Então você acorda e a morte lhe
dá “bom dia” nos telejornais. Como se ela fosse uma governanta chata. E é. A
inexorável está todos os dias no mesmo lugar: nos corpos perecíveis. Ela
comanda a cadeia do impermanente, do descontrole, do “sem chances de estorno”.
Ela não se atrasa, não parcela no cartão. Para muitos é “morreu, acabou”, para
outros – como eu – “morreu e recomeçou”; e para todos é A Certeza.
No controle remoto da vida, ela é
o outro botão emperrado, que não funciona, que não acionamos a nossa vontade.
Nem o “start”, nem o “stop” nos dão este prazer. E ficamos desesperados, impactados diante da imagem desta que não negocia com ninguém. E por mais que
tentemos soprar a fogueira que mantém um coração batendo, por mais tentemos
reacender a brasa prestes a sumir nas cinzas, a morte trabalha como a gravidade
– não se levita por muito tempo neste planeta.
Suas táticas e seus procedimentos
operacionais vão desde uma doença “braba” a um engasgue com farinha e, para ela,
tudo é uma desculpa para se fazer cumprir o cronograma do dia. Não se eufemiza sua
presença – ainda que tentem –, não há metáfora que a supere, porque a dita cuja
é um tiro de fuzil com mira a laser. Dizem
os que a estudam que ela não dói; morrer não dói para quem morre, morrer dói
para quem vive. Morrer dói para quem sobrevive, para quem também a espera (não
como quem a deseje). Ela deixa um guizo sinistro na vida dos que aguardam sua
vez na fila e quando soa a própria hora o samurai de capuz preto cumpre seu
papel e ele quase nada exige: para morrer, basta estar vivo.