terça-feira, 6 de julho de 2010

CHUVA

E a chuva que desembarca em mim molha os segredos que me compõem. Misterioso fluir transcendental, de onde vem tanta água que não de mim? Achava eu que enchia mares ao espernear de medo da vida. Toda vez que sofria, lá vinha rios de rebeldia. Mas essa chuva vem como quem nos oferece um caldo quente, um cobertor macio de lã. Desanuvia, esclarece e acompanha. Depois que tudo faz e preenche-nos de ventos brisados, vai-se cumprir em outro lugar o mesmo que em nós. Ou canta em outros telhados. Ou limpa o céu. Ou ritima esperança nas calhas dos vizinhos. Ela vem desfazendo-se em contradições: assusta e acalma. Enche, muito mais que eu, de água o mundo. Esvazia a vontade de brincar no pátio. Aquece o coração de quem tem sede. E, se vai embora, eu fico dissolvida de segredos, porque a chuva afogou os prantos sem razão e secou as poças de mágoa. 

2 comentários:

Anônimo disse...

A sua chuva é cheia de calor...
Nem sempre acalenta a alma, mas lava os espíritos.
Adorei a receita do brigadeiro. Oposta à chuva, a receita pede companhia. Semelhante à chuva, é cheia de calor.
Abri um blog:http://historiassemprehistorias.blogspot.com/. Já inseri o seu e nosso lá. Visite e comente.

Bj.

Roberto.

Luiza Guimarães disse...

Que a chuva venha!

E que seja inesperada, me pegando de surpresa no meio da rua: "mas o dia começou tão lindo......".

Para que eu não tenha nem tempo de correr e ela possa lavar a minha alma e levar meus pensamentos aonde eles querem estar.