De pé a escultura precisou do barro duro e a água mole para se firmar.
O pó de argila que agora é lama se deixa moldar para nascer a forma.
A mulher que triste chora, deixa sua lágrima misturar com o pó da face maquiada.
Precisou não ser mais amada, para descobrir a forma que nasce da dor.
Duas listras na face multicolor.
O chão seco, com a garganta aberta e rachada, grita rouco para o céu – chora!
Os castelos de areia pedem ao mar – vai embora!
Dureza e moleza não dizem nada sem que estejam no lugar.
{Dedicado ao professor Roberto}
4 comentários:
O duro e o maleável convivem no pão.
De água e de fina farinha se molda.
Do calor do forno, no tempo exato, tira sua crocância e sua maciez.
Esquecido num canto, sem matar a fome de ninguém, é duro e se esboroa.
Não é mais pão.
É caminho esfarelado no morro de argila e de vida seca.
Bj.
Roberto.
Adorei o texto. Ele também me inspirou.
Mais bj.
Areia nos olhos...
É sensação contínua de choro e fingir, que chora.
Maquilagem borrada, a marca de uma lágrima literalmente não nos deixando fingir.
Chora!
Chora, que de sorrir, chora. Gargalha da vida e vai embora, melhor ser assim que amargar de dor.
Sorri, que de chorar, sorri. Lacrimeja a vida e fica aqui, melhor ser assim que fugir do amor!
{Sâmia}
História Alegre I
Escrever uma história bonita e alegre quando o coração quer parar?
Se a beleza está comprometida com a tristeza e o coração deseja a inação, a história sai alegre a pulso?
Quem sabe se dissermos:
― Não pare não. Fique alegre coração.
Repetir a frase mágica pode fazer alegre o coração triste. E a história pode ser de doces...
Eu ganhei ontem duas trufas que comi hoje. Ganhá-las foi mais alegre que comê-las, porque a generosidade é mais alegre que a fartura.
Os homens poderiam ser mais generosos. A tristeza seria menor.
O mundo é sempre diferente do que se quer. O amor não acontece todo dia. A amizade não acontece todo dia. O querer não se satisfaz todo dia. E a vida fica triste como uma lágrima.
Uma história alegre não se conta quando a lágrima rola do desencontro.
Se ao menos o telefone tocasse e uma voz falasse nele: “eu te amo”.
Se alguém desse uma bala, uma trufa, um pedaço de melancia, um pouco de mingau de aveia.
O telefone está mudo. E as mãos não se estendem para dar, estão vazias. E o encontro não acontece.
Hoje, não posso dar a ninguém uma história alegre.
Mas posso dar o cristal de uma lágrima. E palavras. Lágrima, pérola no ar que a luz ilumina. Cristal rolando na face bela: choperolaprismar.
O choro é um prisma luminoso e o coração não tem mais medo de tristar.
Ele trista e choperolaprisma alegre, formando novas palavras que re-significam a vida, o amor, a dor, a tristeza e a morte.
Não contei nada alegre, nem estendi as mãos cheias de trufas. Talvez tenha feito alegria com palavras.
Chore... Ria... Triste... Choperolaprisme...
Bj.
Roberto.
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