terça-feira, 5 de julho de 2011

PÍLULAS

Não há pílulas de sumir. Beber num único gole um ponto final. Não há! Há pílulas para dor de cabeça, não fazer criança, não deixá-las nascer; há pílulas pra enjoo, para ressaca, para dores, inchaço, inflamação, mas não há - de uma vez por todas, não há - pílulas de não ser eu.
Uma vez termos [quase todos] entrado no mundo por não terem pílulas aos nossos pais, estamos aqui para tantas coisas mais, mas - insisto - jamais para sumir. Não dá para voltar a ser do tamanho de uma pílula, virar uma vírgula, dois gramas de pó, uma formiga, um cílio caído, um olho de mosca ou coisas assim. Depois de crescido, de tantas pílulas ter ingerido: olha nós aqui.
Com o corpo cheio de coisa - roupa, pelo, sebo e sangue - vamos dando um jeito na coceira das costas com a unha de alguém e ainda que tudo seja mangue, não tem por que virar caranguejo também. Isso é só uma rima, logo passa; logo passo desse ponto, logo pense nesse conto: lago é pássaro também. Vê-se na água refletido, voa longe no infinito e vira pílula no além.
Não era pra ser assim, mas há pílulas necessárias quando a dor é muito intensa. Da vida - sei um tanto - não nascem só feridas, há outras gotas coloridas vendidas em frascos, destribuídas por velhos, doadas por amigos. Estou falando de jujubas, confetes de chocolate, pastilhas de menta, balas soft. Há todas essas pílulas - alegre-se -, menos as de sumir!

Nenhum comentário: