segunda-feira, 22 de novembro de 2010

PISTAS

Vem, vem depois de mim. Segue as pistas que te deixo, o cheiro que exalo, as reações que em ti disparo e vem, vem depois de mim.

Treme, treme ao me ver. Mostra a tua surpresa, tropeça em minha direção, sua e sonha em pegar em minha mão. Trema de emoção!

Ri, ri de felicidade. Sorri gostosamente aliviado, ri sem saber o que dizer, sorria quando eu disser que gosto de você. Se sentir vergonha, sorria mesmo assim.

Se nada disso você fizer, quando eu passar, não vou olhar para o lado nem para trás. Não vou jogar meu charme para vê-lo se perder nos olhos de um incapaz de me perceber. Não vou confessar que gosto de você. Não vou vestir as saias coloridas, nem despir-me inteira em pele e medos. Eu vou fingir que não sei que sonha em me ter. Se não vier, tremer e sorrir, como saberei que é você?

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

QUEM EU SOU [ESSE FOI PRO ORKUT]


Eu sou alguém a quem "errar" não matou. Sobrevivi aos meus próprios erros para descobrir que errarei mais adiante. Sobrevivi aos erros dos outros para descobrir que errarão comigo outra vez. Juntando estas duas coisas descobri que somos farinha do mesmo saco. O que difere é a atitude frente às feridas causadas e que causamos.

Eu sou alguém que não matou a saudade. Suspiro com lembranças de um passado distante. Suspiro por ter amigos distantes. Suspiro por ter distante tantas coisas de mim. Mas respiro aliviada ao descobrir que o essencial está comigo e porque não me recuso a formar laços, eles sempre estão embaraçando em meus pés, criando mais amigos, mais amores, mais saudades gostosas de sentir.

Eu sou alguém que não morreu de medo. Tenho um monte deles guardados em meu tapete, mas me propus a levantar a ponta do troço felpudo e agarrar uns medos pelo pescoço, encarar alguns e dizer: "Um dia eu te venço desgraçado! Por enquanto eu te escondo, mas já matei outros tantos de você; me aguarde!"

Eu sou alguém que morreu de rir. Há mais felicidade na vida do que supus encontrar. Já ouvi tantos kits de ditados e toda vez que comprei um deles, eu me ferrei. Essa coisa de "todo isso é assim" ou "todos os aquilos são cozidos" é bem coisa de gente mais medrosa que eu. Decidi curtir todas as minhas dores até o fim da picada e depois dar risada de minha cara encolhida achando que a dor não iria passar nunca! Passa! Mas somos nós que decidimos se passa com vidro moído ou vaselina.

Eu sou alguém que a tristeza não matou. Já vi a cara do bicho e é pior que briga de foice no escuro. Tristeza é feia demais! Mas a encarei de vez em quando e descobri que sou frágil, o suficiente para não ficar só nas horas em que ela bate na porta de meu quarto. O suficiente para chamar um amigo e dizer "help". O suficiente para optar mais pela alegria.

Eu sou alguém que não morreu de solidão. Bem que a danada tentou, mas no último round eu me descobri sendo a melhor das minhas companhias. E cá pra nós: eu faço um belo par comigo mesma. A ponto de ter sempre gente querendo descobrir o segredo desta minha relação. É amor gente; só isso. Amor-próprio.

Mas lhes devo confessar: adoro morrer de amor. Coisa boa de se morrer! Quando a gente pensa que está fechando os olhinhos, o amor nos diz: "levanta daí, menina! Vai lavar esta cara! Você nasceu pra ser feliz!". E segue o amor me matando como nada antes o fez - de felicidade!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

MUDO MUDAR

De laranja veste-se o dia e depois que quase todas as coisas se amornam, o sol vai se esvaindo por detrás das águas do mar e folga-se das gravatas o nó. Das gargantas, não. Algumas continuam com ele. Cada ser é um mundo, cada íntimo uma verdade, cada um com suas próprias mentiras, cada cantinho com seus segredos. Mesmo assim, nascem e morrem dias sobre todas as cabeças santas ou não. Parece haver um contrato que vela pela imutabilidade de algumas coisas.
Vão morrer pais, irmãos, mães, filhos, namoradas, inimigos, mas o sol vai nascer.
Vão nascer calos, filhos, bastardos, flores, espinhas, mas o sol vai se por.
Vão subir os preços, os juros, os aviões, os urubus, a pressão, mas tempestades vão cair.
Vão descer caixões em covas, madeiras cortadas, as portas de um comércio falido, a mão de um ignorante no dorso do filho, mas vai girar o mundo.
É assim todo o dia. Uma sinfonia de notas iguais compõe a não-mudança.
E enquanto rola o desdém dos segundos, do movimento das marés, do mover das nuvens com nossas alegrias e dores, a única coisa que muda tudo [que é de se mudar] é a nossa atitude frente as coisas.
Não faria sentido nascer e morrer tantas coisas, pessoas e dias se depois que o sol oscila imutavelmente entre o nascente e o poente, nada disso sirva para alimentar algo mais. 

terça-feira, 9 de novembro de 2010

SOM

Tic-tic dom-dom alguma coisa solta aqui
Pode ser parafuso, pode ser figuras sem adesivo
Tudo caído, tudo solto, tudo escondido
Ou algum detalhe que perdi


Péeen fon-fon se ocupam veículos lá fora
Pode ser pressa, pode ser por medo
Deviam ter saído mais cedo
Pra não se atrasar agora


Trim-trim alô, diz a ligação que fizeram
Pode ser da telefonia, ou pra casa errada
E mesmo com minha paciência acabada:
"Mas foi este número que me deram"


Trash puf pow, e o vidro escorregou
Um descuido de um segundo basta
Pra fazer a diferença entre pó e pasta
Ou da confiança que se quebrou.


Psiiiu e asserena o mundo vão
E quando todo mundo se deita
Um sufocado som à espreita:
As batidas do meu coração.

domingo, 7 de novembro de 2010

MAIOR QUE EU.

Dorme infante. Suspira um sonho qualquer, asserenado em teu travesseiro minúsculo. Pequenas narinas, olhinhos rasgadinhos de cílios delicados; agora está a brincar com os anjos, porque sorri e respira pelos buraquinhos do nariz e mostra o lugar de futuros dentes. As mãos em forma de bolinhas, fechadas se encontram com um pedaço da fralda, apertada que foi antes que pegasse no sono.
Teu cheiro é o mais caro perfume que suspiro a estourar os pulmões de felicidade, como pode se pensar na tristeza ao ver-lhe assim inocente? Seu nada saber acalma, seu nada poder convence, seu tudo precisar me move. E nem precisa pedir - ainda que soubesse - porque te amarei e servirei ainda que morta de cansada.
O que de mim fez? Eu que antes não pensava no tempo, não pensava em futuros, não lembrava dos outros, não sabia cuidar; depois de seu advento, aprendi a esperar, cuidar, doar e amar. O que fez de mim? Mãe.
O que posso dizer é que hoje, mesmo passados 11 anos, ainda consigo lhe ver um bebê que me fez ostentar um título que orgulho. Ainda hoje, quando dorme, eu admiro seu rostinho já cheio de espinhas. Ainda hoje e para todo o sempre será o único ser que, somente por existir, me ensinou a ser melhor.
E eu te amo - mais do que a todos os amores que um dia supus ou me atreverei a amar.

{Dedicado a minha filha}

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

FUTURO DO PRESENTE

Mando-lhe esta carta do passado. Um dia quando a encontrar, entenderá o porquê. Não consegui dormir e penso como te encontrarei. Como será você? Como serão seus olhos e o que eles me dirão? Você não é idealizado por mim nos detalhes mais passíveis de mudança - a imagem. Eu idealizo seu caráter, suas maneiras, seu jeito de me entender ou de se entregar pra mim. Não te conheço, mas já te pressinto. Nunca te vi, mas já te adivinho. 

E sei que de onde está, também é assim que se sente em relação a mim. Só não sabemos quando ou onde, mas sabemos que, sim, estaremos um dia frente a frente. E veja bem: eu já te amo. Não nos menores atavios, e sim nos indispensáveis detalhes. E quando me olhar, saberá que sou eu - porque o que há de ser tem a força de se impor. O seu amor por mim será indiscutível dentro de seu coração. Não te amarrarás nos preconceitos, na temporalidade, nos próprios medos. Será o homem que terá a força de me acompanhar. E a você, sem meias verdades, eu me entregarei.

Não sei porque se demora, mas sei que está no tempo correto. Não sei quando virá, mas tenho certeza que chegará na hora aprazada. Não sei onde nos veremos pela primeira vez, mas já são exatas as coordenadas deste local.

E quando ler esta carta [não idealizo em que tempo] saberá que eu te esperava e que guardava um tesouro onde se lê inscrito: "para ser entregue na alma". E lá estarei com o coração desembrulhado, sem papéis coloridos, sem fitas brilhantes, somente ele a te dar. Haverá um abraço e nada te perguntarei,  nem pedirei explicações por onde esteve antes que fosse meu.

Agora, numa garrafa brilhante, lanço ao mar esta carta e dormirei tranquila, porque sei que ela chegará ao seu destino.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ESTRELA, POETA E VAGALUME

Eu sou uma estrela. Não a mais brilhante - há outras maiores no céu. Não a mais perfeita - meu brilho não aquece um sistema inteiro. E sei que o sonho de todo poeta é alcançar uma estrela, é guardá-la para si, mantê-la ao seu lado. Mas eu sou uma estrela e nem sei de que grandeza, e reconheço ser difícil me mirar e não parar um pouco admirado.

Mesmo assim, só Deus sabe o quanto eu já sofri para polir esta minha superfície. Quantos caminhos amarguei solidão até descobrir que quem tem um brilho de amor para si mesma, consegue de alguma maneira aplacar a solidão de si e dos que me rodeiam. Tantas e tantas vezes eu sonhei com o poeta a cantar melodias e me prometer os sonhos mais bonitos. Em tantas promessas acreditei, que não foram poucas as vezes que me fiz cadente, e depois descontente ao céu voltei.

Um dia, eu estrela, encontrei um poeta diferente e por ele me encantei. Ele sempre me cantou as mais inocentes poesias, as mais finas melodias e mesmo desafinado eu reconheci na voz daquele poeta um possível par. E era sim... se eu disser que nunca vi maneira de cantar uma estrela mais doce, não estarei mentindo. Ele não faria mal, não feriria, nem me pediria para menos brilhar. Esse poeta jamais quis ofuscar meu brilho e ao contrário disso, sempre me pediu para ser mais radiante.

Eu quis tanto o poeta para mim e era tão belo o nosso laço que esqueci que na terra chorava um vagalume. Chorava tristonho o vagalume perdido. Amava o poeta, o vagalume. E de longe eu vi que era um amor sentido, dependente, mas não menos profundo. Tantos vagalumes haviam amado o poeta, mas aquele era belo também. Senti um carinho por ele, um carinho de estrela. Senti que poderia acabar os céus que o vagalume amaria o poeta - e que lhe importavam as estrelas? Por um tempo, furiosa, eu tentei impedir. Finalmente, eu estrela, escolhera meu poeta e por que deveria ele querer o vagalume? Depois de um tempo eu entendi que o poeta e o vagalume podem se amar e se olhar no mesmo plano. Depois eu entendi que o poeta guiaria o vagalume e que sua luz pequena, através das noites sem lua e sem estrela, seria seu guia fiel. Por que subtrair o poeta ao vagalume? Eu estrela, sei bem o que é tanto procurar. Ele te segue de maneira tão bonita, poeta. Nas luzes de seu olhar há tanto "não me deixe" que terminei por decretar que te amarei como a estrela acima do horizonte, perto da lua, longe da terra, longe do mar; deixarei ao teu lado o nobre vagalume. De vez em quando, te peço, canta para mim. Pensa que tua estrela, o amor dela e o amor que por ela você tem não morreram - viraram uma eterna poesia. O vagalume mais de ti precisa, vês como ele bebe teu hálito. Eu irei silenciosa amá-lo sem mágoa, porque se parto desta maneira é por amá-lo como estrela.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

NOITE

O céu sarampeado de estrelas; é noite e noite de escuro febril: quente lá fora e tremendo por dentro - o frio da falta inflamada. O vento tosse na janela assoviando [em golfadas espaçadas] a solidão. O vidro do armário coriza, enquanto faço um chá de erva-cidreira.
Tudo está tentando se manter de pé, mas parece que o travesseiro chama o corpo a cair de cama. O tempo passando e espirrando lembranças...
Olho lá fora e vejo a natureza toda doída. Passarinhos escondidos, morcegos pelejando por algum fruto, corujas piando no dia dos mortos, casas silenciosas, poeira suspensa no vento rouco e a lua com seu cobertor de nuvens.
Eu sinto que algo gostaria de me contaminar, percebo vibriões se insinuando, vírus de medo, bacilos malditos da incerteza. Padecerei eu do mesmo mal da noite? Deixarei me arrastar à cova aberta para minha esperança?
Um frio na espinha. Coço os olhos, ajusto o foco, faço o sinal da cruz, bato três vezes na madeira, engulo um comprimido de vitamina C, faço uma prece, tomo meu chá, abro um sorriso, cato as melhores lembranças, recordo-me de todos "eu te amo" e vou dormir na certeza de que se a noite guarda suas provas sombrias, o dia me espera com a estrela da esperança, os morcegos dormindo, os pássaros cantando, a brisa perfumada e uma bicicleta. Lá fora pode morar a morte, mas aqui dentro vive a mais bela das verdades - meu amor me protege!