segunda-feira, 13 de junho de 2011

ORAL B

Jamais acreditei em príncipe encantado. E nada, até hoje, me provou que ele existe e isso não me deixa triste. Não sou uma princesa, minha voz não é meiga e não sei bordar; o que diacho faria com um príncipe ao meu lado? Também é verdade que em minha vida já apareceram alguns seres mágicos: de magia boa e de magia má. Teve gente que conseguiu transformar coisas lindas em um monte de farofa da praia do Porto da Barra, bem ali naquele lugar que parece um inferno e que um monte de homem melado de suor e barrigudo se junta para fazer churrasco de gato, ouvir arrocha, pagode e mexer com as mulheres que passam [vocês já entenderam a nojeira, mesmo sem precisar vir à Salvador]. E teve gente que foi a mão segura em momentos obscuros, foi o sorriso amigo em tempos de silêncio e vento frio.

Mesmo assim, príncipes encantados são seres especialíssimos e não podem dar sopa por aí. Eles moram no País Perfeição, no qual eu não passo nem do aeroporto se tentar entrar. Então não quero e não posso ir num lugar em que teria que endurecer a cara num sorriso pricesesco chato e venenoso. Gosto de gargalhar como uma borralheira, sambar com as criadas, comer como as camponesas e viver como aquela que não foi forjada para um princípe montado num cavalo branco alto e cheio de frescuras. Para falar bem a verdade, o máximo que já cheguei a ter de um príncipe foi quando apareceu só o cavalo. Vi o bicho sozinho pastando e pensei: "o principe tá vindo a pé, por isso o cavalo chegou antes", mas só ficou no cavalo mesmo, viu? Desisti de comprar os contos de fadas para os quais eu não fui feita, deixei o cavalo pastando com as potrancas e parti pra viver com gente. 

Baiana, cabelo crespo, unhas roídas e espinhas [tardo]adolescentes não são para príncipes, são para homens de verdade. Sim, os homens que não são dos contos, nem das fadas, são aqueles que gargalham com a borralheira e sambam um samba torto e comem como camponeses e fazem mulheres normais felizes. Eles as fazem felizes porque são como elas, mas também as deixam livres para não virarem a boneca se não quiserem. Quando elas acordam, eles dizem: "bom dia, minha linda" e elas sorriem com bafinho de tigre. Cinderela é que acorda com hálito de Oral B e as mulheres que não são de cera acordam com cabelo assanhado [no meu caso, Fiona, a esposa de Shrek].

Eu descobri que não precisava esperar por nenhum modelo - então Cauã, sem chances, meu rapaz! E nem precisei fazer promessa pra Santo Antonio, se querem saber. Prometi a mim mesma que não me faria jamais de princesa para atrair um príncipe inexistente e correr o risco de ficar sozinha por dentro e por fora. Hoje estou em paz e esse é o conto da que vos fala: sem cavalos, príncipe, princesa ou fadas. E pra não dizer que não há mágica, há sim: amor de vida real.

P.s.: eu escovo os dentes.

4 comentários:

Guilherme Dourado disse...

Que adianta se fingir de princesa? Só vai atrair um príncipe tb fingido. O reinado não duraria um pacote de sal, rs.

Marigil Vieira disse...

Gostei!

Mariana disse...

"há sim: amor de vida real", cheio de mágica! :)

"principe encantado por vc"? huuum... abalou!!!

Nana disse...

adoro essa expressão "um pacote de sal", guilherme.