segunda-feira, 24 de outubro de 2011

PIADA SEM GRAÇA

Levei certo tempo para escrever a respeito desse assunto, não sei exatamente porque. Incomodou-me de imediato ler a frase do “humorista” Rafinha Bastos sobre Wanessa – a “cantora” [o que essas pessoas nos obrigam a colocar entre aspas, né?]. Incômodo como mulher, que ao ler o verbo “comer” associado a outra de maneira metafórica e violenta, sente nojo, ojeriza; ver o mesmo verbo associado a uma criança ainda no ventre da mãe, me parece ser algo que beira o sadismo, sadismo esse que é uma constante em determinadas piadas que estão na moda.

Desde muito tempo tenho uma crença: brincadeira é algo que as pessoas fazem entre si e se divertem, quando alguma delas vira o brinquedo, já não é mais brincadeira – pelo menos uma que se possa classificar de bom gosto. E é por esse motivo que acredito ter traços de sadismo toda brincadeira feita com alguém e esse alguém, ao invés de rir, chora ou ainda vê a própria imagem associada a algo constrangedor. Qualquer coisa que digamos a um semelhante que o diminua, ofenda ou constranja, pode ser chamado de um nome outro, menos brincadeira.

Algumas pessoas acreditam que o humor é um terreno neutro e amplamente livre, de maneira tal, que ele não deva sofrer censuras. Lembro-me de minha infância, quando a gente fazia "brincadeiras" entre si, quando estávamos entre nossos pares se divertindo e tal, mas quando alguém xingava a mãe... a coisa ficava feia. Se até criança sabe que existem certos limites não ultrapassáveis, se elas tem noção de algumas leis tácitas, por que determinados adultos perdem essa noção básica e acham que podem contar qualquer piada com a família alheia só porque sustentam o título de humorista? Para quem defende o “humorista” supracitado, eu pergunto: e se fosse sua mãe? E se fosse sua esposa?

Ainda me deixou perplexa, o argumento daqueles que fazem parte do levante prol-Rafinha; alguns tem a “leiguice” de contra-argumentar: “que país é esse onde os humoristas são levados a sério e os políticos são levados na brincadeira?”. A primeira coisa que me veio à mente quando li isso foi: “tão vendendo kit imbecilidade no Bompreço, é? E deve estar na promoção, porque uma galera comprou!”. O que é que tem a ver o “forebes” com as calças? Mas logo em seguida, apareceu-me no facebook uma resposta à altura: “não é porque existem políticos corruptos que você tem o direito de ser um idiota”. Isso, argumento correto. Não é porque existe gente que rouba muito, que deixar de devolver troco a mais passa a ser “brincadeirinha”. Além disso, a comparação é moralmente absurda, uma vez que a causalidade de ambos os fatos [corrupção de político e piada de péssimo gosto] moram em pontos distintos – muito embora reprocháveis. E se ambos são censuráveis não há nada em nenhum dos dois que os anule mutuamente. O que está errado, está errado e a amplitude da corrupção política [o que nos envolve] deve ser tão combatida quanto a amplitude de ofensas veladas.

Aristóteles, [sim, eu o citarei também] nos diz: "A comédia, como dissemos, é imitação de pessoas inferiores; não porém, com relação a todo vício, mas sim por ser cômico uma espécie do feio. A comicidade, com efeito, é um defeito e uma feiúra sem dor nem destruição; um exemplo óbvio é a máscara cômica, feia e contorcida, mas sem expressão de dor.". E eu me pergunto: qual o limite entre o cômico e o sádico? Espero que os humoristas de plantão já saibam a resposta.

6 comentários:

Jeferson Cardoso disse...

Olá, Sâmia! O “humorista” Rafinha praticou o que chamo de ‘piada de péssimo gosto’. Você tem toda razão quando diz que a brincadeira precisa ser divertida para todos e ninguém merece ser feito de brinquedo. Creio que a televisão vem produzindo as piores coisas de todos os tempos, e a famigerada luta pela audiência nivela tudo por baixo. Parabéns por sua maneira sutil e concisa de abordar assunto tão desagradável.

“Que a escrita me sirva como arma contra o silêncio em vida, pois terei a morte inteira para silenciar um dia” (@JefhcardosoReal no twitter)

Convido para leia e comente “A PEQUENA LOJA” em meu blog http://jefhcardoso.blogspot.com e, caso goste, conto com a sua divulgação para ao menos mais um amigo; obrigado!

Josival Júnior disse...

Perfeito, totalmente de acordo.

Guilherme Dourado disse...

Irretocável! Compartilhando...

Sebastian disse...

Concordo. Piada de mau gosto. Porém, nãos e pode confundir falta de educação e grosseria no humor com ilicitude. Foi um comentário absolutamente infeliz, mas não considero ilegal ou criminoso. Há uma diferença entre moral e direito

Sâmia disse...

Obrigada Jeferson pelo comentário. Estive em seu blog e gostei muito. Agradeço a visita de coração e recomendo seguir meu blog também. ;)

Juuuuuuuu, valeu pela presença. Estava com saudades!!!

Gui, meu irmão, ouvir estas frases de você são como receber um selo do Inmetro! Obrigada pela presença de sempre!

Sebastian, tanto a moral quanto o direito evoluem. Há parâmetros para tudo, de fato. Não coloquei no âmbito da ilegalidade - tomando como base o nosso código civil, penal ou no que couber -, mas no âmbito do inconveniente. Entretanto, continuando a considerar a evolução de nossas leis, acredito que ele deva ser punido. O que fez publicamente necessitava de uma retratação pública e ele nem se dignou a isso. Enfim... que seja barrada a onda de "mau-humor".

Abraços fraternos,

Sâmia.

Sâmia disse...

ERRATA:"Gui,... É COMO RECEBER...".

Foi péssimo! rsrsrsr