sábado, 15 de agosto de 2009

CULPA


Quantas vezes já ouvimos esta palavra? "A culpa é sua", "eu sou culpado", "quem é o culpado por tudo isso?". Desde quando a culpa nos acompanha? Ela é indispensável?

É estranho pensar no mundo sem a culpa, afinal de contas temos a mania de confundi-la com arrependimento e isso ela não é. Como não? Não é, simplesmente! O arrependimento é o reconhecimento de que a atitude que se cometeu foi errada; depois dele vem aquela tristeza por vários motivos - todos ligados à consciência de moralidade de cada um. Entristecemos, por exemplo, por termos atingido os outros, por termos nos atingido, por termos tomado a atitude que nos levou a um caminho indesejado, ou que fez alguém sofrer. Qual o próximo passo?

O próximo passo - nos diz a consciência culpista - é sofrer pela ação errada cometida, alimentar a tristeza, considerar-se indigno e, somando isso tudo, ser culpado, sentir-se culpado. Péééééé [sirene] passo em falso! Agir desta maneira automática é fruto de uma educação milenar e católica que nos impôs um modus operandi para fugir de um inferno eterno. O problema é que esta atitude plantou no fundo das consciências o inferno pessoal e ambulante. Criou consciências culpadas e "culpadeiras", porque não basta nos flagelar, em nossa sede moralista inflingimos ao outro a carga projetada de nosso medo atávico.

Um passo íntegro e justo, depois do arrependimento, é enxergar com compaixão a si mesmo como um ser imperfeito e que, por mais queira e tente ser perfeito nas ações e pensamentos, ainda trará por um certo tempo traços da própria imperfeição e ignorância. Ainda magoará e ferirá aos que ama - que dirá aos que não ama ainda! Consciente de que erramos, devemos nos RESPONSABILIZAR pela atitude que tomamos e ADMINISTRAR as consequências de nossos atos, mas sem esquecer que Justiça mesmo nós não podemos fazer. Nossa capacidade de julgamento é, por vezes, tão simplista e imediata que não chegamos a lançar o olhar para fora de nós mesmos e acabamos atribuindo um defeito que é muito nosso ao outro. E como eu creio em Deus e na sua Sublime Justiça, sei que Ele dará a mim de acordo com minhas obras [quem disse isso foi Jesus]. Como acredito em Sua Perfeição, sei também que Ele me dará a oportunidade de refazer um caminho, porque Ele quer a morte do erro e não do "errador" [Jesus disse isso também]. E sendo Ele todo Amor, deve amar de forma plena, aliás, Deus é Amor e assim sendo, não pode ser menor que eu, que sou sua criatura e consigo amar minha filha a tal ponto que tantas vezes forem necessárias eu a perdoarei. E se eu acreditasse num inferno, para lá iria só para não vê-la sofrer. E por falar outra vez em inferno, se ele existisse, para mim, seria a prova irrefutável da incapacidade do poder divino de estar em todos os lugares e ter todo o poder, pois parte de algum lugar teria um espaço de dores e penas eternas para filhos que Ele criou e que por ser Onisciente, saberia que aquele ser iria se desviar. A misericórdia divina tem que ser melhor em tudo que a minha. O perdão Dele tem que ser infinito e maior que o meu, a quem foi pedido perdoar não só 7 vezes, mas 70 vezes 7 vezes. Se devo fazer isso ao meu próximo, para mim devo aplicar a mesma medida, uma vez que também devo amar o próximo como a mim mesma [by Jesus]. Imaginem só a multiplicação de Deus!

Considerando que A Força Maior exista, Ela deve ser infinitamente maior em tudo que é bom e mais além [pois não sondamos os mistérios divinos]; o que não posso conceber é ver em Deus traços humanos. Ou seja, o que eu quero dizer com tudo isso? Que a culpa é criação nossa! Quero dizer que a culpa é uma tentativa absurda de fazer justiça consigo mesmo e para isso se auto-flagela desacreditando na Justiça Divina e em Sua misericórdia. É comum ouvir dos culpados que Deus não se importa com ele, que tudo está perdido e que nem orar ele deve mais, pois Deus não o ouvirá mais. Como se Deus fosse tão mesquinho e vingativo quanto nós costumamos ser! Como se Deus fosse um senhor ciumento e orgulhoso, cuja vontade não foi obedecida e Ele resolveu dar o troco. Não tem algo de errado nesta história contada há tanto tempo? Não está na hora de ter mais fé? [Onde a fé entra nesta história?] Fé é a crença firme em algo bom - pra resumir. O contrário se chama medo, que é a crença firme em algo ruim. Se nos falta fé, nos sobra o medo. E como Deus é infinitamente bondoso, não preciso temer mal algum. Não preciso temer sua Justiça. Bem aventurados os que sofrem e choram, porque estes serão consolados [Jesus]. E como o Amor cobre uma multidão de pecados e sendo Deus Amor, Ele dará a oportunidade de que refaçamos nosso caminho sem o peso da culpa, mas com a consciência da responsabilidade, pois a quem muito é dado, muito será cobrado.

Devemos encarar de frente a Vida, mesmo tendo errado. Errar é humano, não? E para isso não há quantidade. A dor, depois que insistimos muito em errar, nos convida a voltar para o "aprisco", para o caminho reto que conduz a salvação. Se nos prendemos numa atitude de culpa, a única alternativa que nos resta é sentar à beira da estrada e esperar nossa sorte; a culpa paralisa nossas potencialidades de movimentação, pois o culpado crê firmemente que para ele a solução é o famigerado inferno [que inferno!]; entretanto o ser responsável busca de alguma forma consertar o erro e não permite nem a si mesmo nem a outrem que lhe joguem pedras, afinal quem estiver isento de erros que atire a primeira delas.

Justiça não é vingança, culpa não é responsabilidade nem arrependimento; não somos perfeitos, mas perfectíveis, portanto passíveis de melhora sempre, Deus é fiel a si mesmo [Lei é lei] e não vai privilegiar um filho em detrimento de outro. Jesus disse que Ele é Pai, se somos iguais, somos irmãos. Se somos irmãos de um mesmo Pai é que temos todos os mesmos direitos e deveres. O filho pródigo que saiu pelo mundo a gastar todos os bens que possuía, quando resolveu voltar e refez todo seu caminho de tristeza até chegar ao seu lar, foi recebido de braços abertos e festejado. Com tantos exemplos de misericórdia e perdão não é auspicioso [rs] que continuemos fazendo da culpa a nossa melhor opção. Pensemos nisso e bola para frente que o gol também é estreito! [Eu tinha que fazer graça com a porta estreita] Vamos treinando!

2 comentários:

Marcelo disse...

Adorei o texto, querida!

É mais um tema que está na minha listinha... rsrs

Beijos.

Sócrates disse...

Ótimo ! Ótimo !
Esse perdão a si próprio é algo que precisamos aprender o mais rápido possível.