Esse não é um texto para todo
mundo. Não vai falar com qualquer um, tampouco com os melhores, pois não tenho a
menor intenção de classificação de quem o lê, de quem o lerá ou vai enjoar no
meio dele e clicar no próximo link, assistir outra coisa, mudar de canal. Será
um texto de mim, de coisas de mim, das que estão entranhadas em tudo que
respiro e nem eu sabia que ainda havia.
Eu sou romântica. Diz o horóscopo
que tenho a mistura insana de ter signo de Peixes e ascendente em Áries; o que
faz de mim o início e o fim do zodíaco e isso não quer dizer nada para alguma
parte das pessoas que aguentarão ler meu texto, mas me define bem para quem me
conhece. Sou uma mulher chorosa e impetuosa, romântica e tempestiva. Água e
fogo.
Passei grande parte de minha vida
suspirando ao invés de respirando. Um passo, um suspiro. Eu sentia tudo a minha
volta, amava todos os bichinhos e uma vez tive uma longa crise de choro porque
meu pai atropelou um cachorro que atravessou a estrada numa noite destas
qualquer. Do ponto em que o cachorro morreu até eu chegar em casa, deitar no
travesseiro e dormir, lembro-me que chorei até perder a memória e quando
lembrava do cachorrinho rodando no asfalto, eu chorava. Lembro que na escola eu
tomava as dores de meus colegas, me metia onde não era chamada e achei que
quando crescesse seria advogada – não, pior, serei assistente social. Todos
mundo sabia que eu era a manteiga. Nossa! Acabei de me recordar de outra crise
de choro que tive na escola quando minha professora de português queridíssima
anunciou que no ano seguinte não ensinaria mais a nossa turma. Coloquei as mãos
no rosto na hora e chorei, sem nem ter tempo de sair correndo da sala. Meus
olhos sempre foram diarreias de lágrimas.
Eu amava Fábio Jr. [Aqui eu tenho
CER-TE-ZA que muita gente fechou o texto!]. E minha mãe me contou da minha
reação quando ela e painho me deram um LP deste cantor: desmaiei. Eu era uma
criança totalmente breguinha! E sou uma adulta semi-brega e só não sou mais
porque as pessoas de minha convivência me enchem de críticas a todo instante.
Entretanto, a verdade é que eu sou romântica incurável, com todos os clichês e
repetições que esta frase merece.
Morreram na mesma semana Wando e
Whitney Houston e meu coração chorou um pouquinho. Se fosse antes, eu teria
chorado como quando o cachorrinho foi atropelado, pois meu coração nada
experimentado chorava indiscriminadamente por animais e cantores
românticos-bregas. Depois de algumas decepções, foi o meu Áries que tomou as
rédeas de certas atitudes minhas e, desde então, até em homem eu já bati!
[Aqui, algumas pessoas vão dizer: barraqueira – com razão, foi um barraco, mas
eu não estou nem aí e até hoje rio disso]. Não choro mais como antes, mas não
me curei do romantismo raspador de tacho, pisador de jacas, afogador de mágoas.
Sinto que há certa cronicidade nessa forma de sentir e se emocionar. Eu tento,
minha gente, mas quando vejo já estou sentindo aquele arrepio de revés subindo
pela coluna afora, passando pelo cangote e desembocando nos olhos. O cérebro
nem se dá conta desse movimento.
Eu choro muito em casamento e no
último que fui, uma das convidadas comentou depois com a noiva, que tinha uma
moça de verde passando mal num dos bancos da frente [quem era?]. Eu chorei até
desrespeitar a maquiagem – limpei os olhos com as costas da mão. Assim que eu
soube desse comentário, chorei de rir. E também não mentirei que os símbolos
dos laços formados entre os que se amam traduzem esta minha artéria femoral
romântica. Qualquer escárnio a respeito disso me faz chorar quietinha, porque
hoje em dia é brega sonhar com estas coisas, né? Imagine se importar!
Agora há pouco eu achei de ouvir
a música tema do filme “O guarda-costas”. Sim, aquela música desgraçada que diz
no meio “nós dois sabemos que eu não sou o que você precisa, e eu vou sempre
amar você”. Chorei, mas descobri num insight, que o romance é alguma coisa de
super fantasioso, super ideal, super demais e está aí um pedacinho do
quebra-cabeça que explica porque diacho eu chorava tanto com coisas românticas:
elas não são concretizadas em todos os detalhes na vida real. Não vai haver
sempre um homem que tome a zorra de uma bala por sua causa, minha amiga. Mesmo
assim, parte de mim jamais se apartará do fato de há alguém assim no mundo,
deve haver, tem que haver! Eu me atiraria, gente. E ainda ia ouvir tocando ao
fundo “você é luz, é raio, estrela e luar, manhã de sol, meu iá-iá, meu iô-iô +
I will always love you”.
3 comentários:
Siso,
Adorei seu texto..rs
Você é luz, é raio e..... SAUDADE WANDO
Beijo!
Mais uma que leu o texto todo. rsrsrs
E esse diacho de tradução me fez lembrar quem eu já havia esquecido... esquece!
Gostei do texto, um abraço!
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