Quero o silêncio gritante do vão do sim. Quero apenas o
silencioso vento da paz... À prova de muros, murros, socos e pontapés de
incompreensão, quero silêncio produtivo e não-vão. Ali onde mora o perigo de
não ser entendido, essa é a casa do silêncio que quero invadir, pois que já
não há tantos perigos assim – se metade é incompreensão.
Nadar no nada e banhar-me de explicações de tudo, de onde
foi parar aquele mudo mundo, onde foi morar a porta aberta do riso calado,
que neste mundo solitário é bom remédio de amor. Se as palavras são gastas e
bastas de intradução, melhor casar-se com o silêncio e fazer do tempo um vagão.
Viajar no vento calmo das verdades que brotam sazonais – com hora de serem
compreendidas sem negação.
Eu quero – pelo amor de Deus -, eu só quero o mute sem os
trovejares de grilos por detrás dos matos, das moitas: som traiçoeiro que
açoita meus ouvidos e não acalmam o estribo e repetem insistentes como ladainha, como
vazia oração.
Sem violência. Pode vir manso o silêncio, na calma companhia
da dama harmonia. Sem exasperação, como quem breca um cavalo louco, descendo a
ladeira íngreme da vontade. Não quero que se calem todos – vão, aos poucos,
ficando roucos de me fazerem sofrer. Se for, assim, também pode ser. Que rouca
fique a ingratidão, afônicos os desaforos e que nunca mais façam coro
atormentando minha parca paz. Cala-te inveja madrasta; de mim e dos meus te
afasta – afoga-te em próprio fel.
E enquanto o corcel da maldade se afasta, um gole de
silêncio me basta e, por hora, nada mais rogo ao Céu.