quinta-feira, 1 de julho de 2010

ONDE CABE O DOCE?

A gente caminha se batendo entre egos tão espinhosos quanto o nosso e se fere, se deixa ferir e fere - se feriza. Onde os quindins da gentileza? Em meio a desconfiança do dia a dia, onde um cumprimento pode vir eivado de interesses, a troca vã passa a ser moeda de felicidade, quem guardou os pudins da amizade?

Bem sabemos degustar o doce e nem sempre ofertamos o chocolate que acalma os dissabores da convivência. Poderíamos tantas vezes silenciar na maledicência o açúcar da compreensão ou fazer aquela magnífica cobertura alva com o glassê do perdão. Esquecer as lasquinhas do limão alheio e dar exemplo antes mesmo de molhar nossas relações com o sumo do tamarindo que plantamos em nós. Não é para fingir a perfeição, afinal, as balinhas de gengibre também ardem, mas não desistiram do doce.

Todo mundo tem seu próprio jeito e sabe que tem uma essência única. O caramelo é duro, mas é doce. A gelatina treme de medo, não se segura em pé, mas é doce. O sorvete é frio e se muito tomado dá aquela dor de cabeça, mas é tão doce... Então, não se pode pensar que tudo é jiló, nem o próprio coração. A vida nos põe em apertos, nos liquidifica as escolhas, leva-nos ao forno e fogão [quantas vezes ficamos em banho-maria!]. Ainda assim, vejam bem, cada ingrediente para dar o seu melhor à mistura passa por um processo diferente.

Abra a dispensa e estará cada coisa em sua própria embalagem; abra as embalagens e ponha tudo junto num lugar e vai perceber que nem toda mistura combina, com jeitinho cada um vai se juntando e vendo com quem pode ficar. Não se deve forçar a barra, mas dar o melhor que puder. Assim devemos ser.

Ter medo de estar com o outro e de se submeter ao cozimento da vida pode nos garantir a continuidade na embalagem, contudo a mistura é muito mais interessante e cada uma passa pelo o que é preciso para se tornar ideal. Na dúvida, se não souber como se dar, nem o que de si pode oferecer, dê o seu doce. Olhe para dentro de si, têm lá nem que seja um punhadinho de açúcar. Ofereça porque o doce cabe em qualquer lugar.

2 comentários:

Cláudia Isabele disse...

Só gostaria de deixar regoistrado para todos os fins que eu conheci este belo texto em primeira mão e que não dou entrevistas sobre ele antes do dia 5 de julho e não adianta insistir, minha agenda está lotada!

Anônimo disse...

Samia,


Bem que esse texto poderia ir para o blog gastronômico. Você continuaria sendo o contraponto poético da racionalidade "cozinheira". Mandeo-o para lá.

Bj.

Roberto.