quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

DANDO BANDEIRA.

É que de vez em quando é mesmo preciso dar bandeira. Dar na telha e mostrar o que se é, dar a entender ou dar no pé, mas mostrar aquela vontade sua.
É bom, menina! Dê com o olhar a bandeira que quiser, seja o que quiser ser, mas saiba que bandeiras há que nada negam de você. Se verá tremulando, tremendo em algumas delas. Se você se importar, então não saia de casa! É inevitável dar bandeiras de si mesma de quando em vez. Pintar-se, enquadrar-se, arredondar-se e gritar um lema Positivista no meio da própria vida, para depois [ou sempre] guardar em seu imo a sensação de que nas suas entranhas sua riqueza é bem maior, seus rios são mais caudalosos, seu céu troveja mais intensamente e aquilo que aparece é tão somente uma bandeira...
É porque é assim: bandeira é uma pontinha do lençol sob o qual você se esconde nua. Bandeira é aquele rabinho de olho flagrado devargazinho sendo desmanchado. Bandeira é aquele altear da voz falando uma coisa e dizendo outra. Bandeira é aquela saia que você veste quando está triste para disfarçar que sua beleza é quase dor. Bandeira é a voz meiga que você finge quando o dengo é o único remédio que passa sua mentirosa dor de cabeça. Bandeira é pedir que sopre o machucado, “mas onde?”, “aqui ó”, bem no pescoço. Bandeira é so uma desculpa, é só um retrado, é uma súplica, um contrato.
É sim. Você é a própria porta-bandeira. Carrega pesadas lantejoulas, roda saias em toneladas, ainda samba sorrindo e caminha aqueles quilômetros da Sapucaí diária. Toda festa tem, porém, seu fim; uma hora você cansa e tudo o que você pedirá, no pingar das últimas horas do dia, é que alguém te traduza em silêncio, decore a letra e melodia do seu hino, marche na direção do seu berço esplêndido [no qual ele deitará eternamente], descanse em teu seio, diga que não há bosques com mais vida que o teu, faça o teu céu risonho e límpido e mesmo que ele tenha tido amores entre outras mil que seja tu a pátria amada.
E que essa tal sagrada bandeira seja esse contínuo dar a entender, afinal de contas toda pátria tem fronteiras!

4 comentários:

Cláudia Isabele disse...

Esplêdido...!
Tô aprendendo a dar bandeira!

[O parágrafo final é, simplesmente, delicioso!]

:D

Marigil Vieira disse...

Adorei... suaescrita me encanta cada dia mais!!! Parabéns!

flores ao caminhar... disse...

muito bom... mesmo mesmo

Louise Chérie disse...

Dando bandeira flor!