quarta-feira, 30 de setembro de 2009

MULHER NEGRA

Helena, queria te ver assim!


Desfila deslumbrante seu andar de modelo a atriz Thaís Araújo, na pele da mais nova Helena de Manoel Carlos. Uma belíssima mulher, forte, decidida, trabalhadora, batalhadora, realista e real [???]. É a primeira negra a viver uma das "Helenas". Não sei se ela estará bem encarnada neste papel, uma vez que, a novela só tem mostrado, até agora, ela gastando o bico com José Mayer numa lua-de-mel "parisdisíaca". Confesso que ao ouvir a música internacional escolhida para o casal, e sabendo que lá vem cena de beijo, beijo e beijo, eu levanto e espero voltar a novela ao normal. Acredito eu que estou mais ansiosa pra esta viagem acabar que a mãe de Helena! Não aguento mais ver as declarações de "Marcuxs" [no sotaque carioca de Thaís] regadas a litros de champagne [que é no mínimo sem álcool porque eles beberam duas garrafas noutro dia e continuam falando com a língua normal, sem pesar 5 quilos nem nada; se fosse eu já estava em coma! mas voltemos...]; não aguento mais ela com ar de que se deitou com a metade do Rio de Janeiro e acordou com a outra metade e dizendo que só teve dois homens na vida. Não falo isso por ela ser modelo, mas pelos comentários e a cara da personagem contando em dois dedinhos - e em plena lua-de-mel - os homens que já... bem... vocês já sabem.

Não fosse estes fatos irreais desta mais nova Helena, eu até estaria bem feliz em ver Thaís vivendo esta personagem "leblonosa" de Manoel Carlos, afinal de contas a Globo resume Brasil em Rio de Janeiro e parece que só lá tem praia, cultura e mulher bonita. Até aceito que o garanhão que fica sempre com a Helena oscile entre José Mayer e Tonny Ramos, porque um tem cara de cavalo reprodutor e o outro tem pêlos o bastante para dizer ao que veio. O que me deixa perplexa é que o autor não lembrou de fazer desta Helena o mesmo que fez com as outras: torná-la real. E justo a negra tinha que ser modelo! Ora... preferiria que ela fosse a que frequentava as livrarias do "mesmo bairo de todas as novelas" porque amava ler; gostaria que ela fosse a mãe de classe média, solteira e apaixonada por um homem que a deixou; não poderia ser a Helena com uma filha mais velha porque esta atriz de "Viver a Vida" vai demorar muito para ganhar cara de mãe-mártir-velha; queria que ela fosse a dona de uma clínica de estética que ganha trabalhando com uma sócia; mas esta Helena não... ela é diferente!

Esta Helena é uma realidade que vive grudada na cabeça de tantos brasileiros, é a mulher negra belíssima e que subiu na vida porque nasceu muuuuuuito bonita. Subiu porque virou modelo, porque se não virasse iria quando para Paris? Nem me façam responder! Quando que ela iria se engraçar com o dono daquele hotel que dá de presente à filha um anel de R$ 45.000,00? E a coisa é tão, mas tão gritante que a outra irmã virou "mulé" de um marginal!!! Eu sei que virá um coro atribuindo isso à índole da tal Sandra e eu não nego que índole é metade do caminho, mas oportunidades iguais é a outra metade. A irmã também é bonita e negra; a mãe delas também é bonita e negra e ambas seguiram um caminho bastante comum para as mulheres que conhecemos.

O mesmo estudo de todas as outras Helenas é o que eu desejaria para esta. A mesma infância, as mesmas portas abertas e as que estivessem fechadas que não fosse por sua cor. Eu desejo às Helenas negras deste Brasil não a mesma sorte que esta última está tendo, mas a "sorte" de serem formadas em uma faculdade pública e de qualidade, como provavelmente aquelas outras duas médicas da novela tiveram. Que os milhões que ela possuísse a gastar não fossem milhões vindos da venda do seu rebolado, gingado, sorriso indefectível e pele linda. Isso as mulatas que aparecem para os americanos também possuem. Eu queria ela toda coberta, vestida de jaleco e afirmando com o mesmo lindo sorriso que esta Helena negra foi a primeira mulher a contribuir significativamente para cura de algum mal incurável! Isso eu bem que queria! Sorbonne por muito tempo e não o Louvre como uma turista apaixonada.

Talvez seja pedir demais a um autor que é fixado num pedaço do sudeste, não? Talvez seja demais pedir que os olhos viciados de todo um país desejasse o mesmo que eu para esta Helena; não daria
ibope. Eu sinto que a novela é mais real do que imaginava e quem sonha sou eu. Escrevo da Bahia, uma terra de Helenas negras e belas, que moram no estado de litoral extenso e lindo, que trabalham, que rebolam e ganham por isso ou não. Escrevem teses de mestrado, pesquisam, fazem doutorado! No dia que Manoel desviar seu velho olhar [ou olhar velho] das alvas Helenas e da mega-modelo-negra-Helena, talvez enxergue opções mais justas, mais fidedignas para as Helenas que virão. Por enquanto o que posso afirmar, é que das Helenas abraçadas pelos fortes e viris homens destas tramas, esta é, na minha opinião, a mais irreal de todas elas!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

TODOS SOMOS MUITOS


A Bahia é um bom lugar? Não sei... eu não sei de toda a Bahia. Posso dizer que Salvador é um lugar que tem seus [grandes] encantos, mas não é o melhor lugar do mundo, pelo menos para quem não nasceu aqui, não se encantou por aqui e não escolheu morar aqui num determinado tempo da vida. Eu gosto de ser baiana, mas poderia gostar de ser mineira e amar ser cearense ou gaúcha. Tudo é questão de ponto de vista ou escolha da alma.

Se eu nascesse em Mato Grosso do Sul iria dizer que teria orgulho de ter nascido lá. Não é o lugar, não é a paisagem, a língua, a cultura que nos faz amar necessariamente estarmos ligados aos adjetivos pátrios aos quais estamos ligados. É a sensação de pertencimento. É a certeza de que somos algo e que este tal algo está em nós; é nosso. Isso basta para que eu ame ser baiana? Não é bem assim. Conheço uma menina, nascida e criada num interior perdido da Bahia e que ama São Paulo - inclusive tem todo o sotaque paulista e isso eu não sei como. O fato é que ela se sente de lá e não se sente de cá. Para ela a Bahia é uma merda e São Paulo é tudo de bom. Gosto não se discute.

Então... fiquei pensando que não há lógica em disputar qual é o melhor lugar, qual o sotaque mais bonito e [pior!] qual está certo; não há sentindo em querer provar que Bahia é melhor que Ceará e vice-versa. O melhor lugar é o lugar que eu escolhi com o coração, mesmo que não tendo outra opção, pois é isso muitas vezes que determina o meu gostar. Eu nasci aqui, andei por poucos lugares, não ganhei mundo, amealhei milhas, não fui em outras paragens por muito tempo, não me mantive tão distante de minha Bahia. Não tenho a menor condição de emitir juízo de valor sobre a terra alheia. Eu uso a preposição "de" antes de nomes próprios e não a contração do artigo definido com a preposição, formando, por exemplo, a palavra "da" colada com o nome Sâmia. "Eu peguei a caneta
da Sâmia", aos meus ouvidos soa como algo fora do comum, mas em outros estados não é bem assim. Isso é ruim, mas para mim que estou acostumada com outra maneira de escrever e falar. Ponto final na discussão. Não posso, a partir do que eu acho estranho, começar uma briga para o que é melhor ou não. Isso é base para muito preconceito e fundamentalismo.

E não é o que vemos contra os nordestinos? Em São Paulo qualquer coisa de errado que se faz não é uma "baianada"? E para não entrar nesse terreno obscuro e feio, prefiro nem comentar nada a respeito dos paulistas, pois gosto de muitos deles. Não é o fato deles serem paulistas ou baianos que me fez gostar de cada um. O fato é que em todo lugar sempre haverá coisas boas e ruins e que na hora de uma contenda só lembraremos das coisas boas de nossa própria terra para esfregar na cara do turista [sim, porque baiano é tão ruim que nossas praias andam cheias de paulistas].

Temos a
doce ilusão de que nossa opinião é a opinião do mundo e se não é, deveria ser. Somos egocêntricos e por isso também nos tornamos xenofóbicos. "É que Narciso acha feio o que não é espelho", quem falou isso foi um baiano sobre a cidade de São Paulo. E eu acredito seja isso uma ironia. E é uma pena que, de ironia em ironia, forjemos mais um terreno fértil para que nasça a semente do bairrismo, da segregação, da classificação linear de melhor e pior cultura e lugar para se viver.

O melhor lugar é o meu porque eu só sei ser eu. Daqui eu fito o mundo se não fecho os olhos para o outro. Mas se me cego de orgulho e preconceito fomentadores da segregação, acho o outro sempre muito feio, muito burro, muito atrasado. E o outro, o que achará de mim? Tapado.