terça-feira, 3 de janeiro de 2012

CAMINHA ALMINHA.



A alma caminha, desde muito, vazada da mão de Deus. “Não estou pronta”, grita minh’alma. E não está a sua também. Nem a sua, nem a minha, nem a de ninguém. Mistério profundo o de querer descobrir que fim a alma tem. Tem?

Vai se esgueirando entre as fendas da estrada, se forjando em pó e mágoa, se lapidando na dor e tomando um brilho próprio, pelejando as próprias asas como lagarta fogueadora – queima, se arrasta mole e feia e depois borboleta se mostra voadora.

Ampara a leira de plantio livre, arbitrando as vontades do próprio caminho – se de vagos clarões faz sua estrada, não reclama os escuros sustos do destino. A alma vai se fazendo nela mesma, do material em que se transforma ao viver – e é só o que se pode fazer; não há nada além de ser alma. Por isso não há igual alma no mundo: não pesam os mesmos medos, não cheiram os mesmos risos, não sangram os mesmos ais. O máximo que se pode ter, em termos de almas iguais, é uma que tenha a ponta do lençol que se encaixe na assimetria do outro coração [porque em mim é lá que alma habita].

E hoje amanheci a me questionar, de onde nascem as almas que não querem andar? Quantas lágrimas molham uma alma? Que dor é essa que tem a sua e na minha não tem? Por que há mofos distintos nas barras dos nossos lençóis? Numa vã tentativa de entender o que vai na trouxinha amarrada nas costas da alma de alguém; mas não dá, não é possível ver além do próprio lençol. Outras coisas é que são possíveis e o Amor é o pai de todas elas; destas que redimem, que aquecem, que confortam, que abrigam, que ensinam, que unem e ajudam a caminhar, alma.

2 comentários:

Ademir Batista de Souza disse...

Um texto de beleza transcendental cuja linguagem procura decodificar os meandros do ser.

Marigil Vieira disse...

Tocante e profundo...