terça-feira, 27 de abril de 2010

SAÍDA

Eu vou partir silenciosa
Eu vou ali, mas não agora
Queria mesmo me encontrar
Não encontrar quem me diga onde ir
Eu sinto que quero partir
Não sei se vou e deixo de mão
Pedaços do meu medo de apostar
Não sei se vou e levo, então
Essa vontade de gostar
Não sei se assim que eu for
Ouvirei uma voz de adeus
Se a ameaça se cumprir
Ouvirei um grito teu
Não quero me acostumar
Costumo não querer
Prender-me num lugar
Achar-me num “você”
Será que estou sozinha?
Será que temo em vão?
Meu medo me domina?
Ou é só impressão?

domingo, 18 de abril de 2010

AMO ASSIM.

Eu amo assim, de um jeito bem meu. Eu amo devagar e rápido, depende da velocidade que bate meu coração. Eu amo feito criança: desmesuradamente, elevado ao infinito, do tamanho do mundo, assim ó – bem grande. Amo assim porque gosto de amar.

Amar metade, calada, com medo, sem gosto não é amar, pelo menos, não é o meu! Eu gosto de riso com gosto, de mão fria e corpo quente, eu gosto de ver o menino chegando no portão e dizendo “oi”, para que depois disso eu não veja mais nada!

Sabe como eu amo? Só sabe quem me ama. Tem gosto de verdade, cheiro de carinho, altura na medida - assim disseram-me e há quem diga que não há nada mais igual. Eu sei!

O meu amor nasce aos poucos e quando eu vejo é pra sempre. Por isso eu amo com bastante cuidado, pois pra sempre é tempo o suficiente pra também me arrepender. Não que pense nisso quando vejo olhos de bem perto, mas depois... bem depois. Eu amo de passo em passo para amar com segurança – minha mão está aqui e é só vim pegar. Dou colo, atenção, força e torcida; em contrapartida a única coisa que peço é que se não pode lustrar nada disso, então, nem começa a me amar! Gosta de mim, se apaixone, vira colega, mas se não é para amar nem começa! Porque tudo isso é um bom vício, viu? No frio faz uma falta, no calor dá sede, longe se suspira, perto respira demais... é este meu jeito de amar.

Eu só sei que acredito muito que o amor é o melhor do mundo. Não há frustração, "não dá", "esquece", "adeus", que me faça desacreditar. Não dá pra ser de outro jeito, sinto, mas este é meu jeito de amar.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

NEO-LÓGICO.


Não era bem assim, tão livre, esta história de se comunicar. Não se podia chegar falando como se queria sem um posto certo de onde ecoar a própria voz.
Este carinha começou a vida da fala com este constrangimento das formas:

- Não se diz "dezôitomo"; diz-se décimo oitavo!
- Mas...
- Sem mais! É assim que se diz!

O mundo começou a parecer uma caixa de ovos. Palavras que lhe vinham não eram chocadas, não nasciam e pouco alimentavam os sentidos da alma. Ficavam estas em grades e de lá não saíam para servirem exatamente ao que ele queria tanto dizer.

Pior, o pior de tudo é que lhe entendiam, sabiam muito bem o que ele queria falar. Nem se faziam de desentendidos, queriam mesmo lhe submeter. E ele ia, infeliz, mas ia.

Um dia, sem que soubesse de onde, surgiu a porta que ele abriu com gosto: descobriu o neologismo. Passou, o carinha, a neologizar. Como um ser interseccial caminhava na vida como quem flerta com todos os sentidos. Arrancou a roupa das palavras e exibiu o fundo da fôrma. Primeiro a vida, que era uma mulher árabe sofrendo de dor, passou a voazizar como uma fada. Mas ele ainda sofria...

O que lhe prendia eram as folhas dos cadernos, os bancos da universidade, o score no fim do semestre. Ele tinha resolvido estudar até onde o degrau da fôrma lhe podia levar. Pisando em ovos ele conseguiu, ao longo de suas pisadas, juntar as palhas de palavras e formar a trama fotografada pelo dicionário. Vencido, resolveu se algemar e se prender naquela cadeia que a moça da escola/carcereira lhe impunha - conseguiu um título, se doutorizou.

Contrabandeando os sentidos, ele neologizava sua alma, tendo nas mãos um título de posse do saber. Foi só quando ele se prendeu no barco da academia que o mar das palavras foi seu e todos aplaudiam seu navegar. Ele nunca quis isso, oras! Só queria, desde sempre, se jogar nu ao mar!

[as palavras têm um gosto tão imposto, tanto vejo seu rosto, mas e seu saber? de onde vem tanta importância que se dá desde criança à mera dança de se escrever? meu silêncio é que conversa [e ele não interessa] mas só com as palavras que eu posso me expressar; ser entendido é um luxo, com palavras pelo bucho - preciso regurgitar!]
Sâmia.

domingo, 11 de abril de 2010

TRABALHA CORAÇÃO.

Decreta greve, coração! Vai! Pára de trabalhar. Faz a tua revolução e não te esqueças de gritar palavras de ordem!

Pára de servir a quem te rouba, não vês que trabalhas tanto, mas... para quem? Trabalha para ti mesmo ou para outrem?

Queres enriquecer e te vendes? Se pretendes achar felicidade não é assim acelerado que conseguirá. Aprende a fazer do teu compasso apenas a propulsão do necessário pra viver - sem exageros! Para quê?

Para quê você bate tanto, se esforça tanto e no fim acaba calado, sem voz? No mundo de supremacia da razão, qual é mesmo o espaço que sobra pra um incansável coração?

Se eu fosse tu, parava. Ou melhor... fingia que trabalhava, fazia cera e não cerão. Se te podem enganar, mentir e pisar, por que tu não enganas coração?! Ah... bem se vê: não consegue! Se te oferecem um pouco mais, um "até breve", logo disparas a trabalhar. Vais afobado a correr, põe um sorriso neste rosto cansado, a dor e o sofrimento de lado e não nega quem és.

Não conto mais contigo, amigo! Não tentarei nunca mais te convencer a fazer greve. És um vencido e vendido coração, encontra no trabalho a razão de se sentir tão leve. Entendo teu ponto de vista, ainda que pense diferente e no meio deste povo que se diz gente, faz da tua vida tudo além de si. Embora sofrido e vencido, ainda és meu melhor amigo - eu é que trabalho pra ti!