segunda-feira, 7 de setembro de 2009

TODOS SOMOS MUITOS


A Bahia é um bom lugar? Não sei... eu não sei de toda a Bahia. Posso dizer que Salvador é um lugar que tem seus [grandes] encantos, mas não é o melhor lugar do mundo, pelo menos para quem não nasceu aqui, não se encantou por aqui e não escolheu morar aqui num determinado tempo da vida. Eu gosto de ser baiana, mas poderia gostar de ser mineira e amar ser cearense ou gaúcha. Tudo é questão de ponto de vista ou escolha da alma.

Se eu nascesse em Mato Grosso do Sul iria dizer que teria orgulho de ter nascido lá. Não é o lugar, não é a paisagem, a língua, a cultura que nos faz amar necessariamente estarmos ligados aos adjetivos pátrios aos quais estamos ligados. É a sensação de pertencimento. É a certeza de que somos algo e que este tal algo está em nós; é nosso. Isso basta para que eu ame ser baiana? Não é bem assim. Conheço uma menina, nascida e criada num interior perdido da Bahia e que ama São Paulo - inclusive tem todo o sotaque paulista e isso eu não sei como. O fato é que ela se sente de lá e não se sente de cá. Para ela a Bahia é uma merda e São Paulo é tudo de bom. Gosto não se discute.

Então... fiquei pensando que não há lógica em disputar qual é o melhor lugar, qual o sotaque mais bonito e [pior!] qual está certo; não há sentindo em querer provar que Bahia é melhor que Ceará e vice-versa. O melhor lugar é o lugar que eu escolhi com o coração, mesmo que não tendo outra opção, pois é isso muitas vezes que determina o meu gostar. Eu nasci aqui, andei por poucos lugares, não ganhei mundo, amealhei milhas, não fui em outras paragens por muito tempo, não me mantive tão distante de minha Bahia. Não tenho a menor condição de emitir juízo de valor sobre a terra alheia. Eu uso a preposição "de" antes de nomes próprios e não a contração do artigo definido com a preposição, formando, por exemplo, a palavra "da" colada com o nome Sâmia. "Eu peguei a caneta
da Sâmia", aos meus ouvidos soa como algo fora do comum, mas em outros estados não é bem assim. Isso é ruim, mas para mim que estou acostumada com outra maneira de escrever e falar. Ponto final na discussão. Não posso, a partir do que eu acho estranho, começar uma briga para o que é melhor ou não. Isso é base para muito preconceito e fundamentalismo.

E não é o que vemos contra os nordestinos? Em São Paulo qualquer coisa de errado que se faz não é uma "baianada"? E para não entrar nesse terreno obscuro e feio, prefiro nem comentar nada a respeito dos paulistas, pois gosto de muitos deles. Não é o fato deles serem paulistas ou baianos que me fez gostar de cada um. O fato é que em todo lugar sempre haverá coisas boas e ruins e que na hora de uma contenda só lembraremos das coisas boas de nossa própria terra para esfregar na cara do turista [sim, porque baiano é tão ruim que nossas praias andam cheias de paulistas].

Temos a
doce ilusão de que nossa opinião é a opinião do mundo e se não é, deveria ser. Somos egocêntricos e por isso também nos tornamos xenofóbicos. "É que Narciso acha feio o que não é espelho", quem falou isso foi um baiano sobre a cidade de São Paulo. E eu acredito seja isso uma ironia. E é uma pena que, de ironia em ironia, forjemos mais um terreno fértil para que nasça a semente do bairrismo, da segregação, da classificação linear de melhor e pior cultura e lugar para se viver.

O melhor lugar é o meu porque eu só sei ser eu. Daqui eu fito o mundo se não fecho os olhos para o outro. Mas se me cego de orgulho e preconceito fomentadores da segregação, acho o outro sempre muito feio, muito burro, muito atrasado. E o outro, o que achará de mim? Tapado.

Um comentário:

Marcelo disse...

Na próxima você vem morando em Rio Branco! Vai achar lá o melhor lugar do mundo e não vai querer sair.

E numa outra (quando evoluir de verdade) aí sim você vem pra Minas... Vai ter a honra de provar o melhor acarajé do mundo! rsrsrsrsrs.

Brincadeiras a parte, este é mais um texto que demonstra que a beleza (assim como o gosto) é de natureza particular e pertinente aos olhos de quem observa.

Eu, por exemplo, acho que o acarajé mineiro é muito melhor (o curioso é que muita gente de várias partes do Brasil e do mundo comungam com a mesma opinião, mas... deixa isto pra lá).


Beijinhos!