terça-feira, 14 de setembro de 2010

SUSPIRAÇÃO.

Há suspiros inconfessáveis. São ventos que levam segredos e desafogam o coração. Há suspiros inaudíveis. São partes de melodias que só tocam a alma de quem sabe. Há suspiros que doem. São pedras que ferem a lembrança de quem ama. Escorregam por lágrimas caladas, entregam o pecador, aquele que sofre de amor, que pena na espera que alimenta a ansiedade. Suspiros sem doce algum.
Uma gota de lembrança suspensa no ar, mandando embora o sossego, deixando vacância no olhar que busca um emprego nalgum lugar - onde está coração? Sei não. Profunda inspiração, três vezes e rápida: lá se vai meu juízo. Expiração certeira: galopa de volta a realidade.
A alma que feita por Deus num momento como o meu, não é de outra coisa senão de suspiros. Sopros são para corações tranqüilos, sem o menor ímpeto. Minha alma foi suspirada e hoje me encontro aqui, viva de interrogações, morta de saudade. Suspiros vêm de almas que são bóias furadas, que deixam escapar o vento da dúvida, que flutuam no oceano do desânimo e do medo. Perdem de si um pouco mais com o vento, mas nada de gastar os tormentos que tentam sair por um fino buraco; é proporcional inversão: quanto mais se suspira, mais se está cheio do que se pôs pra fora.
Vai medo, vai embora! Desgruda de meu pensamento, vai junto com este sopro e leva uma carta pro mundo - este vento de 5 segundos é um vendaval de desejo. Não o quero assim. Prefiro abrir espaço para as brisas em que se transformam os suspiros que de mim fogem quando penso no dono dos meus ais; embalar as velas dos sonhos que partem do cais de saudade a não mais ter este desassossego ébrio. 
Suspiro é o ar que se move em direção marcada e busca com seus braços voláteis apagar o fogo da alma inteira - mas é vão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sâmia,

Ontem li com os alunos um texto dramático sobre três irmãs que vivem numa cidade do sertão. O cantador, um personagem-narrador, em determinado momento, define os tipos de amor:

“se eu não tiver você o tempo passa”

“se eu não tiver você eu até prefiro”

“se eu não tiver você eu morro”.

O último era o "pior, o maldito, o amor inventado por Deus ouvindo opinião do demônio".

O título da peça: "Cordel do amor sem fim". Esse cordel você escreveu no texto anterior, lindo, "por você", que aproveito para mencionar agora. Em "suspiração" você retomou o tema e escreveu o "cordel do suspiro sem fim".

Seus suspiros e amor são aqueles do tipo "se eu não tiver você, eu morro" ou "se eu não tiver você, eu continuo amando e suspirando".

A intensidade do sopro, do amor, da vida em você encanta. É divina, com prováveis cochichos do diabo.

Beijos.

Roberto.

P.S. Depois mando o texto da peça para você. Acho que vai gostar.

P.S.1. Estou te devendo o cinema. Talvez pague a dívida com teatro.