileza dos acontecimentos garante esta sensação de não se poder fazer muito, ou se fazer nada além de, mesmo estando certa, ter que se retirar.

Minha filha já passou por 4 escolas, pois eu morava em outra cidade e quando me mudei para Salvador a coloquei numa escola bem próxima de casa. Nesta escola ela teve uma ótima recepção e ótimas professoras. Amorosas, simpáticas, educadas, comprometidas com a docência, enfim, competentes. Mudei-me mais uma vez de bairro e a mudei de escola. Foi um choque! Uma escola mais cara, mais tradicional, com uns 40 anos de "mercado" [pois o ensino virou isso mesmo: MERCADORIA], turmas menores, crianças que se conheciam desde pequenas, uma professora fechada, de voz levemente grossa, pouco doce [eu diria de jeito azedo], irônica, meio tosca. Mas isso é o que eu acho hoje, no dia em que a vi pela primeira vez eu não emiti juízo de valor porque não é de meu feitio recharçar ninguém pela imagem. Até o dia em que minha filha levou para escola a tarefa de casa que eram figuras geométricas montadas e coladas; uma delas, a mais complicada, ela me pediu para colar. Somente uma delas. Eu colei e ela olhando. Na escola ela disse: "tia - não sei por que diabos se chamar professora de tia - eu fiz a tarefa; estas daqui eu fiz sozinha, mas esta minha mãe colou", a professora olha pra ela na frente de todos os colegas e diz: "ainda tem a cara de pau de dizer que foi a mãe que fez, vou colocar uma fardinha em sua mãe e botar ela sentada na sala junto com você". Imaginam como ela se santiu? Como uma pessoa se sente na frente de um grupo que se conhece há trocentos anos e é exposta desta maneira. Como se sente quem recebe uma ironia destas e nada pode fazer.

Eu fui lá conversar com ela, ela negou. Falei que minha filha tinha se oferecido para vir comigo no dia seguinte confirmar na frente dela. Ela deve ter achado que era blefe, mas Lili foi. E olhando nos olhos da professora contou como tudo aconteceu, sem pestanejar. Ela tinha oito anos. No dia seguinte procurei a diretora que me pediu calma, compreensão, uma vez que a professora passava por um momento muito delicado. Um parente tinha morrido e deixado uma filha e ela era a única a sustentar a criança e bla bla bla. Minha raiva é que eu achei de compreender! Eu avisei somente que não iria admitir se repetisse esta situação. Com certeza, hoje eu sei, que ela deve ter feito cara de poucos amigos para minha filha até o final do ano. Mas a lição ficou: não fale a verdade, porque você será punida!

Semana passada, recebo eu um aviso na agenda de minha filha, manuscrito em caneta verde, dizendo que ela tinha mentido. Só para situá-los: esta "professora" da 2ª série é a mesma da 4ª série. Lili fez uma tarefa errada, que ela mesma achou mal-feita, na hora de entregar à professora ela mentiu dizendo que não tinha feito, rasgou a folha, embolou e jogou no lixo. A professora pegou o papel e guardou para me mostrar, então escreveu na agenda que a mentira não é a melhor forma de resolver os problemas. Concordo! Mas esta demagogia dela me matou! Resolvi ir lá, mas não sem antes questionar o motivo à minha filha dela ter mentido. Ela me disse que estava com medo da professora. O quê??? Medo, por que? "Porque ela me constrange na frente dos outros. Grita quando a gente erra e arranca a folha do caderno". Eu fervilhei de raiva. Como assim??? Fui na escola falar com ela, já que ela tinha me mandado um bilhete, não? Questionei, entretanto para que ela arrancava a folha do caderno das crianças se elas mesmas podiam fazer isso, mas ela não soube me responder. Questionei se era para minha filha se sentir encorajada a falar a verdade ou a mentira, pois o comportamento dela era dúbio demais para ser entendido claramente; ela não soube me responder. Questionei se minha filha a desreipeitava, se a enfrentava, respondia; ela também ficou em silêncio. Por mais que não se justifique, uma criança assim irrita profundamente até um santo, mas Lili não é assim. E claro que para a professora suas próprias atitudes não passam de uma brincadeira e que a família de Lili tem uma implicância com ela.

Eu também não mencionei que Lili conversa durante o sono. Senta-se na cama e fala das coisas do dia a dia. sabem qual é o assunto constante dos pesadelos dela? Adivinhem...! A escola, a professora "x", sendo nomeada em alto e bom som; os assuntos de Matemática que ela não consegue resolver, e as aulas de natação que até o bater de pernas ela repete! Quando eu perguntei o motivo dela ter mentido sobre a tarefa, ela me contou tudo isso chorando, disse que ficava com vergonha na sala.

A professora também me disse que para "evitar confusão" nem mais briga com minha filha, ela relata tudo à diretora quando termina a aula e a diretora é quem conversa com ela. Avaliem que tipo de comportamento é este. Também me digam o porquê de eu ter estado duas vezes na escola e não ter conseguido falar com a diretora. Digam-me também se é possível eu ter questionado minha filha a história muitas vezes ela ainda não ter caído em contradição e ainda assim ela estar mentido descaradamente, inclusive durante a noite dormindo. É possível um ambiente de aprendizado como este permitir o erro e a liberdade para se dizer: "eu não entendi"? Digam-me o que pode ser feito, se VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA não deixa marcas visíveis. Não é violência? Vejam um dos conceitos:

"Violência escolar é uma das modalidades da violência institucional que Tomkiewicz (1997, p.310) define como “toda e qualquer ação cometida dentro de uma instituição, ou toda ausência de ação que cause à criança um sofrimento físico ou psicológico inútil e/ou bloqueie seu desenvolvimento posterior".

E ainda:

"Abramovay (2002), adverte que ao analisar as escolas, não basta focalizar atos criminosos extremos, como vandalismos, roubos, brigas entre alunos, desrespeito a professores, depredações, extorsão, mas também “as violências simbólicas, verbais, morais, psicológicas” dos funcionários contra os alunos."

Tirar minha filha desta escola... matriculei-a, livros comprados, fardamento comprado, material comprado e tudo isso teve um custo nada baixo. Quem arca com isso? Procurei um advogado e ele me disse: "o difícil é conseguir provar". Aí vocês podem pensar: "procure outras crianças, outras mães". E eu lhes respondo que se estas atitudes dela fossem generalizadas, ela não mais estaria na escola. Como também lhes garanto que qualquer tipo de constrangimento praticado por um adulto a uma criança nem empre é sentido pelas outras ou as crianças se sentem desencorajadas a falar. Conversei com uma coleguinha de minha filha que confirmou os gritos e as folhas rasgadas pela professora, mas disse que a "tia" era "legal".

Não sei como resolver tudo isso sem causar mais danos a minha filha. Estou me sentindo refém e tendo que provar, sendo obrigada a provar que somos vítimas. Enquanto isso, eu lhes peço que prestem bastante atenção aos filhos, sobrinhos e crianças que vocês conhecem. Se ouvirem deles que "estou com medo da professora" como eu ouvi de minha filha não achem que é manha de criança que não quer ir para escola.

Não tenho mais o que dizer. Deixo-os com o Estatuto da Criança e do Adolescente:

Art. 53 - ll - A criança e o adolescente têm o direito de
serem respeitados por seus educadores.

Art. 232 - É crime "submeter criança ou adolescente
sob sua autoridade a vexame ou
constrangimento"

(Detenção de seis meses a dois anos).


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domingo, 12 de abril de 2009

AMOR DÓI. DÓI?




E é um machucado esquisito, viu? Sabe aquela coceirinha que a gente coça até ferir e tirar a pelinha? Ela fere, mas continua coçando, né? Pois isso é amor pra mim. Aquela coisa que é gostosa, mas dói um pouquinho.

No nosso mundo é desta forma que amamos: com ardidinho na pele. Por que? Eu acho que é por causa de velha amiga nossa, a transitoriedade! Nossa condição é passageira, sabemos todos disto! A morte? Está conosco desde que nascemos, isso é fato! E está com quem amamos também! Aí é que está a droga toda, é aí que mora o ardido! Aqui neste mundo nada pode só coçar, tem que arder também, ou seja, tem que doer, droga!

Tudo passa... até tudo... o que não passa aqui neste mundo, meu Deus? Só o que não é deste mundo: as almas! As coisas imortais responsáveis pela coceira gostosa não morrem nunca. Amor morre? Jamais! Mas aqui só com ardido. É o combinado - se quer nascer e amar, tem que sofrer! Pelo menos sofrer a perda aparente. Ou a perda da aparência, pois no fundo é a presença que perdemos, a presença do riso, da voz, do tato... jamais do ser.

Mas a morte não é a única coisa que leva quem amamos, às vezes eles mudam de opinião e morrem para nossa vida e entramos num luto. Uma vez, quando terminei com alguém que eu achava que amava [amava nada!] eu sofri muito [a gente sofre por tudo, até pelo que é ilusão ou pseudo-verdade]; daí fui pra internet e catei uns textos de auto-ajuda. Aquela porqueira de buraco que eu sentia no meio da droga do peito tinha que passar. Isso foi em 2007. Achei um monte no google e imprimi pra ler. Fiz questão de imprimir para fazer daquilo um mantra se fosse preciso; eu tinha um buraco no meio do peito e aquilo precisava de curativo, de solução, de calmante! Lá no texto dizia que são necessários 60 dias para esquecer uma pessoa. Quê? Rasguei a preimeira folha! Tá de brincadeira comigo, né? 60 dias??? Sim... 60 dias, minha cara. Mas não é esquecer, isso a gente consegue com uma coisa chamada amnésia e nos desenhos animados e filmes de comédia conseguimos isso com porrada na cabeça. Mas na vida real [a com coceira e ardido] não é assim! Aqui os 60 dias são para esquecermos a sensação daquela pessoa na nossa vida! Ahhhhhhhh bom... agora melhorou! Mas só 60 dias? É uma média, tá? Sei... E depois disto? Bem, depois disto você começa a caminhar torto, porque parte de sua rotina muda bruscamente, mas depois o instinto de sobrevivência [às vezes o instinto pueril, imbecil e falho de vingança mesmo "vou mostrar àquele desgraçado que ele não me matou!"] nos faz agir e pensar em outras coisas.

Sabe o que é mais louco? Eu ir desesperada caçar ajuda no Google, olha que ridículo! Mas ajudou! Eu vi que em 60 dias as coisas em mim não chamavam mais pela [droga] do ex-namorado, que minhas conversas não mais aparecia ele no meio, que eu sorria torto, mas sorria... enfim a vida tinha arrastado para longe de mim aquela tralha toda de lembranças recentes e eu tinha que apagar as outras, as melhores! Para isso seria necessário mais um tempo e este tempo veio e tudo mudou para melhor. Conheci outras gentes, apaixonei-me por outros homens, desapaixonei-me por todos eles [e eles de mim rs], li mais mil livros, cantei mais mil músicas, dei mais um milhão de risos e só eu fiquei, não fiquei só, claro! Falo assim: no final só fica mesmo a gente, aquela alma que não é deste mundo, que não pertence ao ardido da vida, que está aqui de passagem, que está aprendendo com as quedas e tropeços...

A gente aprende depois de tanto transitoriar [inventei o verbo] a permanecer! A gente aprende que há um modus operandi da dor, da perda, da porcaria do ardido e que eles passam, como tudo o que é deste mundo. À alma só pertence o amor, o único que fica, para sempre! Um dia, quem sabe? Sem ardidinho, né? Caminhemos, vamos ver onde isso vai dar!


Beijos, sempre!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

BBB




Ontem foi a final do BBB9. Não vou explicar que programa é este, mesmo porque a pessoa que disser aqui no Brasil que não sabe do que se trata, deve morar nos cafundós do Judas, numa tribo indígena sem antena parabólica e afins, ou ter problemas que o impeça de ver TV.

É isso: quem não sabe o que é o BBB? Há quem não assista, há quem não deixe de assistir e há alguém como eu que me classifico no meio termo. Esta edição eu acompanhei. Torci, me identifiquei, chorei e gostei. Outros anteriores a este, somente "prestaram" a primeira edição e o BBB de Jean e Grazi [pois foi assim que acabou ficando conhecido]. A questão é: o que me faz parar e ver um programa como este? Muitas coisas e dentre elas eu aponto a identificação com as personas [não seria cética em dizer personagens porque aí eu me sentiria como o bobo que não quer se enganar com ninguém e não aposta que possa haver ali alguma verdade por parte das pessoas]. Eu, desta vez, acertei quem iria ganhar e estranhamente desde a primeira semana. Max foi o vencedor e eu gostei e não gostei, porque parte de mim admirou ver em Priscila mais coração e mente que aquelas pernas de Roberto Carlos [jogador de futebol, tá?]. O Max mexeu com muita gente e dentro da casa conseguiu criar um halo de "em mim não pode votar" diferente do halo criado pelo Jean. Ele nos convenceu desde o início que seria o vencedor e não escondeu, mas também não esfregou isso de forma descarada nas caras da casa e do povo; conseguiu passar na sua ação a frase: "não acabem com meu sonho". E me pareceu que o jogo dançava de Max para baixo. Por mais que ele tivesse ido para muitos paredões, isso só fortaleceu a capa de vencedor e ficou parecendo o teste do INMETRO que assegurava: apostem em mim, pois demonstro ter o melhor perfil para vencedor de Big Brother's do que os outros da casa.

E foi assim, ele apostou tanto em si que convenceu quem apostasse nele; com aquele ar de eticamente correto foi andando de forma muito clara pelos paredões, pelos 'vilões', pelas mocinhas descontroladas, pela garota apaixonada e parecia que ninguém mais via [ou se via, não se importava] que Max pegou para si o primeiro lugar desde que passou por aquela porta que o levava ao lado B.

O BBB é como novela da vida real, mas é mais gostoso ainda porque os "personagens", ao fim do último capítulo, continuam a existir! E mais: podem mudar o tal final feliz. Foi o caso de Grazi Massafera. Nossa! Ela foi o segundo lugar, mas está em primeiro desde que saiu do Big Brother. Conseguiu desvincular [ou pelo menos desviar a atenção] de sua imagem de participante de reallity show e passou a ser somente a Grazi, sem nenhum aposto depois de seu nome, a não ser "aquela que encanta". O BBB nos trouxe mais quatro ou cinco personagens que vão criar a tal curiosidade de sabermos "como andam depois da fama?". Ana, Naná, Max, Priscila, Francine são os que eu terei curiosidade, por um tempo, para saber o que fazem da vida e o que a exposição lhes trouxe de novo. Até que se apareça novo BBB e minha atenção flutue para novas personas.

Eu não me acanho em dizer que meu traço curioso suplanta minha intelectualidade no caso de assitir ao BBB e às novelas da Globo. Não me importo em não parecer "cult" e dizer que ser isso é que é bom! Paradoxalmente o Bial, em seu texto final de "iluminação" [como ele mesmo disse] e não eliminação, disse que o senso-comum é coisa de quem tem preguiça de pensar. E quem prestigia o BBB senão o senso-comum? No máximo um psicólogo, psiquiatra, analista e afins de plantão vão deitar seus olhares científicos sobre o programa e "apartados do objeto de observação" sentenciarão que o BBB é o fenômeno da vida moderna que repete o mesmo traço sádico que os romanos coevos do Cristo traziam no âmago de suas almas para queimar, matar e trucidar pessoas nas arenas.

Enquanto traçam planos, teses, conclusões sobre a importância do BBB e o fato da Globo abocanhar milhões com um programa tão raso de "conteúdo", importa-me questionar: o que há de novo no homem que as mesmas coisas continuam a lhe funcionar como um móbile? Quando vai haver uma nova fórmula para nos explicar a caminhada? E quando será o próximo BBB? rs

Beijos despreocupados!

terça-feira, 7 de abril de 2009

PRESENTE DE DEUS

Eu estava na cozinha almoçando e minha filha vasculhando um quarto cheio de tranqueiras, caixas e mais caixas de papel, cadernos, enfim... aquilo que já encheu o quarto de dormir e transpassou para o quarto da tranqueira.

Daqui a pouco ela veio e falou: "mamãe, você lembra disto que escrevi para você?", não, eu não lembrava. Vocês não têm noção da quantidade de poesias, músicas, composições que Lili produz para mim! Sem contar com as colagens dos recortes de livros antigos e revistas em que eu sou a personagem principal. Na parede da cozinha tem colada uma folha com animais onde cada um é uma pessoa da família, neste ela me colocou como uma vaca sonolenta. Estranha homenagem, estranha visão de uma mãe, o que será que ando fazendo para essa menina me ver assim? Eu só sei que Lili é a criatura mais inventiva que conheço, de tudo ela transforma em arte, tudo, para ela é uma música, uma poesia, uma piada! Ela tem um talento para trocadilhos [e trocadilhos conscientes!] que é de abismar. Ela aprendeu a dizer coisas com a ironia sutil de quem não quer levar bronca e faz isso sem que ninguém perceba, só eu que sou a mãe e uma mãe pisciana como ela. Aliás, está aí a explicação para ela ser extremamente sensível a ponto de perceber sentimentos ocultos em tudo.

Pois bem... eu não lembrava que Lili tinha escrito naquele pedaço de papel uma poesia para mim. Eis o que ela escreveu em 30/02/08:

"O parto

Foi você que me pariu
Minha super-heroína
Você descobriu seu poder mágico
O de ser mãe
Você é minha vida
Sempre serei sua filha
E você minha mãe"

Aos olhos dos outros isso parece um monte de palavrinha junta na tentativa de rimar e fazer uma mãe chorar. Com certeza eu chorei, isso não duvidem; mas Lili falou em duas estrofes a síntese de minha existência: "você descobriu o seu poder mágico, o de ser mãe". Ela talvez saiba que essa magia de ser mãe me fez ser uma pessoa infinitamente mais generosa, coisa que eu não teria sido se jamais soubesse o que é amar com o infinito como medida!

Eu gostaria de saber poetizar o que sinto por você, minha filha, minha pequena estrela, meu melhor pedaço, dona de meu suspiro mais inefável, no meu medo mais forte - o que de que você não seja feliz -, criatura criadora de mim! Te amo, mas é daquela forma que se alastra sem devastar, daquela forma que os egoístas não entendem - e que eu não entendia antes de você -, te amo e se em mim você de novo coubesse, aqui eu te traria para que jamais você fosse onde eu não estivesse; você vai e você cresce, mas saiba que eu nunca mais deixarei de sentir o sabor de ter me tornado o que me torno a cada dia: SUA MÃE. Simplesmente a mamãe de Lili!


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MÃE

Uma relação que eu acho impressionante é a de mãe e filho. Instintiva, para muitos; parece que é unanimidade dizer que a mãe automaticamente ama seu filho. Isso pode ser verdade, mas ela pode não amar ser mãe de uma hora para outra. Acham estranha esta afirmação? Pois eu não. São duas coisas distintas: amor e papel de mãe, e não entender isso acarreta culpa na cabeça de muitos.

A tal culpa por não ser automática a compreensão e a inserção no papel de mãe me atormentou por um bom tempo. Eu sabia que amava aquela pessoa que a vida me deu, mas não tinha nem tido tempo para raciocinar sobre o que é ser mãe, uma vez que engravidei aos 17 anos. O único modelo de mãe que eu tinha era o da a minha e eu tinha críticas a este modelo. Eu precisava ser logo alguma coisa que se aproximasse do que a opinião geral tinha como "ser mãe", mas não conseguia. O encontro com este papel foi brutal demais para que eu me sentisse confortável executando-o e ainda tinha que me enquadrar... imaginem vocês o quanto me atormentei por isso!

Sem saber [ou sabendo e agindo por sadismo mesmo] as pessoas nos aumentam o buraco do peito. Por falta de sensibilidade pessoas nos ferem de forma intensa e nós, já enfiados na culpa, nos afundamos mais. Eu ouvia muito as pessoas me criticarem por não saber alguma coisa, por não ser a matrona, por não ser aquela que em primeiríssimo lugar colocava o filho e esquecia de si. Eu precisava tanta coisa que nem dava pra fazer lista de prioridade, minha gente! Eu precisava me formar [como ser], me compreender e saber o que eu queria. Eu não podia nem mais escolher se queria ser mãe ou não, porque eu já era e ponto final, pelo menos sob o ponto de vista biológico. Eu já tinha gerado aquela vida que estava a cada dia mais exigindo que eu lhe desse respostas; as primeiras que ela me pediu foram as que supriam suas necessidades vitais, mas logo viriam as que supriam suas necessidades intelectivas e psicológicas e eu não saberia o que fazer. Eu pirei. Sofri. Machuquei a mim mesma sentimentalmente num processo de auto-punição por ter feito algo que gerou-me esta situação e também era culpa minha o pai dela ter me deixado e eu era culpada por não ser apta para me relacionar nem com um homem, nem com minha filha - este foi meu calvário auto-imposto por muito tempo...

Decidi assumir tudo o que eu sentia, este foi meu primeiro passo. Descobri porque me doía, quase que fisicamente, lavar mamadeiras, roupinhas e fraldas. Descobri porque eu não amava fazer papinhas e sopinhas. Depois de assumir meus sentimentos para mim e jogá-lo no mundo, por amor [que sempre tive dentro deste processo todo, não se esqueçam que separei papel de mãe e amor desde o começo] por muito amor eu me voltei para ela, para minha filha. Não como pessoa, pois esta já existia para mim como a pessoa que eu mais amo no mundo, mas como FILHA. E neste processo eu me enxerguei como MÃE. A pessoa Sâmia estava aos poucos se vendo como uma mãe, vi que era possível gostar de "amar como mãe". Eu, até então, tinha pensado em amar como filha, amar como irmã, amar como mulher, mas passei a entender o que era amar como MÃE. Ainda estou neste processo contínuo. Não olho para o passado para me criticar, vejo que eu era um ser em construção, me entendo, me perdoo [novas regras gramaticais rs] e me aceito. E como escolhi ser mãe, estou adorando cada vez mais ouvir o doce chamado: "mamãe, eu te amo muito!". Esta frase ganha a cada dia mais sentido e eu estou me amando muito mais por ter descoberto a beleza infinita deste papel maravilhoso: Sâmia-Mãe!

[Este texto é para minha filha - em primeiríssimo lugar! - mas é para outras mães e para outras filhas para que entendam esse processo de ser o que estamos aprendendo ainda].

PERMANENTE X IMPERMANENTE

A melhor forma de não sofrer na Terra com a impermanência das coisas é amar o que é permanente! Define-se por passageiro tudo aquilo que não está sob o nosso controle: a vida de quem amamos, a juventude, os bens materiais, nosso corpo, saúde, o dia, as horas... não mandamos de fato em NADA destas coisas.

Este texto vai parecer meio maluco, alguns vão entender e outros vão achar um saco; mas todos vão parar e dizer: "é verdade...", porque é!

Não adianta contestar, nós só temos aquilo que damos. O que mora definitivamente em nós e que podemos distribuir é perene. Você não tem as pessoas, mas pode amá-las para sempre. E por aí vai...

E a única certeza de que dispomos é a de que nosso corpo morrerá um dia. Mas faz grande diferença o que fazemos ao chegar até o dia em que partimos daqui. E eu ando me perguntando o que é que eu tenho feito e PARA QUE SERVE O QUE EU TENHO FEITO. Bem... eu tenho respostas positivas a estas questões, mas as estou lançando para vocês como forma de reflexão. Não interessa aqui minha resposta porque isso é problema meu, eu poderia mentir, poderia aumentar, mas no fundo EU saberia a resposta. Poderia enganar os outros, jamais a mim mesma. Respondam para vocês mesmos o que estão criando de permanente em si!

E suas ações? Elas estão acompanhadas pela pergunta: "vai me tornar melhor?". Porque se formos olhar, em tudo o que fazemos, é este o nosso objetivo básico: nos tornarmos melhores. Você não conseguirá tornar ninguém melhor, caia na real. Você pode ser catalisador, interferir na reação como instrumento, mas tornar alguém melhor ou feliz é a pior mentira que contamos PARA NÓS MESMOS. E contamos também a mentira de que alguém nos faz feliz. Somos felizes quando resolvemos NOS FAZER FELIZES. As outras pessoas participam disto se quiserem.

Permanente e impermanente: a escolha é nossa. Quer ser feliz? Então já sabe no que se agarrar.



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CONQUISTA!!!

"Diiiiiiiiiiinnnnnnnnn! Abriu Serviço Social na Ufba!!!!!!!!!!!!!! 45 vagas, diurno. A inscrição é até segunda-feira! Pode fazer pela internet. A primeira fase é 16 e 17 de novembro. Sei que tá em cima, mas eu vc faria. hehehe.......Din, a concorrência eu acredito que não vá ser grande. É sua chance de ir conquistando sua independência, vez que vc não vai precisar pagar a facu. pense nisso. Estou torcendo com vc, nao preciso nem dizer isso, né? Adorei. Ainda vou fazer esse curso. Escreva o que eu estou te dizendo....rs......BJO-BJO!!!!!!!"

Eu passei na FEDERAL!!! E antes mesmo que eu acreditasse em mim, mesmo antes de pensar na possibilidade de fazer o vestibular na tão respeitada Universidade Federal da Bahia, houve quem acreditasse que eu era capaz! Esse depoimento que transcrevi do orkut para aqui é de Luiza, minha amiga e irmã. Ela me empurra pra frente desde que nos conhecemos. Sua capacidade de apoio é imensa, tanto quanto sua lealdade. Foi graças a ela e a sua mãe que comecei a sonhar, há algunas anos atrás, com conquistas minhas. E vejam: a mãe dela também é Assistente Social!

Eu sei que eu fiz o vestibular, fui em quem estudou, fui eu que escrevi cada letrinha daquelas. Eu sei que fui eu quem foi dormir às 2 horas da manhã e acordei às 5 e meia pra estudar mais um pouquinho no dia do vestibular. Fui eu que fiquei com o bumbum quadrado na cadeira por 5 horas durante dois dias. Que assisti DVD com aulas de Geografia e História, pois não fiz cursinho e não esperava ir para a segunda fase. Tudo isso FUI EU. Mas foram eles, OS AMIGOS que ficaram na torcida, no apoio, na oração, torcendo para que meu sacrifício valesse a pena! E valeu! Valeu cada lágrima de ansiedade, cada oração pedindo tranquilidade, cada minuto que empreguei na aposta em mim mesma, porque eu venci.

Isso é meu e não vai embora. Conquistei uma vaga numa Universidade e num curso que eu queria e isso estará em mim independente de qualquer situação. Mas eu sei que sendo esta conquista minha, por ser construção pessoal, não me exime de agradecer a Deus, à minha família e aos meus verdadeiros amigos pela parcela imensa de "culpa" neste meu pedaço de destino!

Muito obrigada a cada um de vocês! Daqui há 4 anos eu escrevo outro texto deste para colocar nos agradecimentos do convite de formatura!!! rs

BOLINHAS DE SABÃO

Bolinhas de sabão são um espetáculo simples. Adoro ver através daquelas finas paredes as pequenas cores que se formam. Qual o mistério da bola de sabão? O que faz o ar ficar preso ali por instantes? Com certeza há quem responda esta questão num tapa! Mas é o que menos importa...

Vou lhes contar uma história. Havia uma menina que adorava fazer bolas de sabão em dias ensolarados, justamente porque ela pensava o mesmo que eu: as finas paredes coloridinhas eram lindas! Entretanto esta menina quase sempre se punha a chorar quando as bolinhas partiam-se. Crianças... [como eu!] Ela não se conformava com o fato das bolas serem lindas, mas não serem eternas! Elas tinham que durar muito - ela dizia - não é possivel que algo tão belo e tão mágico estoure no meio do nada e suma para sempre!

Tanto é que ela começou a perder a vontade de fazer bolas de sabão. Os dias ensolarados lhe convidando a soprar as bolas, mas ela não se atrevia a fazer a mistura de sabão, porque - claro - no final das contas as bolas todas morreriam, sem ar, sem cor, sem nada! Para que fazer tantas bolas? E ela deixou de fazê-las...

Mas, vou lhes dizer, isso não a deixou em paz, porque ela sempre sonhava com lindas bolas coloridas. Sentia saudades de vê-las, sentia saudade de aumentá-las, alimentá-las com seu sopro. Sentia uma falta danada! Ela começou a perceber que deixar de fazer as bolas porque elas estouravam e lhe deixavam triste a entristecia tanto quanto não mais fazê-las! Começou a pensar nisso e aguardou o próximo dia de sol. Então se muniu de coragem, água e sabão, canudinho na mão e soprou! Uma, duas, três... várias bolas no ar! Ela sorria e sorria, mas as bolas começaram a morrer novamente e ela se entristecia e lhe crescia uma angústia e ela lamentou ter acreditado outra vez! Encostou-se no banquinho da praça e chorou!

Então, um velhinho que passava próximo [histórias assim sempre têm velhinhos sábios], ouviu seu choro e perguntou o que se passava:

- Não posso mais! As bolas que sopro sobem no ar e logo depois estouram!
- E isso não é normal?
- Não deveria ser, porque elas são lindas!
- De fato são. Mas acredito que depois de todo este tempo, minha menina, você não conseguiu ver a maior beleza das bolas de sabão.
- Não??? Como não?!
- Não viu, mas vai ver porque a maior beleza da bola de sabão está na força de quem as sopra! Por mais que elas estourem, por mais que seu colorido desapareça, a beleza está em você que sabe soprar!

Ela não mais chorou e soprou as bolas de sabão para sempre...


{Sâmia}

GRANDE AMOR

Nada mais bonito do que descobrir um grande amor! Esse encontro de almas que se comprometem uma com a outra é tão belo. Belo é doar-se a este alguém sem esperar nada em troca. Belo é sentir-se segura perto deste amor e saber que aonde você for e em que situação estiver, sob qualquer hipótese, você jamais o perderá!

Enquanto escrevo eu choro, choro porque consegui sentir novamente o imenso amor que devoto a alguém por toda a minha vida. Esta pessoa é diferente de mim. Tantas vezes me senti incompreendida, tantas vezes eu não fui correspondida como eu queria ser, mas ela sempre estava lá do jeito dela, me amando! Hoje eu sei, que não importa o que ela fizer sempre a amarei! E agora mais lágrimas... uma represa que se parte e deixa lavar e levar o que melhor sinto em mim.

Não há mais cobrança, não meço mais forças e não quero mais ganhar dela. Não mais a condeno e agora a entendo bem mais. Eu queria tanto seu colo, sua proteção, seu carinho... mas agora eu decidi ir buscar; decidi que vou pedir que me deixe amá-la com o que tenho, só isso, eu só quero te amar. E se você não entender nada do que eu disser, importa saber que agora eu resgatei o que há muito tempo queria voltar a ser.

Minha mãe, este texto é pra você. Agora eu lembro de todos os gestos de seu imenso amor por mim, agora eu lembro que sou sua filha e que em todos os piores momentos de minha vida você sempre esteve ao meu lado... precisou eu correr o mundo, precisei ir tão longe pra saber que a única coisa que eu mais queria no mundo era o teu colo, o teu abraço. Eu te amo. Para sempre.

{Sâmia}

A MENINA QUE COLECIONAVA PORTAS

Ela colecionava portas desde que abriu a de sua casinha de bonecas... talvez não a primeira vez, mas quando lembrou que podia colecionar coisas. Mas não eram coisas qualquer, eram as coisas que ela achava serem suas. Sempre achou lindas as portas amarelas. Então as portas amarelas eram suas não importava onde estivessem!

Primeiro da casa da boneca Susie, depois da casinha do cachorro, do quarto da melhor amiga, do quadro na parede da casa de sua avó que tinha uma casinha [a portinhazinha era amarela!]... Todas as portas que a menina via e que eram amarelas, tornavam-se suas!!!

Ela viveu assim a vida infantil, depois, quando a adolescência chegou, acreditavam que as portas amarelas sumiriam de sua mente, mas não... a do primeiro emprego, a porta do chefe era amarela! O prédio tombado do lado do terreno baldio tinha uma linda porta amarela e ela a colecionou. Colocou esta porta no melhor lugar de sua coleção - fez questão, sabe-se quanta história tinha aquela porta amarela?

A menina, parou e percebeu que não colecionava só as portas amarelas. Amarelo era desculpa, porta também... o que ela gostava mesmo era da passagem... do ritual singelo e propulsor de abrir portas! Delícia!!! Sabe o gosto de tocar na maçaneta de leve, girar devagarinho, ouvir o chiadinho rouco das dobradiças, ver a luz entrar ou sair do ambiente... as portas lhe davam este gosto incomum! E só ela colecionava isso - delirante! Ela valorizava a passagem das coisas, não era só abrir portas: propunhas-se a mudar de passos. Toda vez que abrisse uma porta ganharia a oportunidade que ela lhe oferecia de ver diferente.

Embora a menina lamentasse profundamente as pessoas que temiam as portas, embora sentisse muito por todos que abriam as portas e com medo do que tinha por trás delas, não avançasse; ainda que houvesse uma multidão com medo de portas, ela jamais deixaria de abri-las! Os covardes não têm capacidade de abrir portas, de reconhecer valor dos chiados de dobraduras??? Ela sentia, mas ia seguir assim mesmo, porque descobriu que o segredo da vida é colecionar portas! E que todas as portas que ela abriu durante sua vida, eram sua por direito, pois ela teve coragem de enfrentá-las...

E esse texto é para que saibam que abrirei para sempre todas as portas que vierem, pois elas são minhas e o girar da maçaneta é o momento mais sublime que há: é quando decido continuar a caminhar, apesar das portas.

HERANÇA

Voluntariamente, algumas heranças não podemos recusar, dentre elas as genéticas. Estas ainda não podemos - já conscientes e nascidos - manipular ou retirar. Imagine alguém a escolher: "não quero aquele olho azul piscina, quero o verde-semáforo de vovó!", não dá mesmo.

Já outras heranças nós podemos nos negar a receber, ou, em recebendo, negar-se a perpetrar. Eu falo da herança educativa que recebemos dos nossos pais. Fica até difícil, né? Como é penoso se livrar de algo que você cresceu ouvindo ser o certo!

Essa reflexão me tomou no ônibus, quando eu vinha de Castro City e numa das infinitas paradas vi uma mãe e seus misérrimos, numerosos e famintos filhos. Filhos empencados em filhos; filhas que tomavam conta do papel de sua mãe, meninos chorosos, saudosos porque a mãe pegava o ônibus. Eu vi a mãe se despedir e vi uma mocinha [já tomando para si a ação de uma mulher] com um irmão mais novo no colo. A criança berrava. A menina com toda impaciência fazia a criança calar com o que sabia: aos tapas. Ela recebeu essa heraça de sua mãe e a passaria, possivelmente, aos seus menores irmãos e futuros filhos...

Essa herança vem do flagelo da fome, vem do castigo da seca, vem do meio escaldante, infernal, paupérrimo. Vem de pessoas que sabem ser bichos porque, na verdade, não tiveram mais opções. Tornaram-se cactus e furar, para eles, é bem natural - é o que sabem fazer. Endureceram antes de amadurecer. Doeu em mim ver seres humanos embalados pela natureza local e sem tanta distinção dos bichos que pastavam magros em pasto próximo.

Eu fiquei pensando como eles poderiam se livrar de ter aos calcanhares uma herança tão seca! E pensei em mim, no que eu tenho, no que eu sou, na educação que recebi de meus pais [que são superprotetores], no papel e nos papéis que desempenho na vida e multipliquei pensamentos de comparação ao infinito... Também pensei em meus amigos, nos conhecidos e em suas vidas e vi o paradoxo se encontrando num choque tremendo! Eu vi duas pontas da ferradura se encontrando: enquanto aqueles seres se tornaram duros pela herança que receberam de seus pais e da natureza do meio em que viviam, muitos dos que eu conheço se tornaram frágeis criaturas pela facilidade aleijadora que receberam como herança!

Aquelas meninas carregavam seus irmãos e iriam cozinhar o que tivessem para matar a fome dos seus enquanto sua mãe viajava; os outros eram carregados no colo e recebiam na boca o que comer, engordavam, se esparramavam nas poltronas e ficavam no ar-condicionado.

Pensei que o excesso da coragem e a falta dela podem aleijar. A virtude continua lá: no caminho do meio!

PARA TODO MAL, A CURA.

"Tudo muda o tempo todo no mundo". Lulu Santos, mesmo depois de tanto tempo, nos pode dar frases que encaixam perfeitamente nas nossas situações particulares. E esta me cabe como uma luva!

Ontem, no estudo mediúnico, o tema escolhido foi "Transitoriedade". E as coisas que as pessoas diziam pareciam-me como um conselho particular, até cheguei a me questionar se não liam minha mente, mas não... os problemas de todos se parecem muito! Na verdade estes problemas se parecem porque, independente de quais sejam, o início e o fim é sempre o ser humano. Então a minha dor é a dor de tantos outros que sentem dor, mas não do mesmo jeito. Os conselhos que ouvi caíram como um bálsamo e lavaram minha alma.

Eu sempre teorizo sobre os problemas do mundo, mas nada melhor que pôr em prática em nós mesmos os conselhos que damos. Tantas vezes falei de perdão, tantas vezes tentei fazer com que o que reclamava ter sido atingido em seus mais caros sentimentos visse o outro como um instrumento de aprendizado; tantas vezes pedi que se colocassem no lugar dos que lhe feriram... e ontem eu pude fazer tudo isso. Então bendita dor, não? Tá aí... depende! Dor é sempre dor, minha gente, o que muda é a reação que temos diante dela e para que tal dor nos serve.

Nada é bom e mau, simplesmente. Eu li há alguns dias em "Nosso Lar" do autor espiritual André Luiz [aliás, ele foi um presente estes dias], um caso de um senhor que teve seus bens tomados e entrou numa falência irremissível, tinha família para sustentar e amargou dias de sufoco material até sua morte. André o encontrou depois de seu desencarne na colônia como um trabalhador solícito, feliz e luminoso. Se envergonhou porque o "verdugo" deste homem tinha sido seu pai. Mas o homem lhe garantiu ser este "mal" a OPORTUNIDADE luminosa de sua modificação interior. O que ele ESCOLHEU se transformar depois desta aparente perda lhe garantiu na verdadeira vida a consciência mais tranquila. Pode até existir muitas coisas que são pagas com MasterCard, mas as perenes ele nem sabe quanto custa.

O mesmo conceito relativo da dor se dá ao conceito de valores. Nós também escolhemos o que vale ou não para nós outros e assim vamos amealhando o que achamos ser um tesouro. A cada oportunidade como esta que cada um tem de se tornar melhor interiormente, se o indivíduo escolhe barganhar através da revolta, ele se empobrece e perde "valor"; ainda bem que a vida é contínua e o aprendizado infinito. Se ele se deixa vencer pelo medo da luta e cata um atalho onde se embrenhar, com medo da dor, com medo do sofrimento, uma hora não será mais possível fugir.

Acho que vocês lembram de um texto que escrevi "Abaixo a proteção". Pois bem... foi o melhor que fiz! Proteger-se de que? De viver? De aprender? De cair? Por que? Levantar sempre é possível e o que é melhor: ainda mais forte!

Estamos expostos SEMPRE ao livre-arbítrio alheio, este é impossível controlar; mas podemos controlar nossa ação [em não causar dor] e reação [ao agir perante a dor] e por isso somos senhores dos nossos destinos. Tudo pode ruir e acabar, o aprendizado fica. Todos podem ir embora, mas seus sentimentos estão burilados. A vida pode mudar num intante, mas você arregimentou condições de vencer! Você é sempre o início e o fim da sua vida e não os outros! Se não fosse aquele amigo a te ferir, seria um outro, porque você precisava mesmo era aprender a lição da fidelidade; se não escorregasse na casca de banana aqui, pisaria no quiabo mais à frente, porque você precisava aprender a se levantar, se não fosse isso, seria aquilo que te oportunizasse a mesma lição.

Então não classifiquemos as dores, nem os intrumentos das dores, pois Bom mesmo é o Pai que está nos céus e nós outros estamos sempre na condição de aprendizes!

Um beijo no coração de todos os que eu amo e obrigada pelo apoio sincero, fraterno e amigo de sempre!!!

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TUDO

Lili recebeu um merecido castigo este fim de ano: não ganhou presente de Papai-Noel. Eu dei o castigo e não sei quantas vezes chorei um pouquinho antes do Natal por isso. Eu me perguntava se não estava sendo severa demais, afinal de contas ela sonha com o Natal [e com os presentes] desde junho! Ela acredita em Papai-Noel, o que pensaria com este castigo? Isso eu me perguntei demais. Entretanto, sempre me vinha à mente os motivos do castigo [que prefiro silenciar] e via ser justa a decisão.

Antes do castigo eu dei avisos, conversei, expliquei os motivos de se agir desta maneira e avisei que numa reincidência haveria castigo pior. E houve e cumpri com minha palavra. Mesmo assim, me senti de castigo junto com ela. Senti que eu estava sendo punida juntamente com minha filha porque, ao não lhe dar o presente, eu não veria seu rostinho se iluminar, não ouviria seu riso, seu espanto ao ver que ganhou "magicamente" o que estava escrito na carta endereçada ao bom velhinho.

Mas tudo aconteceu de forma diversa ao que eu previ. Ela não recebeu o presente, mas não se entristeceu, seu rosto continuou iluminado e seu riso o mesmo. A menina está feliz, não fez mais malcriações e não sentiu falta de presentes no dia seguinte. E aí, determinadas fichas começaram a cair. Criamos necessidades falsas o ano inteiro! Criamos desejos desnecessários e quando não os realizamos nos frustramos! Temos tudo! Dei-me conta de que ela não sentiu falta do presente porque ela possui mais do que precisa e que a falta do presente no Natal negou-lhe apenas o excesso dos desejos. Ela me perguntou antes do castigo: "mãe, o que eu peço no Natal? Eu não tenho idéia do que vou pedir, porque eu já tenho isso, isso, isso..." e desenrolou uma lista de "issos" que ela já possuia e eu não me dei conta de que seus desejos estavam sendo realizados com uma facilidade aleijadora!!!

Com medo de fazê-la sentir-se infeliz pela falta do presente, eu fiquei de castigo junto com ela, sofrendo por lhe negar um objeto do desejo. Eu pude ver que deveria ter ficado triste caso lhe negasse o objeto da necessidade! Eu sempre quis criar minha menina de forma moralmente correta, utilizando a ética cristã e não tinha percebido o quanto entrei na ética consumista onde se está feliz quanto mais de possui, se tem e não se "é", simplesmente. Graças a Deus, o que venho pregando aos ouvidos de Lili, deve ter surtido um efeito positivo; porque ela não se sentiu a pior das criaturas por não ter ganho aquele presente de Natal. Eu é que adiei atitudes, porque eu é que alimentei como mãe o ideal errado do consumo. Sinceramente, ao dar um presente a ela, eu estava alimentando o meu ego infantil; estava dando presentes à Saminha de 9 anos que há dentro de mim e que tem aquela sede de mais e mais... Como tantos outros pais e mãe do nosso tempo eu passava minha herança de desejos não satisfeitos a minha filha e neste Natal ganhei de presente a chance de fazer diferente.

E sim... nós já temos tudo! Olhem a sua volta e vejam o quanto de supérfluo já possuem. Contem quantas coisas vocês têm e quantas delas vocês REALMENTE precisam. Minha filha está jogando o video-game que ganhou no dia das crianças, andando na bicicleta que ganhou no ano passado, ouvindo o MP4 que ganhou de aniversário e não tem mais sentidos para gastar com os objetos que possui! Eu não quero entorpecer minha filha entupindo seus braços de posses que ela não poderá usar, eu não quero distraí-la do que é essencial, porque ela possui sim tudo o que de material precisa, mas ainda falta muito [muito como eu!] para ter TUDO do que seu espírito se alimente!

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QUE ABRAM AS PORTAS DA ESPERANÇA! RA-RAI, RI RI!

Como dizia Sílvio Santos naquele programa de imagem quase monocromática. Sempre me questionei porque o SBT tem uma imagem tão sem cor... whatever, não vim aqui falar disto!

A vida é um pouco parecida com este programa famigerado sbteriano; às vezes fazemos um pedido e sentimos a necessidade de vê-lo satisfeito. Nutrimos a esperança de ter nas mãos aquilo com que tanto sonhamos. Não é só um bem material, mas os outros todos desejos plantados na alma e cultivados por muitas vezes ao longo de uma vida. Eis que se abrem as portas da esperança e... nada está por detrás da cortina. Frustração, revolta, tristeza... "Mas por que?", pensamos, "meu desejo é tão legítimo!". Sim, ele é, mas nem todos os nossos desejos mais caros nasceram para serem atendidos. A situação da falta, da espera, da frustração é como um remédio amargo, mas que cura a alma. Se o desejo fosse atendido a educação do espírito seria postergada, mas aí - não nos enganemos - a vida se encarregaria de nos conduzir para uma situação adversa e similar para que o aprendizado continuasse.

Sabemos mesmo de todas as nossas necessidades? Sabemos intimamente e de forma detalhada o que nós, como espíritos imortais, precisamos aprender? Nem precisa ir tão longe para responder que não. Há mais mistérios entre o céu e a terra e nossa vã filosofia anda longe de abarcar o todo! A nossa vã filosofia nos faz acreditar merecedores de tudo aquilo que desejamos, mas mérito exige trabalho e o trabalho do qual estou falando é o íntimo, de modificação perene! Andamos mesmo trabalhando nesta reforma? E por aqui acaba a similaridade com o programa, pois a vida não é um pedir sem esforço, não é um desejar sem trabalho e sim um trabalhar e aguardar até que o momento justo possa chegar. Assim, quando soar a frase: "e que se abram as portas da esperança" estaremos preparados para receber o que está por detrás das cortinas bufentas e empoeiradas [mentira... a vida é mais bonita e colorida que aquele programa!].

Também pode ser, que no trabalhar incessante da própria alma, distraídos em construir um caminho seguro de mudanças, entreguemos a encargo da vida sem ansiedade a execução dos nossos desejos íntimos e depois de um período vemos que o desejo não era lá tão bom; passamos a querer outras coisas, descobrimos nos menores detalhes as maiores nuances de felicidade. Caminhamos sem a pressa e sem perceber não temos realizado o desejo inicial, mas ainda assim nos tornamos inapelavelmente felizes. Conquistamos a serenidade de consciência, abraçamos valores imortais, renegamos prisões físicas e tomamos posse dos nossos pés...

Acredito, ainda, que somente quem está nos bastidores, puxando as cordas que abrem as cortinas da esperança é quem sabe verdadeiramente o peso de se revelar um desejo. Eu falo dos abnegados amigos invisíveis, porque nós não estamos sós e temos estes que velam amorosamente por nós. Enfim, confiemos e trabalhemos porque ter esperança é também trabalhar!



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MALA, BOLSA, SACOLA. QUEM É VOCÊ?

Eu estava pensando sobre o que dizer aqui, uma vez que se eu for fazer vontade, meus assuntos convergirão para um só ponto. Não posso tornar-me a chata da paróquia! Embora a vontade seja fazer um mantra, cantar o mesmo refrão e repetir a poesia de Vinícius mil vezes: "de tudo ao meu amor serei atento... que mesmo em face do maior encanto, dele se encante mais meu pensamento..."

Mas, muito bem! Já que estou falando de chatice também [além de amor] vou tocar num assunto que me ocorreu hoje no banheiro [belo lugar pra se ter idéias!]. Sobre pessoas, claro. Todos sabem que minha paixão é gente! É destrinchar o andar das pessoas [claro que seu andar psicológico, pois assim como cada um tem uma postura física diferente, também a tem psicologicamente falando. Por exemplo: tem gente que claudica da cabeça! E quem não tem sua muletinha?] que eu gosto de fazer. E já que estamos falando de muletas, vamos falar de rodinhas!

Pois então... no banheiro eu pensava em classificar o nível de dependência psicológica das pessoas pelo teor de "portabilidade" de cada um. Há gente que é uma mala! Tem gente que é uma mochila, outras são uma "pochete", carteira, bolsa de mão, saco plástico! Tem gente pra todo gosto! E o que não falta é nível de dependência para se estabelecer. A pessoa mala tem que ter pelo menos as rodinhas, né? Ninguém merece carregar um peso retado na mão! Sem roda, queridos, não dá! Mesmo que a bagagem seja muito grande [e sobretudo por isso] não tem como portar alguém assim. Sabe... se a gente for olhar com cuidado, toda mala muito cheia carrega o desnecessário. O papel da mala sem rodinha, para melhorar a si mesma é se despojar do estorvo desnecessário que traz em si para não pesar nada em suas relações. E pra desfazer malas eu ajudo!

Tem a pessoa mochila! Nossa, essa você precisa ter tanto cuidado! Ela já não possui rodas por natureza, né? Então você carrega ela onde? Nas costas!!! Nossa Senhora! Acho que tem mais gente mochila que mala, não? Não sei... vou pensar mais no banheiro! O que eu sei é que as mochilas nem são tão cheias de coisas assim, mas quando ela gruda nas suas costas você passa a andar com ela pra todo canto e depois desenvolve dores lombares: é o peso leve que carregamos por quilômetros! Achamos que é um pouco prático, mas depois cansa...

A pessoa pochete você coloca pra levar pouca coisa. E pra falar a verdade, aquilo não combina com qualquer coisa que você vista! Ela não pode circular com você em todos os ambientes, só nos mais discontraídos. É a pessoa que te acompanha só em algumas ocasiões e quando você a abre, ela não tem muito pra te oferecer: afinal dentro dela não cabe tanta coisa assim.

A carteira [aqui entram as de festas]. Esta é fina, chique, tem dinheiro, mas não é prática, não tem bagagem e só serve pra fazer o social! Quando você chega em casa guarda ela num lugar pra não ser estragada com o tempo. E geralmente elas vão parar em bazar de madame. Cá pra nós... quem quer alguém assim? Eu não quero!

Gente-saco-plástico: fuja! Olha... se você estabelece um apego com uma criatura destas está frito! Esta pessoa não morre nunca! [Não estou falando de morte física, hein?] Dura quase que a eternidade! E deve ter gente saco plástico da época de Noé sobre a terra! Elas não mudam com o tempo ou demoram demais pra mudar! Você não pode colocar qualquer coisa dentro dela porque ela é frágil demais, além do mais nem sempre ela é transparente, a maioria das vezes é turva! Aí você olha por fora e acha que vê tudo o que há dentro dela, mas quando abre o que você pensava ser uma escova de dentes é, na verdade, um lavador de garrafas! A pessoa saco plástico também não entra em todos os lugares [apesar de ter gente que adora um saco plástico pra tudo!].

Bem... o que você escolhe ser? E quem você quer com você? Eu quero ser uma mala e quero uma mala pra mim. Apesar de sermos pesados de nossos apegos temos dentro de nós coisas necessárias. No mundo que vivemos não há uma mala que ande só! Não há uma mala que não traga coisa só ruim e que não tenha uma coisa muito boa dentro. Todas as malas devem querer, entretando uma boa rodinha pra lhe dar mais autonomia, porque, cá pra nós, mala sem alça e sem roda? Tô fora!!!
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1 X 1

A disputa gera opositores. São duas partes que se dividem e buscam ter somente para si o objetivo que ambos almejam. Quando é que disputamos? A vida inteira somos estimulados a competir e estimulados a ter embates com nosso próximo: escola, família, emprego... coleguinhas que tiram maior ou menor nota, irmãos que disputam o amor dos pais [tantas vezes estimulados pelos pais mesmo], marido e mulher, amigos, colegas de trabalho de olho na promoção... queremos o melhor para o "eu".

O que tem no fundo desta vontade de estar na frente? Porque o egoísmo dita que se alguém ganha é melhor que nós? E finalmente: o que é ganhar? Esse é um ponto fundamental, porque é aí que moram os valores que elegemos para nossas vidas!

Por exemplo, ontem eu falava com Aline sobre ter prazer. Ela é evangélica e eu espírita, somos cristãs e, envolvidas em nossas atividades religiosas, muitas vezes somos criticadas por quem não é profitente de religião alguma [não que seja obrigação] pelo fato de não estarmos metidas em festinhas, saindo pra barzinho e paquerando. Não sentimos prazer nisto e sim nas atividades que desempenhamos. Assim é quem disputa para ter razão: o prazer dele não mora em ser feliz perenemente, mas na satisfação fulgaz de "estar certo" e muitas vezes certificar de que o outro está errado. E tantas vezes o prazer não está em "ganhar" e sim em ver o outro perder! Para quem nos critica estamos perdendo... e nós estamos apenas cumprindo o que dita nosso coração. Infelizes estaríamos em estar espalhando sementes que ao frutificar só nos dariam frutos amargos.

"É melhor ser feliz que ter razão!" Maravilha de frase porque ela sintetiza o fundo deste texto. Estar na frente para mim pode ser ter a alegria de ver quem eu amo "ganhar". Estar na frente é saber que meu tempo não indo para festas [que não gosto] é empregado para ouvir quem sofre. Eu poderia estar na paquera, mas prefiro amar a muitos fraternalmente enquanto meu tempo de vida na Terra se esvai. Eu não preciso disputar com alguém porque não quero me opor a ninguém e sim formar parcerias...

Se você prestar atenção, numa corrida todos estão juntos, acompanhados e só quem chega em primeiro é que fica sozinho! A alegria deste "jogo" que eu "jogo" é perene! E ela me diz todos os dias que "os últimos serão os primeiros!".

Beijos nos corações!

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ABAIXO A PROTEÇÃO!!!



Eu passei boa parte de minha vida tentando me proteger de ligações verdadeiras. Eu achava que os amigos que tinha e a quantidade deles provavam que eu estabelecia ligações verdadeiras, e estava enganada. Pensava assim: "se eu tenho amigos e eles gostam de mim e eu deles, então eu tenho amigos". Ficou estranha a frase, mas meus pensamentos são estranhos mesmo... eu, na verdade, tinha pessoas! Eu estava ligada a elas pelas circunstâncias e acreditava que estavam na minha vida de forma real, mas não era verdade. O que eu permitia era que as pessoas vissem minha casca [a que inventei pra proteção] e entrava na vida delas de verdade, mas a recíproca ficava longe de ser verdadeira.

Isso começou a mudar. Eu não queria admitir que agia desta forma, mas quando algumas pessoas furaram minha carapaça de proteção eu pude perceber que ela realmente existia. Sabe como percebi que estava deixando que amigos me acessassem? Quando senti saudade deles. Antes eu os conquistava e se tivesse que ir embora nem dava tchau. E hoje não é assim. Tem muita gente que contribuiu nos últimos dois anos para que isso mudasse. Percebi com Nena e Marcelo que amizade independe de distância. Luiza me ensina lealdade e dedicação. Adriana e Luciano chegaram e me conquistaram à primeira vista. Tem Aline que amo como irmã e Carolina Vidal que adotei como filha. Quando percebi estes todos já me cercavam por dentro de tal forma que os amo!

E então entendi que se proteger é deixar de ter o melhor de mim para os outros e o melhor dos outros em mim. Que sofrer é um processo de ajuste natural num mundo de pessoas desiguais, que experiências negativas se misturam às positivas e que as pessoas imperfeitas como eu, erram até quando não querem errar e eu preciso entender que um dia todos acertaremos mais. Entendi que a proteção invisível que eu levantei quando sofri impediu que eu deixasse de sofrer futuramente e outras vezes, mas também de ser feliz. Nada passava [pela barreira], nem o sofrimento, nem o amor e assim a balança pendia para a dor! Estar só para mim, ainda que cercada de pessoas, é sofrer. No final das contas eu sofria me protegendo do sofrimento!!! Deixei de ter amigos imperfeitos e não tinha amigo algum! Vivia na ilusão de que a quantidade deles me provava que os tinha conquistado.

Agora já perdi o medo de sofrer e abaixei a barreira. Estou lutando para conseguir deixar-me disposta cada vez mais e levar a vida me entregando e integrado nela. Já não tenho mais possíveis opositores e sim pessoas passíveis de serem amadas; já não temo tanto o futuro e estou vivendo um presente cheio de presentes! Hoje sim... recomeço a ser feliz!

:)

ESSENCIALMENTE HUMANA

Eu sinto tanta coisa que às vezes esqueço que há do lado de fora de mim muita gente que sente parecido. Nesse esquecer de lembrar que há gente do lado de lá de fora, eu vou criando em meus sentires um monstro desumano. Vou dando vazão ao medo da incompreensão alheia [impressionante: na hora do julgamento eu lembro dos outros!] e me deixo dominar pelo "será que serei aceita?".

Quantas vezes esqueci que as outras pessoas sentem como eu? Quantas vezes esqueci que meus medos são tão meus quanto do mundo? Eu estava pensando então, que decidi não mais temer estar aquém da opinião de alguém; não quero mais estar abaixo do que quero para mim, aliás - do que mereço para mim. Então senti que os outros são tão humanos quanto eu e assim me sinto mais livre para errar e para aprender a acertar e fazer, nisso tudo, o meu caminho único até o que eu convenciono chamar de Deus!

Eu não sou uma heroína, eu sou uma menina! E às vezes eu tenho medo de crescer. Eu também já quis me proteger e inventei uma mulher que não sou eu, inventei um alguém que não leva desaforo para casa e deixa todo o troco na rua! E esta, definitivamente, não sou eu! Descobri-me querendo um urso de pelúcia pra abraçar de noite [e até ganhei, o Pulgo] e lembrei que antes eu sabia mais sonhar com as cores mais rosadas... eu posso voltar e ainda assim crescer, porque perdi o medo de sofrer, perdi o medo de ser eu e mesmo que esse eu seja aquela menina de tranças eu prefiro ser criança que aprender a beter!

Estou renunciando ao cargo de forte. Decido que doravante vencerei a mim mesma e o mundo que me espanque com o descaso, com a crítica, com o desdém; não tô me importando em ser compreendida, tô querendo mesmo é plantar lindas flores em meu jardim, eu quero cuidar de mim, para ser melhor que esse eu. Um amigo há muito tempo me pediu que eu não corresse mais atrás das borboletas, porque era difícil conseguir pegá-las e quando conseguisse elas estariam tão machucadas e feias que logo morreriam e eu teria que correr atrás de mais; ele me pediu que as flores que eu tivesse dentro de mim fossem regadas, que outras fossem plantadas e assim as melhores borboletas viriam e eu as escolheria a dedo para fazer parte de meu jardim. Na época eu não quis entender que levaria tempo para eu querer mesmo preparar o solo, arar e adubar meu terreno até que flores pudessem ser cultivadas. Agora eu compreendo. Desenvolvi amor por mim! Eu amo quem sou e os outros amores são as borboletas que sentem o perfume que eu tenho e vêm estar comigo. O melhor é que elas podem até ir embora, que eu posso até lhes sentir a falta, mas continuarei linda, perfumada e convidante sempre!

Agora meu grande passo é ser uma pessoa que sempre fui, mas tinha esquecido que era. E desta vez, não volto atrás!
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MAIS AMOR!

Quem diz que ama incondicionalmente não pode condicionar o maior dos sentimentos ao tempo.

A hora de amar é ontem, temos que ter pressa! Amor é a condição intrínseca da alma e por isso ele não começa - infinitiza-se! E por isso não podemos dizer o dia certo que amamos alguém, nem contar as horas, tampouco firmar condições. Se você diz que ama, que sabe amar, não escolha uma hora pra isso, ou melhor, escolha: agora!

Estou falando de amor, de Amor. Estou pedindo pra que você retire de cima da sua capacidade vinda de Fábrica um cobertor de medo enorme! Vai! Não é pra falar que ama... "eu te amo" é bem fácil e no mais, às vezes, olhamos para um ser e dizemos que o amamos, mas estamos tão enganados quanto a nós mesmos que acabamos por enganar o outro... Não é maldade humana, é condição humana, simplesmente, necessitar conhecer-se a si mesmo para não afirmar o que ainda não sente! O que jamais significaria impossibilidade de sentir.

Não estou falando de amor mulher-homem. Aqui não entra nenhum artefato biológico que lhe impulsione em direção a alguém. Estou falando de escolha, de postura que um dia será coletiva e, por hora, é pessoal. Amar sem perguntar até quando, amar não se dando - se doando! O amor é seu, é peça sua, e ao doar percebe-se que ele ainda continua em si mesmo incrivelmente maior... Porque é Amor, porque veio de Fábrica.

"Amem uns aos outros como eu vos amei", quer dizer que nós cheinhos de defeitos até a tampa temos total condição de sermos amados e inapelável obrigação de Amar.

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CHEIRO DE NATAL

Vivemos mergulhados em atos constantes de fé. Não achamos, claro, mas acredito que seja verdade. Não achamos, óbvio!

A fé é basicamente caracterizada por crermos em algo antes que este algo aconteça, ou de que tenhamos declaração prévia que acontece. Sentimos que é verdade no futuro. Que tá lá por acontecer e "mas é claro, acontecerá". Assim se molda um conceito básico de fé diante do que se convenciona ter por algo inquestionável, inenarrável, indemonstrável além das cercanias limítrofes da alma.

A esta altura já se levantaram brados de 'ela surtou, né?'. Não, ainda não. Eu apenas observei que num mundo em que nos relacionamos diariamente com pessoas cuja a vida apostamos em conhecer, é impossível viver sem fé! O termo idiossincrasia talvez se aproxime do conceito que eu estou por esclarecer, mas ainda falta alguma coisa e talvez esta coisa jamais aparecerá tão clara pra vocês quanto o é para mim. E aí nasce em vocês um crédito, o qual me dão, para continuar a ler o resto do texto. Acreditam sem que tenham a certeza de que explicarei: fé.

Pessoas: mundos diversos, pontos de vista, opiniões e sentimentos infindos, inefáveis! Quem se atreve a pôr a mão no fogo pelo irmão? Pela mãe, pai, marido, esposa, colega de trabalho? Todos nós! Fazemos isso todos os dias, horas sem sentir. Não fazem? Vocês não apostam nas juras, vocês não apostam talvez nas promessas, mas convivem com quem não conhecem dentro de casa! Sim! Por que quem se atreve a me dizer que conhece a fundo a alma de alguém? Quem se atreve a me dizer que lê os mais recônditos pensamentos do outro e afirma que jamais ele seria capaz de tal ou tal coisa?

Todo dia é uma aposta! Todos os dias acreditamos que entendemos e que somos entendidos. Podemos mesmo o ser, mas sem alguma garantia que o somos: fé!

E o que tem cheiro de Natal com isso? Ah... é só uma expressão toda minha que usei agora pra explicar o que sinto ao confiar em alguém: renovação, esperança, presente, confraternização, cooperação, vida! Ter fé no outro é sentir o cheiro de Natal... Não o que cria a expectativa de receber do outro o meu maior presente, mas sim de que o outro traga um mundo novo, cheio de idiossincrasias [ seria esta a palavra?] e me faça apostar nele como ele sem saber aposta em mim!

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SAUDADE, POXA!

Saudade é ponte! É um pedaço do outro dentro da gente! Pedaço incrustado num coração, pedaço embutido noutra alma: parte fica aqui, parte vai com o outro... saudade dói por isso. E a gente só pode sentir o pedaço da ponte que se alicerça em nós. O diacho é a distância! Saudade se faz quando há distância, mesmo de almas, não precisa ser física; basta que o olhar se perca e que não se encontre porta pra conversa que aí tudo vira a ponte da saudade... mas deste jeito é meio torto porque um sente falta e o outro... vai embora!

E saudade da infância? É doce e cortante, faz rir e faz chorar... nesta não se pode nem tocar! A gente só toca nesta saudade quando a criança que há em nós não morre, mas andam matando tantas crianças... o mundo anda sem saber como sonhar! Parece que virou pecado ter fé! Coisa estranha que todo mundo ultimamente tem se esquecido que já sorriu e anda falando de dor pra todo canto! Eu prefiro então a dor da saudade de infância, pois ela me lembra que já fui só riso!

Tem hora que a gente se sente um poço de saudade: do ontem, da praia, da cidade que nasceu, da amiga que foi pra Portugal, do amigo de Minas, da amiga do Ceará, do pai e do irmão, da filha ainda bebê [essa saudade não me perdoa, ela se vinga com todo gosto usando o tempo - que passa...], da tia que foi pro mundo dos sentimentos, das amigas de infância, do que eu era, das bonecas, da inocência... "saudade mata a gente, menina!". Mas saudade é conquista, saudade é posse de lembranças; aquilo registrado no cartório da alma que diz que você é dono de um pedaço parado da vida que mexe com outro alguém também! Cutuca o coração e faz doer, mas impulsiona o pé e faz a gente ir buscar, porque saudade [se você olhar bem] é um vício humano de querer de novo. E quando queremos de novo, vamos caminhando os pés para buscar mais chão e encontramos outra coisa, parecida com o objeto de saudade [o primeiro], mas não era bem aquilo, mas aquilo [o segundo] já nos deixa com saudade e vamos indo mais a frente... um ciclo, não?

Alma não atravessada pela ponte da saudade é alma morta! Sem lembranças, não somos: seremos somente. Mas dos projetos que nada constróem faz-se pilhas de papel que se perdem no tempo. Pessoas que não sentem saudade são um lapso de tempo, um hiato da vida, um travessão, um hífen... não escreveram história, não assinaram lista de presença da vida e vão embora para lugar nenhum, pois ninguém dá conta delas.

Eu sinto saudade. Eu tô com saudade, mas não estou triste. Tô feliz por ter ponte pelo mundo em que a outra ponta tá em um monte de gente bacana, a quem chamo de tudo, sobretudo de amigos!

AFOGADO

Um tempo sem escrever e hoje me deu vontade de contar uma história, inventar uma coisa e colocar aqui. Não é sem sentido, mas adveio de um sonho e como um sonho pode ter caráter profético [ou não]. Pode ser que eu esteja inventando e disso ninguém mais saberá, a não ser eu [que acabo me esquecendo também de forma que, se isso ocorrer, tudo vai virar verdade...].

Alguém na praia. Alguém nada e é arrastado pelas correntes. Alguém começa a se afogar, mas não está sozinho no mar; está sozinho como entidade, como indivíduo, mas completa uma multidão. Esse alguém é visto da praia por outros tantos, mas poucos se arriscam a ir até lá no mar tentar salvar-lhe a vida. Mas ele não pede ajuda por muito tempo e logo uma alma se lança contra as ondas bravias e arriscando a própria vida, nada em direção daquele que está para se entregar às ondas.

Demora, mas chega. O afogado sem forças também se tenta salvar e agarra em seu salvador com tanta ânsia que, sem perceber o intenta afogar também. Agora são dois que lutam, mas não lutam contra dois: contra si, contra o mar, contra o outro, contra o mar, contra a entrega, contra a busca... a luta se estende até que o que veio salvar resolve num golpe tirar a consciência do que primeiro se afogava para que seu ato desesperado de se agarrar em alguém o mate também! Pronto: inconsciente ele agora se entregou nos braços do que veio lhe resgatar dos braços da morte.

Para ser salvo de um afogamento, não agarre com muita ânsia em quem veio lhe resgatar. Se entregue que o outro sabe o que faz. Ele vai te abraçar calmamente e te trará à praia. Até que você o possa olhar nos olhos para agradecer, você estará de costas, sendo trazido sem mirar o rosto de seu salvador. Não lhe agarre no pescoço, pois você o afoga também: morrem os dois. Saiba ser salvo, porque senão você morre só.

AÇÚCAR!

Esta história que lhes escrevo foi contada no centro espírita que freqüento. É verídica.
Um senhora enviuvou muito cedo e ficou com 6 filhos pra criar sozinha. Era muito pobre e não tinha estudo, de forma que só lhe tinha como opção de emprego fazer algumas faxinas, que ainda assim eram esporádicas. Ela e seus filhos passavam situações de penúria. Mesmo assim esta senhora não se queixava porque ao seu lado moravam um casal pobre de velhinhos:

--Eu não posso me queixar, mesmo nesta situação eu ainda posso trabalhar para conseguir algo para mim e meus filhos. E eles? São velhos, pobres e já não podem mais trabalhar pelo próprio sustento.

Então ela que sempre conseguia já muito pouco para si e para os filhos, dividia o que tinha com o casal de velhinhos. Ela morava perto de um mangue e quando ia catar caranguejo com os filhos, não era incomum acontecer de um de seus filhos dizer:

--Mãe, vamos pra casa. O que catamos já dá pra gente comer.

E a senhora viúva:

--Vamos catar mais alguns para os nossos vizinhos velhinhos.

E se punham todos a juntar mais alguns caraguejos que não ficam passeando por cima da terra lodosa. Para consegui-los é preciso cavar o chão, enfiar a mão na lama bem fundo e correr o risco de levar um belo beliscão de caraguejo antes de pegar o bichinho. Ainda assim, ficavam mais...

Um dia, a velha vizinha lhe bateu à porta solicitando um pouco de açúcar. Ela explicara que o seu esposo necessitava ingerir açúcar de forma contínua, uma vez que sofria às vezes de hipoglicemia - baixo nível de glicose no sangue -, entretanto naquele dia lhe faltava açúcar. Com medo dele ter uma crise recorria à vizinha para conseguir algum. Ela adentrou na casa e descobriu que o único açúcar que possuía era do açucareiro e só daria para adoçar o café preto de seus filhos até a tarde seguinte. Pensou duas vezes e cedeu tudo o que lhe restava.

No dia seguinte a jovem viúva conseguiu, como por milagre, uma faxina para fazer e com o dinheiro que recebeu comprou apenas pão para si e seus filhos. Foi para o que deu. No meio do caminho, voltando para casa, ela se lembrou que não tinha um pingo de açúcar. Ela precisava ter comprado açúcar porque os filhos iriam tomar café puro com pão. Já era tão amarga a vida e seu coração doeu muito ao lembrar que seus filhos teriam que provar naquele dia o amargor do café e o seco do pão para matar a fome. Mas já não havia jeito, ela serviria assim mesmo a comida. Chegou em casa e se pôs a preparar o café.

Enquanto fervia a água e coava o café, ela foi pensando:

"Meu Deus... como é triste dar café amargo a meus filhos, minha Nossa Senhora, me ajude, adoça a boca de meus filhos para que eles não sintam tanto o amargo do café. Já não temos leite, o pão é seco e agora eu ofereço a eles o café sem açúcar. Me ajuda minha Nossa Senhora!"

Ela se agarrava ao que podia para evitar o sofrimento a mais para os filhos, mas sabia que iria ouvir a lamentação das crianças ao tomar o café. Por isso ela serviu para cada um o que lhe cabia e saiu dali se trancando no banheiro; não queria ouvir o choro dos filhos. O coração já lhe apertava no peito pela vida tão sofrida que tinham. Trancou-se no banheiro e só saiu dali mais tarde quando pode conversar com uma das crianças:

--Ô meu filho... como estava o café? Vocês comeram tudo?

--Comemos sim, minha mãe. A gente só pensou em te pedir que da próxima vez que fizer café: PONHA MENOS AÇÚCAR! ESTAVA DOCE DEMAIS!

A fé adoça a vida!

LIBERDADE

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Há sentido na liberdade? Somos livres? Eu não tô querendo uma discussão circular sobre liberdade! Isso os chatos já fazem, eu sou chata, mas não faço isso. De minha parte acredito que liberdade é abstração. Além de ser abstrata, a liberdade é conceito pessoal. Será que nós aqui somos mais livres que o cara da cadeia? Sei lá! Eu só sei o seguinte: nos amarramos mais do que nos amarram! Explico: creio ser a liberdade um fator intrínseco. Onde eu estiver, de que jeito estiver, se eu tiver amarras não serei livre. "O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar!". Entenderam? É isso que quero dizer!

Quem nos voa somos nós! Não há quem nos prenda as asas. Bem... façam o seguinte: fechem os olhos, calem o bico e pensem em algo; qualquer frase, uma música, qualquer coisa. Agora se digam quem os barrou neste momento. Depois respondam: quem são vocês? Vocês acreditam ser a figura que apresentam sobre a face desta terra? Acreditam que são um conjunto organizado de células que trabalham incessantemente para que um dia não trabalhem mais? E depois... o nada? Bem... isso me sufoca! Acreditar que o exercício de pensamento alto para dentro de si é fruto das células juntas que formam minha massa encefálica [Freud ia enxergar libido nessa palavra "ence-fálica", mas esqueçam, não sei que porcaria Freud veio fazer neste texto. Sigamos] é arrasador! Gente... eu cantei uma música na mente... eu vi uma paisagem na mente... e depois o verme vai comer minha música e minha paisagem? Ele que coma a dos ateus, não os meus! Eu creio na liberdade! Então, nada vai me roubar o direito inalienável de pensar, pois é o meu exercício de libertação...

Liberdade, como discutem os que se ousam definir o termo, é o que fazemos quando estamos sós e dentro de nós. Ainda que tenham outros influenciando o nosso pensar a escolha ainda é nossa. "Sempre Coca-Cola", uma banana: é na hora que eu quiser!

A liberdade ecoa libérrima [sempre quis usar este termo, tô até emocionada] em todos os segundos de nossa existência. O que cremos é que é a sua gaiola, ou não! Liberte sua liberdade - liberte-se!

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LEGENDA:

Textos entre colchetes são meus pensamentos no meio dos outros. Ignore-os: você pode ficar como eu!

A PORTA DAS PALAVRAS.

O que as palavras abrem? O que se pode conseguir através do poder de uma palavra? Tanta coisa né? Há momentos que simplesmente não sabemos o que dizer. Outros há que falamos demais - diz-se o que não se deve! E eu já fiz tanto isso...

Mas a palavra bem sentida, dita de coração abre caminhos que não sabemos ou não sentimos e ao vermos ele ali - aberto - pensamos como foi que conseguimos. Tanto isso é real que dizemos coisas às pessoas e esquecemos, mas elas não: jamais! Mesmo de "brincadeirinha", quando ouvimos certas palavras, elas têm o poder de ecoar em nossa mente a fora e nos trazer certas sensações que não gostaríamos de sentir [ou não]. Dizer a palavra que encontra a alma alheia é a mágica do saber o que, como e quando dizer. Quando vemos: acontece!

Outro dia desses eu ouvi uma coisa na "brincadeira" que de tão grosseira me fez mudar completamente o que eu pensava sobre aquela pessoa. Fiquei magoada. Sem saber ouvi o que ela queria me dizer em todos os gestos, mas quem tem coragem de ser todo "id"? Mas disse... e ao dizer eu senti que aquilo era verdade... fechou uma porta, fechou um caminho, fechei-me. Mas eu tenho ouvido e lido boas palavras por esses dias, viu? Estas feias e tronchas não me fizeram crer no que a pessoa quis me dizer. Perdeu-se apenas a oportunidade de criar um laço de afeto real, mas nada que a encarnação não reaproxime! Um dia... quem sabe?

Vou deixar para vocês uma música de um cantora de extrema competência - Giana Viscardi. Não conhecidíssima, mas, ainda... ainda...

Boas Palavras
Giana Viscardi
Sempre quando eu estou sozinha
E não sei bem por que porta vou passar
Procuro a voz de um amigo
Que muito me pode iluminar
Poucas palavras pra quem chora
Nenhuma quando já basta olhar
Sopram - se palavras de quem ama
No ouvido de quem quer se aproximar
Todas palavras no meu sonho
No meu risonho momento de lembrar
Suas palavras e caminho
Que elas ajudaram encontar
Todas as cores na palavra do poeta
Claras palavras na boca de quem canta
Doce palvras na ponta da caneta
Boas palavras na boca de quem encanta
Boas palavras na boca de quem encanta
Boas palavras na boca de quem encanta
Usem, de si, a melhor palavra antes que as portas se tornem concretas. Usem da boca para construir laços. Usem a língua para saborear a beleza de palavrear o amor; se é tarde ou não, importa saber que é possível! Importa saber que melhor usar palavras para construir caminhos e jamais fechar portas!
[Benta e maldita a palavra escrita]----> Antonio.
[Amada e odiada a palavra falada]----> Daiane.
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A CABRA!

Um dia um senhor que passava por grandes problemas em sua vida, foi à procura de um guru muito conhecido em sua região. Esse homem tinha um pequeno sítio e tudo na sua casa ia de mal a pior: mulher e filhos doentes, animais morrendo, falta de dinheiro e provisões. Ele já não podia suportar tanta desgraça em sua própria vida e na dos seus, disse que se não arranjasse uma solução logo já estava pensando no pior: tirar a própria vida.

O guru morava numa casa no alto de uma colina, sozinho e criava também alguns animais. Pressentiu quando o homem desesperado adentrou por sua sala lhe pedindo auxílio [talvez o último!]:

- Pelo amor de Deus, eu preciso de ajuda!

- Em que posso lhe ser útil, meu irmão?

- Estou a ponto de cometer uma loucura!

E passou a relatar todas as degraças e meia que vinham lhe acontecendo na vida. O sábio lhe ouvia cada frase e palavra com a paciência de Jó. Quando ele já tinha secado a água do corpo de tanto prantear e relatar, o guru disse:

- Irmão, para seu problema eu tenho uma solução.

O homem desgraçado não coube em si de júbilo, só faltou beijar o guru.

-Você vai levar aquela cabra para dentro de sua casa e ao final de um mês voltará aqui para me contar o maravilhoso resultado!

O homem se espantou. Mas como uma cabra branca e gorda resolveria seus problemas? Mas se era um guru retado que nada errava que estava falando, ele confiaria e faria exatamente o que o guru lhe aconselhou.

E lá vai o senhor descendo ladeira abaixo com uma cabra saltitante amarrada na corda. Chegou em casa e a amarrou no pé da mesa da sala. Hum... pra quê? Esta cabra pintou o diabo a quatro dentro da casa do pobre homem por um mês inteirinho. Aí é que a vida dele virou um verdadeiro inferno! A casa, ao final de um mês, cheirava ao mais puro odor caprino, ninguém mais suportava! Ele só esperou dar meia-noite do primeiro dia do mês e foi direto na casa do guru tirar satisfação:

- Seu guru de uma figa, você disse que minha vida ia virar do inferno ao céu com aquela cabra da peste [esse trocadilho foi bom, falem a verdade!!!]. O que ocorreu foi descer ainda mais do térreo para o subsolo! Eu não aguento mais ouvir o som da cabra, sentir cheiro de cocô de cabra, olhar na cara da cabra!!!

Ao que o guru obtempera:

- É verdade, meu amigo. Eu achava que a cabra ia lhe ajudar... mas desta vez acredito que me enganei. Traga o animalzinho de volta - animalzinho uma pinóia, gritava o homem - pois minha solução foi péssima...

O homem não contou conversa e trouxe a bicha pulando feito um canguru, amarrada pelo pescoço como se estivesse no céu, a cabra não apresentava a menor feição de arrependimento por ter desgraçado ainda mais a vida do homem!

Ele voltou para casa se sentindo aliviado. Naquela noite ele dormiu o melhor sono em tempos! Pensem vocês que mesmo doentes, a mulher e os filhos sorriam. O homem só pensava em acordar no dia seguinte a tentar arar a terra que de tão seca rejeitava a enxada. Entretanto, meus amigos, eu lhes digo que o guru e a cabra estavam mais que certos: nada na vida do homem tinha mudado a não ser a visão acerca de seus próprios problemas. Ele voltou a ter a mesma vida que tinha antes da cabra lhe vim compartilhar a companhia, a única coisa que estava diferente era o próprio homem e sua família.

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SIGA EM FRENTE! NÃO OLHA PRA TRÁS!

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Abraçar a ética é fazer uma escolha. Não é fácil. Mas é bom.

Escolher um caminho que contrarie sua vontade, mas lhe faça respeitar a dos outros é muito estranho a princípio, mas para quem crê na Lei de retorno, sabe porque o faz. Não é fácil querer aquela torta de chocolate light e ter que dizer não porque ela já está reservada [pelo menos um pedaço, ou o maior, ou o melhor] para outra pessoa. "Eu queria aquela! A que me parece a mais gostosa! Droga..." Não pode, embora você ache que até deva dar umas mordidinhas nela! rsrsrs

Não é nada fácil dar as costas, caminhar, decidido pela estrada que ao findar vai dar em nada, nada, nada do que você pensava encontrar! rs Parafraseando Gilberto Gil, eu não sei o que me aguarda lá na frente, sei que deixo para trás uma aparente deliciosa torta e que caminho para o incerto, mas eu caminho na certeza de que não lesei o interesse daquele que reservou o melhor pedaço da torta para si. A pessoa que olhou e "amou" a torta primeiro que eu pode até não saber apreciar aquele pedaço, pode até já estar cheia e enjoada [o que não creio rs afinal ela é mesmo gostosa!], mas ainda assim, se eu passo na frente e como a tortinha o erro está em mim e não em quem não soube morder a torta e apreciar cada mínimo pedaço...

E para falar a verdade, minha intuição me diz, de forma muito forte, que eu mereço uma torta inteira [outra] e não um pedaço dela e que morder um único pedaço é deixar de tê-la inteira! E eu digo e repito: EU QUERO TUDO, EU MEREÇO TUDO.

A ética só me diz que, embora eu sofra momentaneamente, essa é minha oportunidade de firmar o que creio em minha vida e aos olhos dos outros, é minha oportunidade de ser ética em tempo integral e não só quando estou dando conselhos aos outros. "Olha... não se deve comer a torta alheia. Só coma se tirarem da frente dela a placa 'reservado'...", "mas Sâmia... a outra pessoa nem tá mais ligando...", "não importa, se você come, terá que ser escondido pois se alguém vir você será acusado de ter comido a torta dos outros, ter lesado o direito dos outros ainda que ele nem lembrasse mais que o tinha! Além do mais, se ninguém mais vir, você sabe que o fez!".

Ah... vai por mim, quando você menos esperar será contemplado com uma linda torta [do tamanho de sua fome] escrita em cima: "Parabéns pra você!" Não vou mentir: do jeito que tô com fome, vou cair de boca! rs

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ENCONTROS E DESPEDIDAS

Quando eu era menor, achava que a vida caminhava numa linha e que à gente bastava pisar numa ponta até chegar na outra: e então morria. Eu achava que para cada coisa somente a opção correta, ou apenas duas; ou eu escolheria uma ou outra, não teria opção "c", "d", "n.d.a"... Eta vida que engana! Nada de duas opções! São tantas e muitas tentadoras. Hoje eu não acho que a vida seja uma figura de uma só dimensão, ela é multidimensional. Se vire pra encontrar o caminho certo. Esteja certo de que fará escolhas erradas. Aposte que vai sofrer fazendo mesmo a escolha certa! A vida se transformou, então, num labirinto!

Não é fácil saber o certo e fazer o certo. É mais fácil desejar fazer o certo e cumprir tudo errado. Natureza humana, fazer o que? Já dizia Paulo de Tarso: "por que o bem que eu desejo fazer eu não faço e o mal que eu não desejo fazer eu faço?". Entretanto, chega um momentinho na vida, que você, de tanto saber o certo e fazer o errado, cansa de sofrer desta maneira. Começa a escolher rever seus desejos e aspirações; começa a querer e gostar muito do que é certinho para não permitir a diferença entre o que se quer e o que se faz. Felicidade [será?].

Eu agora me encontro num corredor cheio de portas. Umas brilham me chamando, outras são largas e destas há muitas... tô caminhando para aquela ali na frente: a estreita.

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*EU DANÇO*

E ela dança. Balança o corpo magnificamente como se cada nota que lhe alcança lhe desse contorno ao ser. Decalcada pelas notas, ela forma uma figura bonita contra luz, de encontro ao ar...

A música lhe toca e ela sorri, mas nada lhe impede de dançar. Pés que tocam o chão traçando com o úmido suor riscos na madeira; ela afasta do meio da sala todas as cadeiras e faz do espaço o seu papel onde traça sozinha a dança de sua alegria. Um corpo que coreografa solto um gostoso bailado de felicidade. Quem a poderia parar? Nem se a música estancasse no ar, pois a melodia já lhe tinha impregnado na mente que ela nasceu pra dançar.

Liberdade. Livre ela pode compor com as mãos, [que perfuram os espaços vazios com movimentos tão delicados] o tracejado sutil e envolvente chamando os olhos alheios para dançar entre o mover de seu corpo e o saculejar das mãos. Criança que entende sua imediata necessidade de ser ali a bailarina de seus sonhos: perfeita. Nada a mais se lhe ajeita a não ser o ar, a música e de vez em quando o chão. Para que caminhar? Ela voava e bailava e sorria e se entregava precisa, exata sem ter vontade de proteger a si mesma de nada.

Dançava sem medo. Encanto de quem nada precisa provar, ali ela bebia o que lhe satisfazia e se dava completa - corpo e alma - à dança. Bela criança, já sabe dançar! Ofega, respira, transpira, sorri. Deitada no chão ela cansou. Agora os outros olhos é que dançam ao lhe olhar.

AMOR

Propus a mim mesma falar sobre isso na medida que eu pudesse. Não sei o quanto sei sobre o amor. Acho que o amor é aquilo que se derrama sobre tudo o que se faz [quando já se tem ele dentro de si]. A gente tem uma mania de dizer "te amo", né? Pronto... pra mim quando se diz, já se sente limitado. É como se pegasse o sentimento e fraseasse e como se o fraseando o limitasse e como se o limitando o matasse! Mas não deve ser assim como eu penso porque as pessoas continuam amando...

Eu mesma destribuo uns eu te amo's por aí afora e continuo sempre sentindo esse calor gostoso no coração que inunda a alma. Há coisas, entretanto, que me fazem mais ter certeza de que amo; quando eu vejo um bebezinho me dá um negócio no coração, me vem uma vontade de chorar... e eu não sei porque mas isso me parece ser amor [pode ser uma sementinha de amor também, já que num sei se sei o que é amor]; quando eu vejo alguém salvando a vida de um desconhecido ou tendo uma atitude de perdão... meu coração se enternece também. Nessas horas eu poderia dizer: eu sei o que é amor! Mas é bem verdade, eu não sei se sei.

Há dias que eu acho que o amor fugiu do dicionário e eu penso que ele se perdeu entre as palavras de tal modo que não lhe atribuo outro siginificado senão interesse. Entretanto descobri que há um plano maligno para dessignificar o amor e fazer um monte de gente pensar que amor exige troca, mas também não caio nessa. Tão pensando que eu não sei nada. Eu não sei tudo, mas algo eu sei: amor é impulso que transcende a fonte que o emite, mas lhe torna parte de si enquanto o conduz. Seria então o amor o sistema perfeito que produz a energia que consome? Isso, eu não sei.

Quando eu sinto saudade dos meus amigos eu descubro que os amo; quando olho para alguém que sofre eu descubro que o amo; quando eu me calo pra não dizer uma besteira a alguém que me ofendeu, eu descubro que o amo... E depois de tantas provas eu sei que o amor, pelo menos, existe e que eu não sei falar de amor. Descobri que não tenho talento para decodificar amor [imagino só o pobre do Aurélio tentando a todo custo falar dele!]. Decidi que sou melhor sentindo isso, porque eu sei que sei amar. Ah! Isso eu sei!


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LEGENDA:

Os textos entre colchetes são meus pensamentos. Podem ler o texto todo sem eles que não fará diferença... ou não.