quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

PAOLA E SEU CONTO DE FADAS SUSPIROSO - ME ENGANA QUE EU GOSTO.

Paola dizia: "pelo menos vou morrer e direi até lá que eu, sim, tive um conto de fadas!" De fato, ela teve. E eu já ouvi essa história milhares de vezes. Milhares de milhares. Ela fica quieta por uns tempos e logo depois me volta com a historinha do dia dos namorados de 2007. Eu não acredito, mas jamais disse isso a ela. Não acredito porque sei que estas coisas não existem e nem nunca vão existir a não ser em filmes da Globo [dar uma forcinha para o cinema nacional, né? Chega de Hollywood].
Pois bem. Ela diz que num dia, estava solteira, e melhor dizendo: recém-solteira. Tinha levado um chifre monumental do namorado tosco e terminou com ele [entendam esta frase como quiser]. Daí, no dia dos namorados, ela se arruma um pouco mais, mas não na esperança de arrumar ninguém. E nem se arrumou tanto assim, porque vi Paola passando em direção ao ponto de ônibus. O que ela usava? Uma calça jeans à vácuo, uma blusa preta daquelas "estilo nadador", uma mochila nas costas. Eu bem disse que não foi nada demais, mas ela conta a história bem florida para parecer mesmo o tal conto de fadas que ela diz ter.
Enquanto se olhava no espelho ela sentiu algo estranho no pé do ouvido e sorriu. Sei não... eu acho que foi labirintite, mas ela diz que sentiu uma certa sensação de que algo especial aconteceria. Sorriu e eu posso apostar que sorriu mesmo, porque ela vive com aqueles dentes na fresca!
Sorriu, tá... sim! Ela sorriu e saiu assim. Pegou o ônibus de costume e achou um lugar vago como ela sempre encontra. Sentou-se e em poucos instantes estaria lá no seu destino se não fosse o engarrafamento monstro das 18 horas. Mesmo assim ela estava confiante em Deus lá sabe o quê. De repente o ônibus chega num ponto qualquer e entram 2 milhões de pessoas. Dentre estes 2 milhões, um rapaz [adivinhou quem disse que seria o tal príncipe do conto de fadas que ela diz porque diz ter]. Ele se aproxima e para do lado dela. Ela se afasta o quanto pode para o lado oposto porque o futuro príncipe estava com as partes íntimas bem próximas de seu rosto. Mas não podia fazer isso de maneira abrupta porque ao seu lado tinha um sapo. E esse outro era sapo que nem com beijo de língua de Cinderela virava gente! Mas eis que o sapo guardava o lugar do príncipe, porque ele se levantou e deixou a cadeira ao lado de Paola vaga, vaguíssima, na espera. Paola olha pra cima, [sorrindo sempre, não se esqueçam disso] e pergunta: "quer se sentar?". Pergunta idiota, gente, nem sempre tem como resposta a intolerância alheia. Vai saber se o tal príncipe já não vinha bem mal intencionado desde que entrou com o batalhão de 2 milhões de pessoas no ônibus, o fato é que ele sorriu gentilmente de volta e agradeceu. Sentou-se do lado dela e ficou num silêncio infinito. Coisa que o acaso faria questão de quebrar.
O engarrafamento crescia em progressão geométrica, ela se atrasava em proporcional montante, o príncipe calado e o ônibus freia bruscamente. Susto devem ter tomado e nesse momento todas as intimidades se constróem, pois ao dividir momentos de quase morte, as pessoas esquecem aquela coisa que mamãe ensina: "não fale com estranhos". No momento do susto a gente fala até com o sapo ao lado, mas a sorte de Paola é que ao lado estava o príncipe e ela falou com ele. "Nossa, que absurdo" e ele: "é mesmo". Oxe... foi a deixa pra ela. "Ainda bem que não estamos em São Paulo, né? Porque moraríamos aqui neste ônibus até abrirem nosso sarcófago no próximo ponto". Ele riu. E ela viu que ele entendia de piadinhas e isso era indício de que ele era, no mínimo, inteligente. Claro, né? O ego de Paola é imenso o suficiente para que ela mesma se tome como parâmetro para diversas coisas, inclusive a inteligência. [E a desgraçada é, viu?]
Depois disso eles passaram a rir das mesmas coisas, porque a sintonia era absurda. Eles riram da praga que a pipoqueira conjurou ao motorista que quase a atropelhou. E inventaram juntos uma finalização para a história, que seria ela mostrando o cartão pessoal do Pai de Santo dela e ele levantando o dele. As coisas acabariam no terreiro próximo. E riram até que o ponto dela chegou. Ela esmaeceu a cara e disse: "preciso saltar, estou atrasada." Ele pediu: "não salta agora. O ônibus vai até o final de linha e volta; vamos até lá e volto caminhando contigo". E ela pensou que... que pensou que nada: "está bem". Foram até o final de linha e voltaram falando de um monte de coisas das suas vidas. Descobriram que as datas de seus aniversários e dos aniversários dos filhos do príncipe são iguais, diferem só os meses. E descobriram que eles se conheciam há séculos, porque era bem isso que parecia. A distância a ser vencida a pé não era pequena, mas foi o que pareceu, pois em instantes Paola e o príncipe estavam em frente ao destino que o ônibus a levaria inicialmente. "Me dá seu telefone?", ele pediu. Ela deu. E eles se deram as mãos e conversaram muito mais. Nem lembrou de pegar o telefone dele e isso significava uma coisa: ele ligaria na próxima encarnação para ela. Mas ainda tiveram tempo de dar um beijo. Sim, eles se beijaram ali e se não me engano, ela levantou o pé direito para que tudo ficasse ainda mais com cara de conto de fadas.
Eles se viram mais muitas vezes. Não estão juntos. Não de maneira física, eu diria. Mas se encontram de vez em quando; trocam e-mails e se respeitam. Eu diria que se amam. Se amam a tal ponto de não fazerem planos para o tal final feliz e sentirem no coração que essa história não terá mesmo um fim, mas desde já é feliz.
Agora digam vocês: isso tudo poderia ser verdade?

Um comentário:

Cláudia Isabele disse...

Claro que pode[ria]!
Delicioso esse conto de fadas!
Levantou minha manhã!
;D