terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

"UMA PAUSA DE MIL COMPASSOS"



Quero o silêncio gritante do vão do sim. Quero apenas o silencioso vento da paz... À prova de muros, murros, socos e pontapés de incompreensão, quero silêncio produtivo e não-vão. Ali onde mora o perigo de não ser entendido, essa é a casa do silêncio que quero invadir, pois que já não há tantos perigos assim – se metade é incompreensão.

Nadar no nada e banhar-me de explicações de tudo, de onde foi parar aquele mudo mundo, onde foi morar a porta aberta do riso calado, que neste mundo solitário é bom remédio de amor. Se as palavras são gastas e bastas de intradução, melhor casar-se com o silêncio e fazer do tempo um vagão. Viajar no vento calmo das verdades que brotam sazonais – com hora de serem compreendidas sem negação.

Eu quero – pelo amor de Deus -, eu só quero o mute sem os trovejares de grilos por detrás dos matos, das moitas: som traiçoeiro que açoita meus ouvidos e não acalmam o estribo  e repetem insistentes como ladainha, como vazia oração.

Sem violência. Pode vir manso o silêncio, na calma companhia da dama harmonia. Sem exasperação, como quem breca um cavalo louco, descendo a ladeira íngreme da vontade. Não quero que se calem todos – vão, aos poucos, ficando roucos de me fazerem sofrer. Se for, assim, também pode ser. Que rouca fique a ingratidão, afônicos os desaforos e que nunca mais façam coro atormentando minha parca paz. Cala-te inveja madrasta; de mim e dos meus te afasta – afoga-te em próprio fel.

E enquanto o corcel da maldade se afasta, um gole de silêncio me basta e, por hora, nada mais rogo ao Céu.