quarta-feira, 27 de julho de 2011

AS FLORES

Se tiver flores para as quais possa regar teu amor, não se pergunte por muito tempo se elas merecem para fazê-lo. Regue o que enflorece sua vida sem pensar no tempo diante de seus pedidos insistentes de amor. Apenas veja o quanto seria sem cor e sem vida a sua vida sem as flores que te cercam. Quem não tem algumas flores? Sem tanto esforço assim você vai perceber aquele vaso ao lado de sua cama, ao lado de suas dores, atrás de suas farsas - há sempre as flores que perfumam suas lembranças, sua toca, suas poças.

Ame-as, não as deixe murchar para dizer que as ama tanto, que gostava tanto quando elas balançavam sorridentes no vento das tempestades que te cercaram por dias tristes. Não as deixe sequer perceber que havia dias que você não as via, e ainda que elas bem saibam disso, não as deixe jamais ter certeza. Foram elas que te trouxeram as borboletas. Sem elas o caminho seria só pedra, só daninha erva.

Cada um tem sua flor, não irei aqui nominá-las. Que cada qual faça o esforço de reconhecê-las em seus vasos. Dê a cada uma delas o título mais adequado, o lugar mais arejado de sua alma. As minhas estão aqui comigo, no terreno mais grato e fértil de meu coração. [AACCDD]

segunda-feira, 25 de julho de 2011

PALAVRA - EM FALTA

Não tem palavra de tudo. Muita coisa fica engasgada no peito - sem palavra.

Não há palavra pra morte de filho, do cão melhor amigo, de mãe, de pai, de irmão, de gente. Não tem palavra pra fim de namoro inesperado, pra saudade de infância, saudades em geral. Não tem palavra pra solidão, vazio de alma. Não tem palavra pra medo de escuro na infância, na adolescência, na fase adulta, na velhice. Não tem palavra pra violência. Não tem palavra pra injustiça. Não tem para criança apanhando, mulher apanhando, covarde batendo. Não tem palavra que se encaixe na dor de dente, na dor de parir gente ou no medo de não parir uma monografia.

Não tem palavra pra insegurança. Sem palavras para o preconceito de cor, sexo, religião - entre os iguais que buscam todos ser felizes. Não tem palavra pra explicar a fome do mundo nem os salários dos desgraçados políticos aumentados em 74%. Não tem palavra para o trabalhador que sustenta a família com um salário mínimo. Não tem palavra pra criança sem brinquedo, olhando vitrine, catando lixo, explorada. Não tem palavra para a desigualdade dentro da riqueza.

Não tem palavra o transporte coletivo em Salvador custar R$ 2,50. Não tem palavra a gente votar em quem é bonito, da nossa religião, do nosso grupo, do nosso clã. Não tem palavra para tanto "meu", "eu", "pra mim", "pros meus" num mundo que é uma bolha solta num negro mar infinito.

Não tem mais o que dizer, escrever, grafar para tudo aquilo que existe e nos deixa mudos como num soco na boca do estômago - sem traduções, sem ar.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

PROFECIAS

Desacato a desesperança e ouso acreditar que haverá mais tempo onde o Amor seja a planta que dará todos os frutos. Dele comerão todos os sábios seculares e descobrirão os cientistas o que falta na Ciência.
Eu sei que hoje é um tempo onde a aparência nos engana, mas é dela que vivem muitos. Ainda assim, creio no fato de que a felicidade é ímã forte, que logo põe no prumo os rumos incertos, e todas as forças se equilibrarão na Verdade - aquela que libertará.
O povo se afoga em hecatombes, doenças de todos os nomes, criancinhas morrem de fome; mesmo assim eu acredito que há um exército de bons seres humanos lutando no escuro do medo, contra toda a injustiça do desequilíbrio da riqueza e logo veremos as mesas transbordar de piedade e faremos da caridade o pão de nosso tempo. Não tardará a vitória dos que amam sem fronteiras, dos que têm como bandeira o Amor Universal.
Recuso-me a dar força a uma energia desagregária que põe no centro das importâncias o que perece num segundo: carro, luxo, poder, dinheiro - nenhuma energia do mundo alimenta mais que o Amor. Pode-se ter tudo e ter mais ainda e acredito que por isso falte a quem nada pode, nada tem.
Nossa acumulação desmedida produz obesos e guerras, queremos consumir tudo, engordar do excesso e acabar num câncer de egoísmo, onde não existem iguais, mas um tumor que mata o que lhe alimenta de sangue.
Não é possível que o mundo suporte mais desditas, que o ser humano não clame por ar puro, que o cansaço não vença o orgulho e que continuemos a por nosso tempo na marcha para a morte. E é por isso que acredito e nunca deixarei de dar crença que a razão de nossa existência é para aprendermos a amar - não tarda no horizonte o amanhecer desse tempo e eu já o vejo em meu coração. 

terça-feira, 5 de julho de 2011

PÍLULAS

Não há pílulas de sumir. Beber num único gole um ponto final. Não há! Há pílulas para dor de cabeça, não fazer criança, não deixá-las nascer; há pílulas pra enjoo, para ressaca, para dores, inchaço, inflamação, mas não há - de uma vez por todas, não há - pílulas de não ser eu.
Uma vez termos [quase todos] entrado no mundo por não terem pílulas aos nossos pais, estamos aqui para tantas coisas mais, mas - insisto - jamais para sumir. Não dá para voltar a ser do tamanho de uma pílula, virar uma vírgula, dois gramas de pó, uma formiga, um cílio caído, um olho de mosca ou coisas assim. Depois de crescido, de tantas pílulas ter ingerido: olha nós aqui.
Com o corpo cheio de coisa - roupa, pelo, sebo e sangue - vamos dando um jeito na coceira das costas com a unha de alguém e ainda que tudo seja mangue, não tem por que virar caranguejo também. Isso é só uma rima, logo passa; logo passo desse ponto, logo pense nesse conto: lago é pássaro também. Vê-se na água refletido, voa longe no infinito e vira pílula no além.
Não era pra ser assim, mas há pílulas necessárias quando a dor é muito intensa. Da vida - sei um tanto - não nascem só feridas, há outras gotas coloridas vendidas em frascos, destribuídas por velhos, doadas por amigos. Estou falando de jujubas, confetes de chocolate, pastilhas de menta, balas soft. Há todas essas pílulas - alegre-se -, menos as de sumir!