sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

VELOZES E ENTORPECIDOS

Rápidas informações, rápidos são os acessos a elas, rápido, todas passam e só lembramos delas na retrospectiva do ano que se finda. Muitas vezes nos perguntamos: "foi esse ano, foi?". Ou eu mesma me espanto - já tem 10 anos do atentado às torres gêmeas. É... o tempo está numa velocidade imensa e - digo eu - mórbida.
Assim como os obesos americanos, brasileiros, baianos, ricos, pobres, moradores de qualquer lugar, a vida tem produzido e engolido informações aos magotes. Produz-se todos os dias informações sobre todas as coisas; ou melhor, produz-se notícias sobre todas as coisas. Estudos? Não. Melhor afirmar que "os cientistas afirmam", assim fica com cara de verdade, ninguém tem tempo de verificar, tudo muda rápido demais e é isso aí. Obesos que engolem notícias, manchetes, chamadas, vinhetas e não se alimentam mais de conhecimento. E quem tem tempo, meu Deus? Se até de Deus esquecem. Mas lembram agora nessa mega sena da virada. Ai Deus, até tu, meu velho, virou notícia - que passa mais rápido na memória RAM e nem chega a entrar no tal HD.
E por falar em peso, produzimos toneladas de tudo nesta vida. Por que será que tenho ouvido notícias fazendo propaganda em toneladas sobre as coisas que produzimos? Sobre esta questão, um esclarecimento: notícias são propagandas de estilo de vida ideal, parecem que os infelizes escolhem as mesmas coisas para delas falarem enquanto lhes intere$$a. E mais um outro esclarecimento: produzimos mais do que precisamos de todas as coisas que temos. E voltando ao assunto: sobre informações também.
Não sei para que diabos eu quero saber de todas as coisas que nem gravo. E me dirão: para não ficar alienada, fora do mundo. Ahhhh pára com isso! Aliás: para. Passaram correndo pelo acento e o mataram e eu odeio isso.
Pois vou lhes dizer mais algumas coisas e se minha inspiração acabar eu termino o texto antes de dizer todas, mas essa eu lhes direi: a velocidade é a nossa nova droga. Viciante, causa dependência física, química, o diabo a 4. Não nos deixa desligar celulares, notebooks, televisores, a mente, a tomada, os olhos das últimas novidades - que num piscar de olhos viram antepenúltimas, mais uma semana e já viram primeiras. Ligadões!!!
Tradição? Que nada! A onda é atualidade. Mas... para onde corremos?
Para que batemos o carros por excesso de velocidade, por que perdemos o tracejado das curvas, por que nos embriagamos com o amanhã, por que tantas miragens? Vertigem entre prateleiras de cores vivíssimas! E quando fui me dar conta do que eram emos e de que estes diabretes usavam preto, eles já amanheceram coloridos!
E já que falei tanto no diabo, posso dizer que o "new" diabo é a própria velocidade. E como todo bicho-ruim que se preze, ele nos tira o melhor: o tempo do amor, que é em slowmotion, o tempo de cair os dentes dos filhos, o tempo de curtir as férias, o tempo de sentar à beira da praia com os amigos, o tempo do luto, o tempo de sono, o tempo do beijo, o tempo da respiração.
O ano está nas últimas e eu percebi que a enquete que fiz aqui e coloquei como limite de participação o último dia do ano, passou depressa demais. A gente supõe um futuro e ele já está em nossos narizes, com a velocidade do espirro que damos. Senti que 365 dias foram 365 horas, mas o que vi, li, soube este ano foi infinitamente maior que a multiplicação dos dois números. E me pergunto aquilo que, automaticamente, muita gente se pergunta no dia 31/12 de cada ano: o que aprendi? Ou será necessário pedir, "para aí, volta um pouco mais, não peguei aquilo que passou correndo" - a Vida.

Nenhum comentário: