domingo, 15 de agosto de 2010

CAUSA E EFEITO




Fazer ao outro o que gostaria que ele nos fizesse é uma “trava de segurança” para evitar agir de maneira errada com os outros. Claro, agindo sob o instinto de preservação, ninguém vai fazer mal ao próximo enquanto estiver seguindo esse preceito. Mas há que se pensar no fato de que existem pessoas sem amor próprio e que se causam mal e se agirem de acordo com o já citado preceito, farão mal aos outros. E aí?

Aqui mora um ponto interessante de análise. Se é necessário se querer bem para conseguir fazer bem aos outros, podemos então afirmar que toda vez que fazemos mal a alguém é porque não nos amamos. Amar o outro como a si mesmo não é esforço algum, é uma lei natural, pois amamos com o amor possível a nós outros. Aquele que se arvora em dizer que ama mais ao outro que a si mesmo, está afirmando que não ama ninguém, uma vez que é impossível ofertar o que não se possui nem para si mesmo.

Analisando diversos conceitos ensinados por Jesus, percebemos a lei de causa e efeito em plena ação. Todo o Evangelho é baseado em equanimidade; um outro exemplo disso é a advertência: “não julgueis para não serdes julgados, pois com a mesma medida que julgares assim também tu o serás”. Nela está ínsito que com a mesma medida que julgamos seremos julgados, pois essa é a justiça que compreendemos [já que a utilizamos] e junto com isso há outra afirmação: “a cada um será dado segundo as suas obras”. Como ele não veio destruir a Lei e sim fazê-la cumprir, encontramos o velho conceito de “olho por olho” explicado sob outro viés. Na verdade, confundimos a Justiça com a vingança e aplicamos este conceito de maneira punitiva, na base do “toma lá, dá cá”. Muito embora seja assim que enxerguemos a situação, incorremos no erro de retirar do conceito de justiça o caráter de aprendizado. É com finalidade de aprender que vivenciamos a mesma situação que fizemos o outro vivenciar e isso não é "vingança divina", pelo contrário, é um instrumento didático insuperável. Mas só quem conhece a Plena Justiça é quem deve aplicá-la e é por desconhecermos a Justiça em sua plenitude que,toda vez que nos apressamos em fazê-la com as prórpias mãos,fazemos vingança, pois da Justiça só desejamos a face da "desforra".

Observemos melhor cada uma das afirmações aqui feitas e veremos que só recebemos algo quando já sabemos ofertar e só ofertamos o que já conhecemos em nós. Aquilo que vivenciamos na própria alma [e que por isso já compreendemos] é o que nos será dado. Passemos a uma exemplo menos complexo: uma criança comum não consegue resolver problemas matemáticos que ela só conseguirá resolver se estiver cursando Matemática na Universidade; desta mesma maneira, ela não conseguirá elaborar um problema matemático mais complexo e pedir que outra pessoa qualquer o solucione. Partindo deste princípio, não amaremos o outro de uma maneira maior do que a que nos amamos; nem seremos julgados de uma maneira distinta da que julgamos, tampouco faremos ao outro algo diferente do que já fazemos a nós mesmos.

Alguns podem pensar: mas eu vejo gente cortar outra pessoa e não se cortar; vejo gente enganando os outros e fazendo de tudo para não ser jamais enganado... e aí? Lembram-se da passagem bíblica em que Pedro desembainha a espada e corta a orelha de um dos soldados que vieram prender Jesus? O que diz Jesus a Pedro? “Pedro, embainha a tua espada, pois quem pela espada fere, por ela perecerá”. Se Pedro se amasse conscientemente não faria nenhuma ação contra o outro que pudesse recair sobre si mesmo futuramente. É fácil dizer que se ama a si mesmo, mas estamos aqui para provar isso também.

Toda vez que ousamos fazer mal a alguém estamos afirmando silenciosamente: “eu ainda não sei me amar”.