sexta-feira, 7 de maio de 2010

INEVITÁVEL ENCONTRO.

Com mais calma ela resolveu pensar de maneira diferente. Não era a primeira vez que se olhava no espelho e enxergava aquele sorriso amarelo - alguma coisa não ia mesmo bem. Tinha mudado o tom da voz, o jeito de falar, sorria todos os dias [antes não era assim], mas tinha uma pedra no sapato.

Não demorou muito e tudo passou a parecer estranho; a pedra aumentou em quilômetros e tudo rachou. Até o espelho. Sobretudo ele. Suspirou e contou a verdade para si mesma, "a quem queria enganar?". Certamente não era a mais ninguém e somente a si. Então, limpou as lágrimas e confessou estar com medo. Ela tinha medo de ficar só. Mas já estava sozinha há muito tempo e não tinha percebido.

Sua solidão era por estar desde há algum tempo fazendo coisas que nem todos faziam. Isso sim a deixava sozinha, embora ela gostasse, embora fosse o certo. Quando tinha descido as escadas do porão, sabia que não permaneceria ali por tanto tempo - queria só olhar. Resgatou algumas coisas, chamou pessoas e não sabe se todas vieram, mas ela resolveu que era hora de pisar nas escadas novamente [subir].

Foi preciso bem mais que um espelho para que desse vontade de estar sozinha novamente. Foi preciso ser reconduzida por mãos doces, por conselhos finos, pelo gosto amargo da estranheza. Ela bem sabe que iria ficar outra vez bem sozinha, mas estaria calma, afinal não é ruim encontrar-se consigo mesma, não é? Um pouco - ela dizia - mas chega um tempo em que se acostuma com certos fatos, se sou estranha, então, que eu cumpra este papel.

Felicidade mais torta! Nunca vi alguém fugir das festas e fogos, das músicas e danças e se refugiar nos braços da masmorra moral. Paradoxalmente, estava liberta. Estava só, já disse, mas de mãos dadas consigo mesma novamente.

3 comentários:

Marcelo disse...

É uma pena que ela pense assim...

Tenho certeza que se ela tirasse o véu que lhe tampa os olhos veria o campo colorido que a vida lhe proporciona. Mas veria algo muito mais importante: Ela nunca esteve sozinha, só deixou de dar ouvidos a velhas impressões.

O tempo escuro acabou. O sol nasceu e brilha em grande intensidade.

Fala pra ela olhar pra cima e ver o céu limpo e claro...

Soluções sempre existiram, mas irão requerer esforços (pequenos) para mudar o mais difícil: O íntimo!

No fim, tudo dá certo. Se não deu certo ainda é porque não chegou no fim!

Beijo.


PS: Sei viajar também! rsrs

Sâmia Siso disse...

Não posso responder pelos outros, mas essa pessoa está justamente subindo as escadas para a claridade. Sua solidão deve ser porque no meio de errados, ela faça a coisa certa [embora não sempre].

Ela deve crer no mesmo que você.

Beijos!!!

Anônimo disse...

É muito bom te ler, porque sempre há pérolas incrustadas em conchas:

"Foi preciso ser reconduzida por mãos doces, por conselhos finos, pelo gosto amargo da estranheza."

Doçura, fineza, delicadeza e a estranheza maravilhosa e amarga da pérola.

Bj

Roberto