quinta-feira, 22 de julho de 2010

POR QUE NÃO PENSEI NISSO ANTES?

Sabe quando uma coisa sempre esteve ali e você não tinha olhos de ver? Às vezes com o amor é assim também. Às vezes é preciso, antes de tudo, lapidar o coração, o olhar, a vontade; preciso educar os desejos e rever as prioridades. Felicidade nem sempre é aquilo que você imaginou que lhe faria feliz, mas exatamente o contrário, ou melhor, o que você nem cogitou te fazer feliz. E quem disse que a felicidade não pode ser uma rasteira que te derruba e te coloca cara a cara com uma boa surpresa?

É preciso, também, permitir-se mudar, voltar atrás, limpar os olhos, e dizer: “eu errei”. Alguns caminhos só são bem feitos se forem assim, desta maneira. De uma maneira que parece bem torta, entretanto, precisava ser assim de um jeito troncho, que parecia errado e que ajudou a fermentar uma outra possibilidade. É preciso ter coragem para retirar o véu dos olhos.

A vida não é um caminho reto, porque não somos seres retos e constantes. Só assim ela seria uma planície infinita. Mas a gente ainda se sente tentado a teimar com as intuições, se sente convidado pelo perfume da facilidade e é por estas e por outras que a determinados truques nos tornamos presas fáceis: só “bobos” caem em armadilhas de “bobos”. Tanta distração nos faz querer a paixão avassaladora e chamá-la de “amor de nossa vida”; nos garante que tal profissão é a garantia daquele carrão e daquela “casona” e que tudo isso é a meta de nossa vida; nos evidencia que aqueles mililitros de silicone nos seios nos fará ser mais amada, enquanto que eles só vão atrair alguns lobos desmamados e nenhuma gota a mais de amor. Aí sim, por crer nestas baboseiras, é que a vida começa a ficar sinuosa, cheia de vales e tediosa.

Preciso é traçar um mapa para o olhar e começar a colocar como bússola da alma certas coisas que não morrem nunca. Coisas simples, reais e que estão logo ali na frente, debaixo do nosso nariz. Ousemos na arte de manter a atenção voltada para a essência e a vida será surpreendentemente simples, verdadeiramente bela!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

ADIVINHA...

Você vai ficar sem mim. E eu vou rir porque você nem vai ligar. Eu vou rir porque sei que você não sabe o que está perdendo. Como um bobo sendo filmado sem perceber na praça ou no banco, eu estarei rindo de você. Por detrás do vidro fumê, quem vai me ver? Mas eu vejo, vejo tudo e posso listar o que você não vai ganhar com este seu ímpeto, com este seu jeito insano de me desprezar, de nem ligar pra mim todos os dias. Ah! Já posso até vislumbrar você dizendo: “como assim?” É querido... você não me viu passar e eu passei! Agora estou aqui maquinando e te filmando... você brincando de ser feliz, de guarda baixa, de riso fácil [me engana que eu gosto, porque não vejo graça no que você ri]. Fica aí, viu? Quando o trem da surpresa te pegar... mas eu não vou contar! Quando eu quis cochichar segredos, você se tremendo todo me disse que não estava entendendo nada. Ah foi? Pois então... agora sou eu quem se cala! Agora você nem sabe, fuma um cigarro e anda na cidade. Limpa as lentes e ainda não vê melhor. Acorda todos os dias e vive com sono, pensa que é livre, mas tem dono. Sou eu quem manda em você e amanhã outra vez você vai me perder!
Chamo-me tempo!

sexta-feira, 16 de julho de 2010

ARISTARCO NO MEDIASTINO.

Estou com frio, minha pele se arrepia ao toque do vento, sinto a chuva fina e constante no vidro da janela e tremo: como estará lá fora? Aqui, que tem cobertor, café com leite e pantufas, já é tão frio... lá fora deve estar medonho.

O frio e a chuva sempre me deixam melancólica. Fico pensando em coisas que seriam, pessoas que ficariam, ocasiões de quase alguma coisa; nada é exato num dia frio, nem as horas passam como no relógio. Arrasta-se grudada no ponteiro dos segundos como uma gosma, uma lesma, uma corrente de alma penada. Geme e estertora o ponteiro das horas, enquanto me encolho em meu quarto pensativa.

A cidade debaixo do caos molhado, toda chovida! Toda turbilhonada, aguerrida, apressada da vida e molhada... pingando tristezas pelas esquinas, debaixo dos viadutos tremidos de frio. Afogando as barrigas vazias do mundo que fica de fora de minha janela. Uma cidade sem trinco de porta, de paredes de papelão, sem questão de privacidade, sem segredos debaixo de camas que não tem. São segredos ao lado de sapatos rasgados, molhados e chovidos, também. Se minha hora, quando anda, deixa um finco no chão, a da cidade num dia como hoje, demora anos pra amanhecer e cava um Grand Canyon nas esperanças.

Não falo da cidade que é minha. Falo da cidade dos sofridos! Dos meninos e meninas de rua, de esquina, da vida nada fácil. Falo daqueles que não têm um vão debaixo do que improvisam como cama para guardar sapatos que não acessam. Nestes dias, em que a vida fica tão chovida, eu me lembro melancólica das coisas que seriam certas, das pessoas que ficariam felizes e ocasiões de quase plenitude, se mais gente resolvesse fazer da cidade toda, do mundo e da vida, uma extensão do próprio quarto quente. Se eu estou com frio, lá fora deve estar medonho!


{Poupando buscas no google: Aristarco é uma das crateras da Lua}

quinta-feira, 15 de julho de 2010

BICHO RUIM!

  • Mãe!
  • Huum?
  • Mãaaaae! Minha mãaaaaêeeee!
  • O que é, menina?
  • Tem um bicho no meio do meu peito esticando meu coração!
  • O que?!
  • É mãe... desde ontem eu sinto o bicho grudado aqui, ó!
  • Onde, menina?
  • Aqui mãe! Grudado, ó! Vê aí se tá sangrando...
  • Mas se vê cada uma... tô vendo nada não menina!
  • Afff, tu não sabe ver nada, né? Eu tô sentindo o buraco que o bicho tá fazendo desde ontem, tô sentindo um troço molhado no meu olho, quando eu respiro até incomoda e tu diz que num tem bicho nenhum? Eu quero é prova que não tem um bicho aí!
  • Ô menina... explica isso direito! Tu tá com um buraco no peito?
  • É...
  • O olho derramando alguma coisa quente?
  • É!
  • E quando tu respira incomoda? Sente até meio que doer?
  • É sim, mãe! É isso!
  • Ah... minha filha, é saudade!
  • Eu não disse que tinha um negócio aqui, não disse? buáaa.

terça-feira, 13 de julho de 2010

EVANGELHOS APÓCRIFOS DO JABOR

A internet é um oceano. Tem de tudo: sereia, tubarão assassino, garrafas pet, peixes... tudo. Algumas coisas são recorrentes, como aquelas malditas correntes – e outros trocadilhos infames como este. E por falar em trocadilho e correntes, tenho recebido de variadas pessoas há alguns anos, vários textos assinados por Arnaldo Jabor. São textos que falam sobre todas as coisas do mundo, mas sempre com aquele ar “jaboresco”: crítico, risonho, com gotas de limão, morais no final. Os primeiros eu li crendo mesmo se tratar de mais uma obra feita por ele e com selo JABOR 9001 de qualidade. Mas... toneladas de lixo depois, vi que corriqueiramente pescava botas! A gota d’água foi o último, onde Jabor falava sobre Nicks de MSN. Ele, supostamente, criticava as pessoas que mandavam recados através da frase do msn e começou a desfilar o arsenal de críticas. O texto era escrito de maneira nada brilhante, não possuía absurdos erros de português, mas chegou a falar sobre festas de Salvador e Serrinha. Ahn? Como assim? É... o texto dizia que algumas pessoas vendiam ingressos para festas destas cidades. Daí, fiquei pensando: “Jabor tem amigos baianos e que freqüentam estas festas, não é?” ou “Jabor deve ter uma galera imensa de contatos, mais ou menos o Brasil inteiro” e ainda “por que o Jabor não me adiciona?”. Vai catar coquinho na beira da praia!!!

Tudo nesta internet é do Jabor? Passou a fase do Bial e começou a era Jabor. Ele tem soluções para tudo e escreve sobre todas as coisas, inclusive festas da Bahia [“VENDO ingressos para a Chopada, Camarote Vivo Festival de Verão, ABADÁ DO EVA, Bonfim Light, bate-volta da vaquejada de Serrinha e LP’ acabou de entrar.”]? Gente, aquele botãozinho “encaminhar” do e-mail é sagrado: não toque até ter certeza de que não dará atestado de burrice ao reeeeeeeeenviar uma bobagem destas. Eu mesma, nada tenho contra o Jabor, mas não sei se creio mais em nada assinado por ele – ou não. Estou perdendo a fé em Jabor! Será que o Jabor existe mesmo? Será que ele não é uma invenção da internet, um canto de sereia velha de fim de festa? Aquele cara que aparecia no Jornal Nacional da Rede Globo é Arnaldo Jabor ou é um dublê? Só no meu e-mail tenho 10 tipos distintos de assuntos tratados pelo Jabor [se ele existir] que vão de bunda à traição, da barriga ao povo brasileiro. E não sei de onde tiram tanta “criatividade”.

Parece que ter o selo Jabor de qualidade dá aquele ar de importância a um texto, mas eu já não leio mais. Só uma dica: se você escrever alguma coisa que considere inteligente e interessante, em desejando passar adiante, assine o próprio nome, porque você não sabe, mas Jabor não existe!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

RECEITA DE TUM-TUM-TUM TPUUUF!


Ingredientes:

  • Um rapaz bonito, de olhar lânguido e sorriso inapelavelmente descarado;
  • Uma moça boba o suficiente para se encantar com um rapaz bonito;
  • Escadarias de um prédio antigo da faculdade de Arquitetura;
  • Livros, muitos livros, caídos no chão;
  • Gentileza, bastante;
  • Atenção, bastante;
  • Distração, bastante;
  • Carência, muita;
  • Um dia claro, passarinhos nos fios de alta tensão, micos atrás de ninhos, bancos de alvenaria, diversas pessoas sem rosto;
  • O tempo passando em slowmotion;
  • Mãos frias;
  • Coração quente;
  • Riso;
  • Cheiro bom de lavanda.


Modo de fazer:

Desça as escadarias atrasada para encontrar uma amiga que vai te dar uns textos. Distraia-se com um barulho de carro na rua em frente à faculdade, olhe para os lados e derrube bem os livros. Fique chateada e comece a juntar tudo que caiu, derrube o que restou nas mãos. O rapaz bonito se aproxima e se encontra com a moça boba e nesta hora o coração aquece e acelera – entra aqui o tempo em slowmotion,a gentileza, a atenção e bate tudo com a carência. Com um pouco de sorriso inapelavelmente descarado, o olhar lânguido, o rapaz deixa a moça meio zonza. Ela pega nele e suas mãos estão frias: aumenta o sorriso do rapaz. Passa um vento bom, leva os cabelos dela e num suspiro é o coração dele que acelera ao sentir o cheiro bom de lavanda vindo da moça. Ambos são esquecidos por um tempo, muito mais que meia hora, uma hora, duas horas num banco de alvenaria, com o dia claro, passarinhos nos fios de alta tensão, micos atrás de ninhos e diversas pessoas sem rosto.

Sirva esta receita de Tum-tum-tum tpuuuf! a vida toda, rende para uma porção de gente. Rende para um mundo inteiro, uma vida inteira.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

BRIGADEIRO






Qualquer momento é uma desculpa para comer brigadeiro. Está em festa? Ele! Terminou um namoro? Ele! Curinga das línguas felizes e tristes, este doce feito com a simplicidade culinária, merece o nosso total respeito. Afinal, a quem não toma remédio para dormir e não pode comprar petit gateau para amainar a fome de doce e calma, o brigadeiro é a salvação!


Ingredientes:
.Um bocado de tristeza, tédio, frio ou alegria, amigos;


.Chocolate em pó ou raspas de uma barra de chocolate meio-amargo que sobrou daquela cobertura de bolo;


.Lágrima e riso;


.Leite condensado. O quanto quiser e o mesmo para o chocolate. Depende do tamanho do buraco que queira tapar. Se for no estômago, não exagere. Se for no coração: overdose nunca é demais. Parece-me que na alegria a gente não se excede nestas coisas; a alegria já é tão doce que nos tira o apetite;


.Manteiga; tem gente que coloca. Um colherzinha está bom, só para dizer que pôs [vai que sirva mesmo para alguma coisa na receita].


Modo de fazer:
Pegue uma panela de teflon para que a menor quantidade da substância fique grudada no recipiente. Retire a culpa da mente. Ponha o leite condensado [de acordo com aquela quantidade referencial de desespero ou festejo], depois misture o chocolate e a manteiga. Leve ao fogo brando e mexa. Mas se você não mexer a toda hora e formar aquelas bolotas meio queimadas, a meu ver, ele fica perfeito. Faz parte do apreciar brigadeiresco, sentir aquelas bolinhas grudarem nos dentes e enquanto a conversa com os amigos flui, você vai tentando dissolver ou tirá-las com a ponta da língua.


Quando sentir que já se formou aquela pasta homogênea, ou pseudo-homogênea, desligue o fogo. Pegue uma travessa, um prato grande, uma coisa que sirva para espalhar a pasta salvadora e retire-a da panela com o auxílio da colher que usou para mexê-la. Quando retirar tudo, lamba a colher. Quando a panela esfriar, passe o dedo no que sobrar [não sem antes disputar com quem lhe ajudou ou só ficou olhando e esperando para comer].


Ponha na geladeira a travessa com o brigadeiro e espere esfriar. Se não tiver paciência, coloque-a no congelador mesmo.


Mostre aos amigos onde eles podem pegar as colheres, pegue a sua, sentem-se à mesa ou no chão, de maneira que o brigadeiro fique no meio, ao alcance de todos; como num ritual tribal em volta de uma fogueira que aquece o frio da alma e ilumina as histórias. Salivem, suspirem e comecem pelas bordas.

[Acessem o blog partilhado por mim, Roberto e Merenda:

terça-feira, 6 de julho de 2010

CHUVA

E a chuva que desembarca em mim molha os segredos que me compõem. Misterioso fluir transcendental, de onde vem tanta água que não de mim? Achava eu que enchia mares ao espernear de medo da vida. Toda vez que sofria, lá vinha rios de rebeldia. Mas essa chuva vem como quem nos oferece um caldo quente, um cobertor macio de lã. Desanuvia, esclarece e acompanha. Depois que tudo faz e preenche-nos de ventos brisados, vai-se cumprir em outro lugar o mesmo que em nós. Ou canta em outros telhados. Ou limpa o céu. Ou ritima esperança nas calhas dos vizinhos. Ela vem desfazendo-se em contradições: assusta e acalma. Enche, muito mais que eu, de água o mundo. Esvazia a vontade de brincar no pátio. Aquece o coração de quem tem sede. E, se vai embora, eu fico dissolvida de segredos, porque a chuva afogou os prantos sem razão e secou as poças de mágoa. 

sábado, 3 de julho de 2010

SAUD"ARDE".

Não, não sai! Não vai, não me deixa...!

Eu olho você partir e sinto que algo em mim explode

Como se mil fagulhas mandassem que eu te esqueça

E ver você indo é a própria morte.

Entenda, ainda guardo em mim a fragilidade

De quem não passa de mera humana

A saudade que em mim agora arde,

Não é o frágil prazer que somente engana.

É mais, é certeza que você me ama;

É um passo de leve, um laço no infinito,

É o abraço apertado que cala o grito;

Ao asno faminto - um tufo de grama.

Fica só mais 1000 anos comigo,

É o tempo que preciso para não ter saudade;

Tua força é o meu mais forte abrigo,

E eu sei que sou a tua melhor parte.

Acordo, abro os olhos para mais um dia,

Você teve que ir, eu precisei voltar,

Mas quando a noite chega se vai a agonia,

Pois no sono do corpo posso te encontrar.



quinta-feira, 1 de julho de 2010

ONDE CABE O DOCE?

A gente caminha se batendo entre egos tão espinhosos quanto o nosso e se fere, se deixa ferir e fere - se feriza. Onde os quindins da gentileza? Em meio a desconfiança do dia a dia, onde um cumprimento pode vir eivado de interesses, a troca vã passa a ser moeda de felicidade, quem guardou os pudins da amizade?

Bem sabemos degustar o doce e nem sempre ofertamos o chocolate que acalma os dissabores da convivência. Poderíamos tantas vezes silenciar na maledicência o açúcar da compreensão ou fazer aquela magnífica cobertura alva com o glassê do perdão. Esquecer as lasquinhas do limão alheio e dar exemplo antes mesmo de molhar nossas relações com o sumo do tamarindo que plantamos em nós. Não é para fingir a perfeição, afinal, as balinhas de gengibre também ardem, mas não desistiram do doce.

Todo mundo tem seu próprio jeito e sabe que tem uma essência única. O caramelo é duro, mas é doce. A gelatina treme de medo, não se segura em pé, mas é doce. O sorvete é frio e se muito tomado dá aquela dor de cabeça, mas é tão doce... Então, não se pode pensar que tudo é jiló, nem o próprio coração. A vida nos põe em apertos, nos liquidifica as escolhas, leva-nos ao forno e fogão [quantas vezes ficamos em banho-maria!]. Ainda assim, vejam bem, cada ingrediente para dar o seu melhor à mistura passa por um processo diferente.

Abra a dispensa e estará cada coisa em sua própria embalagem; abra as embalagens e ponha tudo junto num lugar e vai perceber que nem toda mistura combina, com jeitinho cada um vai se juntando e vendo com quem pode ficar. Não se deve forçar a barra, mas dar o melhor que puder. Assim devemos ser.

Ter medo de estar com o outro e de se submeter ao cozimento da vida pode nos garantir a continuidade na embalagem, contudo a mistura é muito mais interessante e cada uma passa pelo o que é preciso para se tornar ideal. Na dúvida, se não souber como se dar, nem o que de si pode oferecer, dê o seu doce. Olhe para dentro de si, têm lá nem que seja um punhadinho de açúcar. Ofereça porque o doce cabe em qualquer lugar.