domingo, 23 de agosto de 2009

SILÊNCIO COMIDO


Imaginem um monstro que engole silêncio... ele come o silêncio aos poucos e nós somos obrigados a falar e pensar [pensar faz barulho]. Obrigados a se pronunciar! Pois, estamos todos vivendo a era do monstro que come o silêncio!

Quem mais tem tempo de silenciar a mente e a palavra falada? O hoje nos obriga a viver na velocidade da informação, na velocidade da televisão, no molde dos barulhos produzidos - dentre eles, aqueles a que alguns chamam de música, mas eu nunca consigo entender por quê. Tudo é produzido de uma forma e temos que saber as novidades, sob o risco de estarmos defasados, como também temos que opinar sobre tudo: política, futebol, novela, livros, poesia, moda, internet e etc de etc! Você aperta um botão e uma profusão de cores, sons, imagens são jogadas em sua casa e você ali de boca aberta engolindo tudo; ao chegar no ônibus você ouve pessoas falando de tudo aquilo, de todas as histórias e denúncias do jornal nacional e não consegue deixar de prestar atenção. Em pouco tempo, olha você comentando como um repetidor as mesmas palavras [ou aumentadas] que ouviu outro alguém dizer!

A mente fica funcionando rapidamente para administrar tudo o que se absorveu durante o dia e não meditamos no que queremos para nós mesmos. Não silenciamos a mente - não é parar de pensar, porque o pensamento não se estanca, é selecionar o que queremos focar. Mas como fazer este exercício se estamos enfiados num mar de informações veiculadas de todas as formas? Bem... eu tenho algumas dicas que sigo. Uma delas é não comprar tantos compromissos com tudo à minha volta. Parece que precisamos saber de tudo um pouco e não é bem assim, pois não lidamos com todas as coisas que sabemos. É importante matermo-nos informados sobre coisas importantes, mas sobre tudo, não. Sair um pouco, relaxar a mente da política, da gripe suína - que se tiver de lhe pegar, vai pegar - do chefe, da empregada que não faz o que se pede, do marido ou da esposa - vocês nasceram separados, não se esqueça - e de tudo aquilo que não podemos controlar. Acredito que este seja o ponto crucial, o controle que queremos exercer sobre todas as coisas, a ânsia de segurança, de manter-nos cônscios sobre as coisas que nos cercam e mesmo aquelas muitas que não nos dizem respeito e não nos fazem falta. Pronto... comecemos a calar a mente de todas as coisas que não podemos prender, controlar, mandar e reter, ou seja, todas as pessoas, todas as vidas que amamos e o futuro.

A única coisa que podemos controlar é nossa ação na vida dos outros e no mundo. Então pensemos no que podemos fazer para tornar o mundo mais feliz, como daremos nossas respostas às questões que se nos apresentam; criemos aquele território ético e automático de ação para com todos sem muita preocupação com o que pensarão sobre nós [isso, definitivamente, não controlamos] e silenciemos a mente. Priorizar com o que queremos nos ocupar - não preocupar - é de suma importância para não deixarmos que o nosso tempo seja consumido com todas as coisas superfluas que nos enfiam sentidos abaixo. Estamos vivendo uma época de produções exarcebadas de valores que consumimos como os patos engordados à força para que alguns humanos comam seus fígados, mas em nosso caso, comem o nosso precioso silêncio.

Termino este texto com um trecho de uma música de Lenine:

"O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência..."

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

LAÇOS


Um fio de caminho sozinho não tece nada. Vamos andando e atando laços. São tantos que ao longo da vida concretizamos... uns mais belos que os outros. E o que seria da vida sem aquele laço que se forma no cordão umbilical? Não seria! E o laço que damos no dente de leite e puxamos para que nasça um outro no lugar? É engraçado pensar que a vida é um grande novelo de linhas múltiplas, que se encontram e desencontram, às vezes, para nunca mais...

Há aquele laço que damos voluntariamente e que se chama amizade. Importantíssimo! Indispensável! Laço bem dado este! O fio paralelo, enlaçado, eterno da amizade é o amor fraterno em plena ação. Nossa... de pensar me emociona. Não tem desespero, obrigação, rolo de pastel atrás da porta, aniversário de sogra, aliança de ouro... sem panelas pra lavar, pares de meias trocados, nem lado da cama preferido; nada disso se impõe a um amigo, e para falar toda a verdade: amizade nunca se impõe. Não tem obrigação de dar certo e não contamos os meses; não fazemos planos pro futuro, nem bodas de prata, não tem herança, litígio, bens! Não tem "se você me deixar eu morro", assinatura, mudança de nome [nem de planos!!!]. Herdeiros, herdades, vaidades, maquiagens, afinal é amizade e estamos falando de laço voluntário.

Olha só que beleza. Um dia conhecemos alguém, depois de um tempo este alguém partilha nossos contos, cantos, medos, desejos, segredos; luta por nós, conosco e nós por ele. Sentimo-lhe a falta, mas sem problemas de marcar encontros todos cheios de pompa, que é isso? Amizade se compra? Duvido! Sentamos na beira da calçada descalços, descabelados, de camisa de casa, sem escovar os dentes depois do lanche, sem fazer as unhas e sem escolher sapato. Amigo, de fato, é o que olha o olho, a alma, o sorriso [não o dente], que estima sem penduricalhos que escondem tudo de mais simples e belo. Você senta na praça, enfia as maõs no bolso e acha umas moedas, vai ali, compra um biscoito, um suco e divide isso com seu melhor amigo, sem pressa, sem título de faculdade, sem emprego bombadão, sem carro [nem do ano, nem de ano nenhum]. Colo de graça, ombro pra sempre, tudo em duas mãos, em via dupla, em qualquer direção, cor e credo. Mais belo que isso? Só amor de mãe pra filho.

Você está numa pior, perdeu tudo, mas não existe isso de perder amigo. Isso é impossível! Se perdeu, é que não era amigo. Você está longe, viajou pro outro lado do mundo; se perdeu, é que não é amigo. Você casou, teve filhos; se o amigo sumiu, é que não é amigo. Ganhou uma bolada de dinheiro, ficou rico; se esqueceu daquela pessoa do banquinho da praça que dividiu o suco e o biscoito contigo, você é uma merda de gente que não vale mais nada! E se só faz amizade com aquele povo que pode te dar status e qualquer coisa material em troca? Sinto lhe dizer que você tem grandes chances de morrer numa profunda solidão.

Se existe um laço mais leve e mais forte que não tenha o aval da consanguinidade para acontecer, este laço se chama amizade. Não há nada mais brando e aquecedor que ter amigos. Um casamento sem papel, um compromisso sem amarras, uma companhia sem interesse sexual, uma mão sincera. Isto é amigo. E é bom que possamos estender este laço para todos os laços de nossas vidas, porque qualquer coisa pode durar muito, mas sem amizade, jamais será eterno!

{aos meus grandes amigos da Vida}

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

NÃO, NÃO E NÃO!


É preciso ter um pouco de coragem para dizer não. Temos medo de perder. Eu sinto muito medo de magoar as pessoas, mas se for olhar um pouco mais atentamente vou perceber que não é bem no medo de perdê-las que mora minha dificuldade de negar alguma coisa. Há uma outra questão que necessita de crueza para assumir como sendo verdade, estou falando de orgulho. Mas isso está bem mais ao fundo e como base de tudo; falando assim não dá pra ver onde mora o orgulho.

Não queremos desagradar, porque não queremos ficar sós. Mas também não queremos nos abrir, sermos totais, sermos francos. Nós queremos conquistar as pessoas, parecermos perfeitos e bons de se apostar. Então... fazemos concessões indevidas, falamos sim quando queremos dizer não, corremos atrás de alguém que não vale a pena respirar o mesmo ar que a gente e tudo isso porque não admitimos receber também um NÃO. Hummm será que estamos começando a detectar onde mora o orgulho?

Quantas vezes nos portamos como criancinhas mimadas que não admitem perder? Quantas vezes fazemos barganha, imploramos atenção com comportamentos que só ferem a gente mesmo? Por que manter em nossa vida pessoas que não valem para gente uma moeda furada? No fundo está a velha ilusão do controle, do poder... por trás da fragilidade de quem sempre diz sim a tudo, está alguém que não lida bem com perdas e com "nãos".

Vou lhes dizer uma coisa engraçada. Tem um ser humano que está me ligando e mandando mensagens há algumas semanas. Eu tenho CERTEZA de que não quero conversar nada com ele. Não tenho nada para lhe falar e não sinto a menor vontade de lhe ouvir as baboseiras. Ele é metido, age no melhor estilo "se acha", tem uma lista de meninas apaixonadas atrás dele [e que ele faz questão de ostentar] e enfiou naquela cabeça - que deve ter lá muito espaço vago - que eu tenho que sair com ele. Pois bem... eu ainda não tive a coragem de falar tudo isso a ele. Óbvio que se eu usar estas mesmas palavras estarei sendo uma grossa, o que não costumo ser com ninguém, mesmo que implore. Mas eu, na hora "h", fico com PENA. E agora eu me pergunto: Tem cabimento? É mesmo por causa da pena que eu não lhe mando pastar? Isso eu já respondi lá em cima.

São sobre estas pequenas coisas que estou falando, cuja a existência evidencia nossa grande ilusão de controlar tudo, inclusive o que acham de nós. O que mudará em mim se ele se sentir desagradado com minhas respostas? Nada. Essencialmente, nada. Ter cuidado para não magoar as pessoas é imprescindível, mas não devemos ser condescendentes no momento em que se é necessário deixar claro o que gostamos ou escolhemos para nós mesmos, sem permitir que o outro violente nosso espaço. O querer dele ou de quem quer que seja não pode sobrepujar minha liberdade, minhas escolhas, minha autonomia. Ele não é mais importante que eu para mim mesma. Se ele se chatear com o meu não bem redondo, eu não poderei fazer nada.

Sei que falando estas coisas me exponho, mas também sei que estou exposta a pessoas que sentem o mesmo que eu, em maior ou menor grau. Não estou sentindo medo de que possa ser mal interpretada. Isso é sempre possível. Faço questão de assumir este defeito, esta nuance e dizer que batalho desde há algum tempo para vencer estes maus hábitos adquiridos sabe-se lá quando. Acredito que outras pessoas passam por isso em suas vidas e se estiverem lendo estas palavras francas que pensem um pouco nas próprias ações. Amar a si mesmo é o primeiro passo - SEMPRE.

sábado, 15 de agosto de 2009

CULPA


Quantas vezes já ouvimos esta palavra? "A culpa é sua", "eu sou culpado", "quem é o culpado por tudo isso?". Desde quando a culpa nos acompanha? Ela é indispensável?

É estranho pensar no mundo sem a culpa, afinal de contas temos a mania de confundi-la com arrependimento e isso ela não é. Como não? Não é, simplesmente! O arrependimento é o reconhecimento de que a atitude que se cometeu foi errada; depois dele vem aquela tristeza por vários motivos - todos ligados à consciência de moralidade de cada um. Entristecemos, por exemplo, por termos atingido os outros, por termos nos atingido, por termos tomado a atitude que nos levou a um caminho indesejado, ou que fez alguém sofrer. Qual o próximo passo?

O próximo passo - nos diz a consciência culpista - é sofrer pela ação errada cometida, alimentar a tristeza, considerar-se indigno e, somando isso tudo, ser culpado, sentir-se culpado. Péééééé [sirene] passo em falso! Agir desta maneira automática é fruto de uma educação milenar e católica que nos impôs um modus operandi para fugir de um inferno eterno. O problema é que esta atitude plantou no fundo das consciências o inferno pessoal e ambulante. Criou consciências culpadas e "culpadeiras", porque não basta nos flagelar, em nossa sede moralista inflingimos ao outro a carga projetada de nosso medo atávico.

Um passo íntegro e justo, depois do arrependimento, é enxergar com compaixão a si mesmo como um ser imperfeito e que, por mais queira e tente ser perfeito nas ações e pensamentos, ainda trará por um certo tempo traços da própria imperfeição e ignorância. Ainda magoará e ferirá aos que ama - que dirá aos que não ama ainda! Consciente de que erramos, devemos nos RESPONSABILIZAR pela atitude que tomamos e ADMINISTRAR as consequências de nossos atos, mas sem esquecer que Justiça mesmo nós não podemos fazer. Nossa capacidade de julgamento é, por vezes, tão simplista e imediata que não chegamos a lançar o olhar para fora de nós mesmos e acabamos atribuindo um defeito que é muito nosso ao outro. E como eu creio em Deus e na sua Sublime Justiça, sei que Ele dará a mim de acordo com minhas obras [quem disse isso foi Jesus]. Como acredito em Sua Perfeição, sei também que Ele me dará a oportunidade de refazer um caminho, porque Ele quer a morte do erro e não do "errador" [Jesus disse isso também]. E sendo Ele todo Amor, deve amar de forma plena, aliás, Deus é Amor e assim sendo, não pode ser menor que eu, que sou sua criatura e consigo amar minha filha a tal ponto que tantas vezes forem necessárias eu a perdoarei. E se eu acreditasse num inferno, para lá iria só para não vê-la sofrer. E por falar outra vez em inferno, se ele existisse, para mim, seria a prova irrefutável da incapacidade do poder divino de estar em todos os lugares e ter todo o poder, pois parte de algum lugar teria um espaço de dores e penas eternas para filhos que Ele criou e que por ser Onisciente, saberia que aquele ser iria se desviar. A misericórdia divina tem que ser melhor em tudo que a minha. O perdão Dele tem que ser infinito e maior que o meu, a quem foi pedido perdoar não só 7 vezes, mas 70 vezes 7 vezes. Se devo fazer isso ao meu próximo, para mim devo aplicar a mesma medida, uma vez que também devo amar o próximo como a mim mesma [by Jesus]. Imaginem só a multiplicação de Deus!

Considerando que A Força Maior exista, Ela deve ser infinitamente maior em tudo que é bom e mais além [pois não sondamos os mistérios divinos]; o que não posso conceber é ver em Deus traços humanos. Ou seja, o que eu quero dizer com tudo isso? Que a culpa é criação nossa! Quero dizer que a culpa é uma tentativa absurda de fazer justiça consigo mesmo e para isso se auto-flagela desacreditando na Justiça Divina e em Sua misericórdia. É comum ouvir dos culpados que Deus não se importa com ele, que tudo está perdido e que nem orar ele deve mais, pois Deus não o ouvirá mais. Como se Deus fosse tão mesquinho e vingativo quanto nós costumamos ser! Como se Deus fosse um senhor ciumento e orgulhoso, cuja vontade não foi obedecida e Ele resolveu dar o troco. Não tem algo de errado nesta história contada há tanto tempo? Não está na hora de ter mais fé? [Onde a fé entra nesta história?] Fé é a crença firme em algo bom - pra resumir. O contrário se chama medo, que é a crença firme em algo ruim. Se nos falta fé, nos sobra o medo. E como Deus é infinitamente bondoso, não preciso temer mal algum. Não preciso temer sua Justiça. Bem aventurados os que sofrem e choram, porque estes serão consolados [Jesus]. E como o Amor cobre uma multidão de pecados e sendo Deus Amor, Ele dará a oportunidade de que refaçamos nosso caminho sem o peso da culpa, mas com a consciência da responsabilidade, pois a quem muito é dado, muito será cobrado.

Devemos encarar de frente a Vida, mesmo tendo errado. Errar é humano, não? E para isso não há quantidade. A dor, depois que insistimos muito em errar, nos convida a voltar para o "aprisco", para o caminho reto que conduz a salvação. Se nos prendemos numa atitude de culpa, a única alternativa que nos resta é sentar à beira da estrada e esperar nossa sorte; a culpa paralisa nossas potencialidades de movimentação, pois o culpado crê firmemente que para ele a solução é o famigerado inferno [que inferno!]; entretanto o ser responsável busca de alguma forma consertar o erro e não permite nem a si mesmo nem a outrem que lhe joguem pedras, afinal quem estiver isento de erros que atire a primeira delas.

Justiça não é vingança, culpa não é responsabilidade nem arrependimento; não somos perfeitos, mas perfectíveis, portanto passíveis de melhora sempre, Deus é fiel a si mesmo [Lei é lei] e não vai privilegiar um filho em detrimento de outro. Jesus disse que Ele é Pai, se somos iguais, somos irmãos. Se somos irmãos de um mesmo Pai é que temos todos os mesmos direitos e deveres. O filho pródigo que saiu pelo mundo a gastar todos os bens que possuía, quando resolveu voltar e refez todo seu caminho de tristeza até chegar ao seu lar, foi recebido de braços abertos e festejado. Com tantos exemplos de misericórdia e perdão não é auspicioso [rs] que continuemos fazendo da culpa a nossa melhor opção. Pensemos nisso e bola para frente que o gol também é estreito! [Eu tinha que fazer graça com a porta estreita] Vamos treinando!