sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ALMA RASGADA

Minha alma derramada, sobre uma banqueta vermelha; tentando ser o resto do que sobrou pra contar, depois do atropelo. Levanta e pouco vê. Tropeça nos lençóis, se encolhe no cantinho e pede baixinho ajuda. Quem pode me ler? Alma minha, minha vida é a lida de você. Quem pode me entender? Só quem já viveu a traição do punhal, só quem de morte se feriu e não morreu: agoniza como eu! É afogamento, é fogo por debaixo da epiderme, álcool nas escaras – o que vejo, sinto e penso é ter um céu com escadas pra que possa me safar.

Não há muito jeito alma minha, junta os trapos, engole as lágrimas e mata a sede na própria tempestade de teu peito. Escora-se nos escombros do seu sofrimento e transforma seus lamentos na porta de saída da dor. Se olhar para trás, corre o risco de prender uma das pontas de sua saia no espinheiro da lamentação. Cala suas mágoas: não existem sandálias que não sejam feitas pra gastar! Atrita seu peito contra o mundo e depois vai ver que fora dos lençóis tudo é mais luminoso. Não adianta grossas cobertas de medo sobre suas vestes já tão duras, permite que a Alta-costura remodele a fraqueza da sua falsa forma. Assim, alma, quando liberta estiver, saberá que as agulhadas, os espinheiros eram o Divino Costureiro a te ensinar.

Eu sei que a dor é real, mas nunca foi privilégio seu por sobre os ombros o peso do mundo. Ergue apenas a viga que te sustenta e ainda que haja, sangue, dor, não lamenta e se há poeira sobre seus olhos, a luz que guia e te alimenta jamais te abandonou – você é que não pode enxergar. Quando o pó da estrada assentar, quando o que lhe esmaga perecer, você vai lembrar que por mais seja a dor gigante, nada e nenhum ser, e mesmo a morte nunca é maior que o Deus que há em você! 

Nenhum comentário: