
Tenho medo do exagero. Olha que alguém como eu não deveria estar afirmando isso; sou o ser mais balançoso que conheço: gesticulo demais, rio com vontaaaaade, me sacudo quando estou nervosa... não deveria estar tramando contra o exagero, mas tramo. Sou contra o exagero utópico! É sobre utopias que quero falar. Não as utopias que podem parir verdades, realidades, concretudes. Eu tenho medo das utopias rasgadas, plantadas num infinito futuro, distantes de toda palma de mão, mais longe que o horizonte, inalcançável até pra um aceno. São estas que me fazem tremer, pois estas não constroem e destroem o que está posto. Para depois desvendar em seu seio uma grande letargia em trabalhar pela pequena mudança; estando as pequenas mais próximas e menos evidentes, nestas tropeçamos mais.
Utopia demais não enche barriga, não alimenta pobres carentes, não paga conta de luz, nem limpa um salão com cadeiras. Utopia ao extremo, levada a ferro e fogo, combate o que está em voga e não propõe nova receita de bolo. Utopia ao quadrado não resolve emergência! Essa coisa de ensinar a pescar para quem não tem condições de segurar a vara de pesca é de uma ingenuidade quase pueril! Vamos resolver a pobreza no Brasil! Vamos inventar um manual da sociedade brasileira, uma sociedade desigual, vamos? Sim. Quem começa? [silêncio] Um passo a frente quem doaria todo seu lucro para uma instituição de caridade. [silêncio] Não é para doar tudo não, gente, é só o lucro. [grilos cricrizando] Quem aqui pegaria em seu guarda-roupa tudo aquilo que não usa há mais de 6 meses e doaria? [barulho de salto alto em marcha rápida] Quem é contra a medidas emergenciais para quem está passando fome? [Eu, eu, eu!!! TODO MUNDO GRITANDO]. Ahhhhhh tá... então tá!
Ninguém faz nada, só faz sonhar; não muda nada, só faz emudecer; não combate em si mesmo o consumismo exacerbado que alimenta o lucro, que é gerado na sociedade capitalista, onde tem trabalhador explorado, não é? Na hora de utopizar formas diversas para manter uma casa dentro de uma sociedade capitalista é uma delícia. Mas se a casa fecha, vai se fazer utopia na esquina da rua! Pois eu que estou indo contra o exagero da utopia, não sou contra o sonho, o plano em si, mas na hora da fome extrema eu não como dinheiro, eu como comida [então não me mande trabalhar quando estou a ponto de desmaiar, não me mande comprar com o dinheiro que me joga na lata vazia, porque eu não consigo levantar]! Na hora que a companhia de luz corta minha energia elétrica, porque eu não tenho dinheiro nenhum para pagar a conta, eu não irei para os livros de Marx para achar uma solução; tenho que estudar Marx quando eu consigo contribuir diariamente para a desconstrução do mal geral e palpável em minha sociedade, quando eu saio pedindo de um em um moedinhas de R$ 0,05 para comprar, pelo menos, uma vassoura que limpe o lugar coletivo que frequento. Se é para revolucionar, discordar, utopizar, façamos isso nos próximos segundos, em gotas de atitude! Sou contra medidas que firam a ética, não estou defendendo, por exemplo, que se roube para matar a fome; mas falando que se você quer matar a fome de alguém, antes de lhe fazer um discurso lindo sobre o trabalho honesto de se ganhar alguns trocados em troca de carregar sacolas de supermercado, veja se o faminto não está a ponto de morrer sem ouvir o seu conselho!
Desculpas, mas o medo do exagero da utopia tomou em mim a proporção de lamento. Tendo muito a dizer, me calo. Não posso mudar a mente dos outros, só posso pedir minhas moedinhas aqui e ali para comprar vassouras. Um dia, se ainda houver um lugar para limpar até lá, eu limpo todo o salão.
{Sâmia}
Utopia demais não enche barriga, não alimenta pobres carentes, não paga conta de luz, nem limpa um salão com cadeiras. Utopia ao extremo, levada a ferro e fogo, combate o que está em voga e não propõe nova receita de bolo. Utopia ao quadrado não resolve emergência! Essa coisa de ensinar a pescar para quem não tem condições de segurar a vara de pesca é de uma ingenuidade quase pueril! Vamos resolver a pobreza no Brasil! Vamos inventar um manual da sociedade brasileira, uma sociedade desigual, vamos? Sim. Quem começa? [silêncio] Um passo a frente quem doaria todo seu lucro para uma instituição de caridade. [silêncio] Não é para doar tudo não, gente, é só o lucro. [grilos cricrizando] Quem aqui pegaria em seu guarda-roupa tudo aquilo que não usa há mais de 6 meses e doaria? [barulho de salto alto em marcha rápida] Quem é contra a medidas emergenciais para quem está passando fome? [Eu, eu, eu!!! TODO MUNDO GRITANDO]. Ahhhhhh tá... então tá!
Ninguém faz nada, só faz sonhar; não muda nada, só faz emudecer; não combate em si mesmo o consumismo exacerbado que alimenta o lucro, que é gerado na sociedade capitalista, onde tem trabalhador explorado, não é? Na hora de utopizar formas diversas para manter uma casa dentro de uma sociedade capitalista é uma delícia. Mas se a casa fecha, vai se fazer utopia na esquina da rua! Pois eu que estou indo contra o exagero da utopia, não sou contra o sonho, o plano em si, mas na hora da fome extrema eu não como dinheiro, eu como comida [então não me mande trabalhar quando estou a ponto de desmaiar, não me mande comprar com o dinheiro que me joga na lata vazia, porque eu não consigo levantar]! Na hora que a companhia de luz corta minha energia elétrica, porque eu não tenho dinheiro nenhum para pagar a conta, eu não irei para os livros de Marx para achar uma solução; tenho que estudar Marx quando eu consigo contribuir diariamente para a desconstrução do mal geral e palpável em minha sociedade, quando eu saio pedindo de um em um moedinhas de R$ 0,05 para comprar, pelo menos, uma vassoura que limpe o lugar coletivo que frequento. Se é para revolucionar, discordar, utopizar, façamos isso nos próximos segundos, em gotas de atitude! Sou contra medidas que firam a ética, não estou defendendo, por exemplo, que se roube para matar a fome; mas falando que se você quer matar a fome de alguém, antes de lhe fazer um discurso lindo sobre o trabalho honesto de se ganhar alguns trocados em troca de carregar sacolas de supermercado, veja se o faminto não está a ponto de morrer sem ouvir o seu conselho!
Desculpas, mas o medo do exagero da utopia tomou em mim a proporção de lamento. Tendo muito a dizer, me calo. Não posso mudar a mente dos outros, só posso pedir minhas moedinhas aqui e ali para comprar vassouras. Um dia, se ainda houver um lugar para limpar até lá, eu limpo todo o salão.
{Sâmia}