quarta-feira, 9 de junho de 2010

O QUE FAÇO COM VOCÊ?

Brincando de saudades e inventando um querer bem que não tem, não dá para ligar de noite e te chamar de meu bem. Nem posso encaixar pronomes possessivos ao falar de ti no meio de minha fala. Eu sei que você existe, mas e daí? Nada mudou. Não há brilho a mais na manhã, horas a menos na noite, não rolo na cama, não suspiro quando viajo, nem minha voz embarga de emoção. Não mudo o caminho para te ver, não bate vontade de gastar créditos do celular; ganhei uma coisa e não te conto, para que você quer mesmo saber? Nem vai torcer. Então, o que faço com você?

Você está doente? Melhoras! Não faço chazinho, carinho, denguinho e outros inhos que a doença traz. Vai se mudar de cidade? Escolhe um bairro onde tudo é perto. Não faço cena, não me jogo no chão, nem dói o coração porque não vou te ver. Então, o que faço com você?

Não é que eu te quero mal, não é que eu não te queira, não é isso! É que você existe, eu sei, mas não soma nem subtrai, não multiplica nem divide, como vou contabilizar você em minha vida se a gente faz de conta que conta um com o outro? Você me liga ou eu te procuro e a gente se encontra no escuro, na esquina, nas quebradas e nada do que dizemos se põe num grande vão onde se deposita o futuro – é só ali, de passagem, sorrateiros, bifurcados, historinha que ninguém crê. Então, o que faço com você?

Bote fé, aliás, não bote não porque posso mudar de opinião e você esperar sem necessidade. De mim nada espere além do bem que faço a todos sem especialidade. Seu aniversário é uma data e não um acontecimento, mas deixa comigo que listarei este evento no Orkut e se der eu apareço. Jamais dividiremos uma pizza, nem lençóis, nem uma janela, nem um par de ingressos, nem a alegria de nenhum dos dois: o meu é meu, o seu é seu e o nós não conjuga o verbo ser. Se isso tudo é verdade, se não há dor, não tem saudade, me diga - por caridade - o que eu faço com você?


{Ficção}

6 comentários:

Marcelo disse...

Me guarda no coração e lembre de muita coisa que já te disse antes...

rsrsrsrs

Ô pretensão minha! rsrsrsrs

Marcelo disse...

Pensei noutra coisa aqui: "Me cozinha em banho maria".

hehehehehehehehehe

Tô palhaço hoje, né?

Beijo!

Anônimo disse...

quando descobrir a resposta me avisa, por que também tô sem saber 'o que fazer com você' ou melhor com ele/eles...rsrsrs. Adorei o texto, mujer!! COMO SEMPRE xD Ass: mulher canalha

Sâmia Siso disse...

Ter ou não ter namorado, eis a questão
Artur da Távola

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remunerada de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil. Mas namorado, mesmo, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega do lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado é quem não tem amor, é quem não sabe o gosto de namorar. Há quem não sabe o gosto de namorar... Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa, é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar. Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora em que passa o filme, de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai pelos parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da metro. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem gosta sem curtir, quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.

Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.

Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida, para de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA

Sâmia Siso disse...

Este texto de cima bem que poderia ter sido meu! Por que não cheguei antes? Droga!

Cláudia Isabele disse...

Mami!
Lindo, lindo, lindo!
Todos meus honoráveis e belos superlativos para louvar-te. Em verdade vos digo: Com tanta poesia em prosa, nesse anonimato injusto, o que faço contigo?


rsrsrsrs...