quarta-feira, 28 de setembro de 2011

VOCÊ PRECISA

"Mas você precisa aprender a dirigir". Mas eu não quero. "Mas o mundo hoje exige que as pessoas saibam dirigir; todo o mundo tem carteira de motorista". E eu não sou todo o mundo e não quero dirigir. Não quero ter carro.

O automóvel potencializa a velocidade e a mobilidade de minhas pernas, mas turva meus olhos. Não posso lidar  com a distância que venço estando de carro. Em cada passo, vejo o caminho. As rodas vencem por mim os quilômetros, mas os metros que ando a pé são meus.

Orgulho vão? Não, é só vontade minha. Não quero ter carro e entupir mais o mundo de "capitanias solitárias" e quase nunca hereditárias, porque o automóvel se acaba logo e tem sede de outro e outro e outro ainda melhor; não dá pra deixar mais pro filho.

Não quero pagar imposto por ocupar espaço.

Também não digo que os automóveis devam ser todos queimados - nem ambulâncias, nem ônibus, nem nada coletivo. Só quero ver se vai sobrar espaço se todo mundo neste mundo resolver mesmo dirigir um carro.

Pois bem! Está decidido - não quero carro. Quero tato - pés descalços, devagar, sem status. Sem cobrança de pedágio - que deveria se chamar "carrágio".

As pessoas estão com pressa, mas não sabem para onde vão; e sem saber do que precisam, me dizem: "você precisa dirigir". Lá ele! Eu não - dirijo-me a pé.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

E SE FOSSE VOCÊ?

Se você fosse mãe, saiba que não conseguiria fazer seu filho feliz. Isso é escolha pessoal. Se você fosse mãe, procuraria, em vão, dar um mundo ao seu filho, mas o máximo que conseguiria deixar para ele [neste sentido] seriam seus bens. Ensinar o filho a construção de si mesmo é muito mais complicado que dar-lhe coisas.

Se você fosse mãe, iria querer guardar seu filho no útero, mas iria perceber que ele ficaria pesado demais e cairia. Melhor ensiná-lo a andar.

Se você fosse mãe, iria dar ao seu filho todas as lições de caráter que lhes são possíveis e mesmo assim iria perceber que o outro é sempre o outro, ainda que seja de sua própria carne - ou carne de sua alma.

Se você fosse mãe, sentiria que suas noites de sono não seriam mais as mesmas porque você iria ganhar a eterna mania de achar que pode proteger seu filho de tudo. Não pode. Você se tornou mãe, não Deus.

Se você fosse mãe, iria meter os pés pelas mãos na tentativa de fazer tudo certo pro seu filho e iria descobrir que isso é humano e não privilégio de mãe. Erramos, admita. Seu filho precisa de um ser humano, não de uma heroína.

Se você fosse a mãe do coleguinha de seu filho iria descobrir que as mães não são todas iguais, não moram todas no mesmo endereço e que se você quiser ser diferente e melhor, pode. "Mais do mesmo" não lhe fará cumprir bem seu papel. Seu filho precisa de você, não da mãe do coleguinha.

Se você fosse mãe, estaria com os mesmos medos que eu, mas não estaria jamais em meu lugar.

sábado, 24 de setembro de 2011

RECEBI ESTE E-MAIL HOJE


de deus@infinito.Eu
horário do remetenteEnviado às Eternidade (GMT-------). Horário atual no local de envio: Eternidade. 
paraSâmia Souza
data24 de setembro de 2011 00:00
assuntoFilha
enviado por
infinito.Eu
assinado por
infinito.Eu

Sâmia,

Tentei falar com você estes dias todos, filha. O que está acontecendo com você? Por acaso tem esquecido a sua fé? Mandei diversas mensagens através de irmãos seus e você fechou certas portas da intuição e não percebeu algumas coisas que foram ditas.
Em primeiro lugar: Eu nunca abandonei você e embora você saiba disso, nunca é demais repetir, né? Sempre tem um espírito de porco mal passado que gosta de soprar isso nos ouvidos de vocês e a carne é fraca - Eu sei disso porque fui Eu que fiz e de propósito para saberem o que vive e o que morre. Portanto: você não está sozinha!
Em segundo lugar: não compre certas idéias de tristeza, porque ela é má companheira, não paga a conta e nada resolve. Mantenha-se de cabeça erguida e faça o que é certo [você sabe porque eu enfiei isso na cabeça de todo mundo junto com o tal sopro que dei no ouvido de vocês]. Determinadas coisas vocês podem resolver sozinhos, outras deixem Comigo, ok?
Em terceiro lugar: já viu alguém nesta Terra que habita ser plenamente feliz? Imagine se eu faço a coisa toda certinha aí... aí que o bicho ia pegar mesmo e vocês não iam querer sair do lugar para nada nesta Vida! Embora você não acredite no cara que vou citar agora, saiba que "zona de conforto" é invenção do capeta. O Universo está todo em movimento e você quer ficar parada? Aí vai um conselho: se mova que tudo dói menos. Trabalhe, ore, confie e sorria. Tem um cara aí embaixo [não sei porque vocês acham que Deus sempre está em cima, que viagem!] que fez uma música assim: "pra todo mundo a minha cara de alegria, porque ninguém tem nada a ver com minha dor". De certa maneira é isso mesmo. Não quero dizer que vocês não devam se preocupar uns com os outros, mas a sua lição só quem faz é você. E também acho você mais bonita sorrindo.
Em quarto lugar: tudo passa. Tá bem... o conselho é batido, mas isso é Lei, querida, e não há nada o que mudar; mesmo porque se Eu ficasse igual a vocês criando leis que necessitassem de emendas, ementas, remendos e num sei lá mais o que, eu não seria perfeito, né?
Melhor parar de contar por aqui porque o e-mail vai ficar gigante e eu sou bom de matemática: vocês não sabem quanto é infinito mais infinito, mas Eu sei!

Luz, filha. Te amo.

Deus.


P.s.: Lembrei de outra música legal: "O mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo". ;)


sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ALMA RASGADA

Minha alma derramada, sobre uma banqueta vermelha; tentando ser o resto do que sobrou pra contar, depois do atropelo. Levanta e pouco vê. Tropeça nos lençóis, se encolhe no cantinho e pede baixinho ajuda. Quem pode me ler? Alma minha, minha vida é a lida de você. Quem pode me entender? Só quem já viveu a traição do punhal, só quem de morte se feriu e não morreu: agoniza como eu! É afogamento, é fogo por debaixo da epiderme, álcool nas escaras – o que vejo, sinto e penso é ter um céu com escadas pra que possa me safar.

Não há muito jeito alma minha, junta os trapos, engole as lágrimas e mata a sede na própria tempestade de teu peito. Escora-se nos escombros do seu sofrimento e transforma seus lamentos na porta de saída da dor. Se olhar para trás, corre o risco de prender uma das pontas de sua saia no espinheiro da lamentação. Cala suas mágoas: não existem sandálias que não sejam feitas pra gastar! Atrita seu peito contra o mundo e depois vai ver que fora dos lençóis tudo é mais luminoso. Não adianta grossas cobertas de medo sobre suas vestes já tão duras, permite que a Alta-costura remodele a fraqueza da sua falsa forma. Assim, alma, quando liberta estiver, saberá que as agulhadas, os espinheiros eram o Divino Costureiro a te ensinar.

Eu sei que a dor é real, mas nunca foi privilégio seu por sobre os ombros o peso do mundo. Ergue apenas a viga que te sustenta e ainda que haja, sangue, dor, não lamenta e se há poeira sobre seus olhos, a luz que guia e te alimenta jamais te abandonou – você é que não pode enxergar. Quando o pó da estrada assentar, quando o que lhe esmaga perecer, você vai lembrar que por mais seja a dor gigante, nada e nenhum ser, e mesmo a morte nunca é maior que o Deus que há em você! 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SEM [PRE]TE[N]SÃO

Eu pensei que tanto tempo calada fosse me fazer voltar e dizer minhas overdoses de letras. Não tenho nada. Sou a comum de sempre, a mulher cheia de coisas, aquela que sempre repete roupas, penteados, calcinhas, palavras... a mesma de sempre. Volto calada, porém.
Não vou despejar poema, afogar com tributos linguísticos uma frase legal. Não quero surpreender, nem convencer, nem rimar. Como tudo o que faço, quando vejo já fiz. Talvez esse seja o meu problema: sem cálculos. Tudo no feeling, na cegueira, no tato, no mais velho radar de alma - intuição.
Não planejo, não apago, se rimo, me contento, se não rima, não ligo. E esse é mais um texto para falar de como está tudo igual. Por isso decidi mudar e esse talvez seja o aviso prévio, viu? 
Conheço-me o suficiente para saber que quando as coisas amornam ao meu redor é porque está na hora de fazer diferente. Todas as vezes que alguém me disse "duvido que faça" eu ia e fazia. "Duvido que diga", eu ia e dizia. "Duvido que vença", eu ia e vencia. Hoje podem duvidar que eu só faço quando eu quero. E por estes tempos estou querendo dizer de mim novas palavras.
Tanta coisa igual vai me dando nos nervos. Por isso eu sei que sou a mesma de sempre - e vou mudar, por isso continuo igual.

sábado, 10 de setembro de 2011

QUASE MORTE É QUASE VIDA

No dia em que eu quase morri não estava só. Estava com Joana e Davi. Eu tangenciei a morte, mas não senti.
Foi assim como quem não quer nada que a morte tentou nos dar um tapa, mas a gente... na verdade, a gente não fez nada! Não tem "mas", o que aconteceu é que o carro bateu depois de girar sobre um viaduto, no meio da chuva e [sim, agora a conjução está no lugar] não fizemos absolutamente nada.
Não teve estilhaços - a não ser do momento. Não teve grito - a não ser dos pneus. Não teve choro - a não ser de chuva.
Não tive tempo de escolher as companhias com as quais entraria no lado da Vida em que corpo é peso. Não que elas não fossem boas, mas tinha mais gente que eu levaria nessa viagem. Longe de mim, amigos, desejá-lhes a morte! Mas eu levaria uma galera nesse passeio e quando a morte viesse, nós todos não teríamos tempo para adeuses. Como eu não teria, nem Joana, nem Davi.
Sobrou uma sensação de que estar vivo é quase morrer. E que quase tudo em que nos apegamos é quase nada. Eu estava toda maquiada e arrumada para uma formatura, mas eu não me formaria no curso que faço. Iria ser pega sem salto alto, porém. Acho que a morte viu que não estávamos prontos.
Não senti medo naquele 12 de agosto. Não dá tempo para o alcance e a espera estarem muito longe. Rodou, bateu, parou. Desci descalça no meio da pista, peguei um para-choque, entrei no carro e paramos num posto. A vida seguia dizendo "ufa, foi por pouco", mas é assim todos os dias! Resta-nos viver, fazer muitos amigos, pois se a roleta nos sortear novamente, estaremos em boa companhia.
Para quem acha que dirige tudo: a vida é um carro em descontrole sobre um viaduto molhado. Para quem acha que não pode nela fazer nada: nós mantivemos a nossa própria calma. Para quem tem pressa: calma, ela te encontra. Para quem não a quer: ela é democrática. Para Deus: valeu, eu não queria abraçar a dita cuja.