domingo, 26 de fevereiro de 2012

QUILÔMETRO OU METRO


De pé no portão o que espera lá fora é liberdade. Num convite supremo, ela grita feito louca através dos cadeados, mas eu surda ou cautelosa me escondo atrás das grades. Importa a convicção de que não quero ir, importa dizer mil vezes que o teto me aquece, que a comida é boa e estou bem nessa velocidade - dona liberdade.

"Será?", ela se agita, passando a caneca de alumínio faminta nas barras verticais. Não sei, mas o tremor de minha viva alma não cessa de pensar nas cores de tantos carnavais. Um grito rouco procura lamber meus ouvidos dizendo que há corrida de cavalos lá fora, mas lembro que elas duram segundos - e sossego.

Maldita! Afasta-me de tudo. Contigo desespero e fujo, não acato grades nem malhas de ferro; não sinto sede, fome ou durmo, suor frio ao meio-dia, calor no inverno. Entorpeço frente ao teus brados e me vejo perdida em noites sem rumo, acorrentada na vontade dos teus passos, que me levam sempre no fundo do querer eterno sem matar a sede, sem ceder do cio, na embriaguez do medo de perdê-la por completo, sem nunca ter a provado toda. Depois me deixa no vazio deserto de mim mesma, mostrando o lugar onde poderei encontrá-la, face a face, mas seus olhos me envergonham, pois no fundo a minha alma não está liberta - povoada de Atacama.

Não faz sentido ser sua; me deixa sozinha e ao seu lado sou suja da tinta abjeta dos seus lábios, que falam macio aos meus sentidos e forjam as mentiras dos seus brados, jurando que preciso estar nua para ser completa. Não quero! Afasta de mim suas mentiras imundas, nunca me deu o que pedi na medida, nunca quis trocar, ó liberdade, seus quilômetros vazios por meu Cobertor de um metro.

Um comentário:

Eliana Mara Chiossi disse...

Querida companheira de palavras, preciso ficar mais por perto.
Boa surpresa te encontrar escritora.
Beijocas