Taí, o samba que você pediu.


Eu sou alguém a quem "errar" não matou. Sobrevivi aos meus próprios erros para descobrir que errarei mais adiante. Sobrevivi aos erros dos outros para descobrir que errarão comigo outra vez. Juntando estas duas coisas descobri que somos farinha do mesmo saco. O que difere é a atitude frente às feridas causadas e que causamos.
Eu sou alguém que não matou a saudade. Suspiro com lembranças de um passado distante. Suspiro por ter amigos distantes. Suspiro por ter distante tantas coisas de mim. Mas respiro aliviada ao descobrir que o essencial está comigo e porque não me recuso a formar laços, eles sempre estão embaraçando em meus pés, criando mais amigos, mais amores, mais saudades gostosas de sentir.
Eu sou alguém que não morreu de medo. Tenho um monte deles guardados em meu tapete, mas me propus a levantar a ponta do troço felpudo e agarrar uns medos pelo pescoço, encarar alguns e dizer: "Um dia eu te venço desgraçado! Por enquanto eu te escondo, mas já matei outros tantos de você; me aguarde!"
Eu sou alguém que morreu de rir. Há mais felicidade na vida do que supus encontrar. Já ouvi tantos kits de ditados e toda vez que comprei um deles, eu me ferrei. Essa coisa de "todo isso é assim" ou "todos os aquilos são cozidos" é bem coisa de gente mais medrosa que eu. Decidi curtir todas as minhas dores até o fim da picada e depois dar risada de minha cara encolhida achando que a dor não iria passar nunca! Passa! Mas somos nós que decidimos se passa com vidro moído ou vaselina.
Eu sou alguém que a tristeza não matou. Já vi a cara do bicho e é pior que briga de foice no escuro. Tristeza é feia demais! Mas a encarei de vez em quando e descobri que sou frágil, o suficiente para não ficar só nas horas em que ela bate na porta de meu quarto. O suficiente para chamar um amigo e dizer "help". O suficiente para optar mais pela alegria.
Eu sou alguém que não morreu de solidão. Bem que a danada tentou, mas no último round eu me descobri sendo a melhor das minhas companhias. E cá pra nós: eu faço um belo par comigo mesma. A ponto de ter sempre gente querendo descobrir o segredo desta minha relação. É amor gente; só isso. Amor-próprio.
Mas lhes devo confessar: adoro morrer de amor. Coisa boa de se morrer! Quando a gente pensa que está fechando os olhinhos, o amor nos diz: "levanta daí, menina! Vai lavar esta cara! Você nasceu pra ser feliz!". E segue o amor me matando como nada antes o fez - de felicidade!
{Sâmia Souza, 12/11/10}