segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

NO DIA EM QUE A PM PAROU.


Salvador vive momentos de ápice, ondas de violência, tensão e medo. Creditamos todas estas sensações à greve da PM. Pois bem, depois que alguns homens, policiais militares, entraram em greve, há um pânico louco por essa cidade e só se vê tiros para todos os lados. Perdoem-me o trocadilho em momento inoportuno, tal qual as reportagens dos telejornais da Globo, que nadam em trocadilhos infames como “os caixões estão pela hora da morte”. Mas é fato que tiros estão sendo dados a esmo e muitas mortes já foram estatística e emocionalmente computadas; assim como também é fato que estamos lançando artilharia pesada sobre todo mundo, na busca de um culpado viável que amalgame todas as justificativas para esta guerra estar acontecendo. Políticos e policiais sendo colocados como alvos de nosso descontentamento.
E nós, com nossa ação política coalhada, somos responsáveis por que? A gente ama a sensação de segurança de nossos bairros chiques, mas esquecemos que na periferia essa guerra é sempre. A gente odeia greve de PM, mas esquece que estes trabalhadores se matam e matam todos os dias, recebendo um salário filho da p... pra enfrentar bandido com armamento muito mais pesado e sofisticado que o deles. E nessa hora, acreditamos, meus amigos, como crianças que inventam soluções mirabolantes para problemas graves, que somos peritos em segurança pública e entendemos de política como ninguém. Isso porque gritamos aos quatro ventos que esse ou aquele governo é culpado, corrupto e sei lá mais o que.
Ou é inocência ou é um paliativo para a mente culpada, mas xingar político por facebook nunca foi e nunca será comoção política! Que tal fechar sua Veja e sair nas ruas se juntando com outros trabalhadores em busca de salários mais dignos e condições dignas de trabalho? Que tal parar de xingar Dilma e se envolver com política a tal ponto que passe a entender que governo é uma das engrenagens desse todo e que você, meu amigo, não deixa de fazer parte desta sociedade só porque não votou em determinado governo. Esse pensamento tacanho é de um fundo egoísta e desarticulado de tal maneira que eu te convido neste instante a ser mais um responsável pela greve da polícia! Sim. Você está sendo governado não porque não escolheu esse ou aquele presidente, mas porque se negou a escolher fazer algo todas as vezes em que foi convidado a fazê-lo.
Por todas as vezes que você embarcou nas historinhas de direita e acreditou que movimentos sociais são para vagabundos que não gostam de trabalhar, você contribuiu para a greve da polícia. Todas as vezes que você pensou que a meritocracia era a melhor maneira de organizar a distribuição da riqueza de nossa sociedade, você contribuiu para a greve da polícia. Todas as vezes que você acreditou na democracia racial, você contribuiu para a greve da polícia. Porque todas as vezes que não conseguimos olhar para os lados e nos enxergar como iguais, contribuímos para que o parafuso, cansado de ser parafuso, queira um dia ser melhor. Sabe o que a polícia é chamada a fazer, meu amigo? Ela é chamada todos os dias para conter os excluídos do nosso sistema de livre concorrência, onde o mais apto pisa e explora o menos apto. Ela é chamada para matar os que tem como impedimento de subida uma pedra histórica amarrada aos calcanhares. Ela é chamada para manter a ordem. E quantas vezes você não disse essa frase? É ou não é? Manter a ordem. Mas vejam bem... esses policiais, que são trabalhadores, estão cansados. Para que eles continuem servindo à sociedade da maneira correta, mantendo tudo no lugar, é preciso que olhemos para eles como trabalhadores dignos que são.
Porque são eles, meu amigo, que agem na falta da política que nós todos não ajudamos a mudar. E somos convidados a fazê-lo antes do movimento urnístico. Somos conclamados pelo movimento do “Desocupa”, pelo movimento estudantil, pelo movimento dos Sem-Terra, Teto, Porra Nenhuma; movimentos estes que criminalizamos como estamos fazendo com estes policiais. Movimento de trabalhadores!
Constitucionalmente eles estão em motim. Constitucionalmente nós todos somos iguais, também. Então, vamos parar de hipocrisia, que esta veste rota não cobre mais nossas justificativas para continuar apontando o dedo, a arma, a culpa para D, E ou F [que são as classes que mais sofrem] e nos isentando da responsabilidade da participação social.
Respeite o trabalhador e se enxergue – se enxergue como tal. E só vou deixar mais um pensamento entre tantos outros não devidamente explicados em meu texto provocativo: se a categoria da polícia militar parou e causou isso, imaginem se os demais trabalhadores parassem...? E parafraseando o meu conterrâneo, Raul Seixas, eu digo: “essa noite eu tive um sonho de sonhador maluco que sou, eu sonhei com o dia em que a Terra parou”.

6 comentários:

Josival Júnior disse...

Genial.

Mariana Araújo disse...

Muito bom o texto Sâmia! A greve dos PM aqui em Salvador está demais. Eles merecerem receber os seus benefícios, mas está colocando a vida de muitas pessoas em risco =/

http://belezapuraonline.blogspot.com/

Anônimo disse...

Muito bom.
Político no sentido verdadeiro da palavra, e mais do que isso, humano, demasiado humano.

Preta Guerra disse...

Não soube o que pensar além de: Ela é mesmo muito inteligente!
Não que eu tivesse dúvidas, mas isso foi, genial!

José Luiz Pucci disse...

Ótimo, minha amiga-irmã, assino embaixo. Abraços...

Paty Michele disse...

Excelente reflexão.
Cada um no seu mundinho só pensando naquilo que perdeu. Precisamos chegar a situações limite como essas para percebermos o quanto necessitamos da polícia, pois ninguém "gosta" de polícia.

abçs